Home » Tumores Adrenais: Diagnóstico, Conduta e o Papel da Punção Ecoguiada

Tumores Adrenais: Diagnóstico, Conduta e o Papel da Punção Ecoguiada

Compartilhe:


Durante exame de ecoendoscopia, a imagem a seguir foi identificada na adrenal esquerda:

Diante deste achado incidental, qual seria a sua conduta?

  1. Discussão multidisciplinar
  2. Punção ecoguiada com FNA
  3. Punção ecoguiada com FNB

Afinal o que é um incidentaloma adrenal?

Os tumores adrenais — também chamados de incidentalomas adrenais quando encontrados incidentalmente — são achados cada vez mais frequentes nos exames de imagem realizados por outros motivos.

Um incidentaloma adrenal é uma massa ≥1 cm detectada incidentalmente em exames de imagem sem suspeita clínica de doença adrenal. A prevalência estimada é de cerca de 2% na população geral, podendo ultrapassar 10% acima dos 80 anos.

A glândula adrenal também é um sítio comum de metástases — especialmente de tumores de pulmão, mama, rim, melanoma e trato gastrointestinal — sendo o quarto local mais frequente de disseminação metastática. Em pacientes com câncer extra-adrenal, até 75% das massas adrenais representam metástases.

A distinção entre lesões benignas e malignas é essencial, pois define a conduta: acompanhamento, cirurgia ou quimioterapia.


Avaliação inicial e triagem hormonal

Mesmo tumores funcionais podem ser clinicamente silenciosos. Assim, todo incidentaloma deve ser avaliado bioquimicamente para descartar:

  • Feocromocitoma: dosagem de metanefrinas plasmáticas ou urinárias;
  • Hiperprodução de cortisol: teste de supressão com dexametasona (1 mg);
  • Hiperaldosteronismo primário: em pacientes hipertensos.

A exclusão de feocromocitoma é recomendada antes de qualquer biópsia da adrenal, para prevenir a precipitação de uma possível crise hipertensiva.


Diagnóstico por imagem

A tomografia computadorizada (TC) sem contraste é o exame de primeira linha.

  • Lesões benignas: homogêneas, <4 cm e com atenuação ≤10 unidades Hounsfield (UH), são consideradas adenomas e não necessitam de acompanhamento adicional.
  • Lesões suspeitas: tamanho >4 cm, heterogeneidade, UH >10, margens irregulares ou áreas de necrose e calcificação indicam maior risco de carcinoma adrenocortical (CAC).

O risco de CAC é <2% em lesões <4 cm, 6% entre 4–6 cm e ≥25% em massas ≥6 cm.

Quando a TC é inconclusiva, podem ser utilizados ressonância magnética (RM) ou tomografia por emissão de positrões (PET) com 18F-fluor-2-desoxi-D-glicose (FDG) para caracterização adicional.


Punção ecoguiada da adrenal

A biópsia da adrenal raramente é necessária, mas pode ser decisiva em casos com histórico de malignidade extra-adrenal ou quando o diagnóstico influencia diretamente o tratamento.

A punção aspirativa/biópsia ecoguiada (EUS-FNA/FNB), vem ganhando destaque pela segurança e precisão.

Vantagens da EUS-FNA/FNB:

  • Segurança: taxas de complicações próximas a 0%, comparadas a até 4% na via percutânea.
  • Alta acurácia: sensibilidade de 86%–100% e especificidade de 97%–100% para metástases.
  • Acesso anatômico favorável: a adrenal esquerda é facilmente acessível pela parede gástrica posterior, sem estruturas críticas interpostas.
  • Impacto clínico: a confirmação de metástase pode evitar cirurgias desnecessárias e direcionar o tratamento sistêmico.

A biópsia é recomendada se três critérios forem preenchidos:

  1. Exame de imagem (TC) duvidoso para lesão benigna
  2. O resultado histológico pode alterar o manejo clínico
  3. Feocromocitoma excluído

Em pacientes oncológicos, o exame é útil para confirmar metástase isolada, avaliar resposta terapêutica ou redefinir estadiamento.


Conduta e tratamento

O tratamento deve ser individualizado conforme o tipo de lesão e o perfil hormonal.

  • Lesões benignas e não funcionantes (<4 cm, ≤10 UH): geralmente não requerem intervenção nem seguimento prolongado.
  • Lesões suspeitas ou malignas: indicam adrenalectomia laparoscópica. A decisão cirúrgica deve considerar tamanho, crescimento, características radiológicas e status funcional.
  • Metástases adrenais confirmadas: podem ser tratadas com quimioterapia sistêmica ou cirurgia de ressecção em casos selecionados.

O manejo ideal é multidisciplinar, envolvendo endocrinologista, radiologista, cirurgião e endoscopista intervencionista.

Considerações finais

Os tumores adrenais exigem avaliação cuidadosa para evitar tanto cirurgias desnecessárias quanto atraso no diagnóstico de malignidades. A ecoendoscopia com FNA/FNB pode auxiliar no diagnóstico diferencial dos tumores adrenais. No entanto, só deve ser indicada após discusssão multidisciplinar e a suspeita de feocromociotoma deve ser excluído antes da punção.

Veja mais sobre outros temas: Como fazer uma punção ecoguiada transvascular? • Endoscopia Terapeutica


Referências

  1. DeWitt J, Alsatie M, LeBlanc J, McHenry L, Sherman S. Endoscopic ultrasound-guided fine-needle aspiration of left adrenal gland masses. Endoscopy. 2007;39(1):65-71. doi:10.1055/s-2006-945042
  2. Martin-Cardona A, Fernandez-Esparrach G, Subtil JC, et al. EUS-guided tissue acquisition in the study of the adrenal glands: Results of a nationwide multicenter study. PLoS One. 2019;14(6):e0216658. Published 2019 Jun 6. doi:10.1371/journal.pone.0216658
  3. Sherlock M, Scarsbrook A, Abbas A, et al. Adrenal Incidentaloma. Endocr Rev. 2020;41(6):775-820. doi:10.1210/endrev/bnaa008
  4. Kebebew E. Adrenal Incidentaloma. N Engl J Med. 2021;384(16):1542-1551. doi:10.1056/NEJMcp2031112
  5. Fassnacht M, Tsagarakis S, Terzolo M, et al. European Society of Endocrinology clinical practice guidelines on the management of adrenal incidentalomas, in collaboration with the European Network for the Study of Adrenal Tumors. Eur J Endocrinol. 2023;189(1):G1-G42. doi:10.1093/ejendo/lvad066
  6. Zhang CD, Erickson D, Levy MJ, et al. ENDOSCOPIC ULTRASOUND-GUIDED FINE-NEEDLE ASPIRATION IN THE DIAGNOSIS OF ADRENAL METASTASIS IN A HIGH-RISK POPULATION. Endocr Pract. 2017;23(12):1402-1407. doi:10.4158/EP-2017-0022
  7. Carasel A, Calissendorff J, Juhlin CC, Falhammar H. Cytological Assessment of Adrenal Tumours: Insights From 22-Years Single Centre Experience. Clin Endocrinol (Oxf). 2025;103(2):157-166. doi:10.1111/cen.15254
  8. Eloubeidi MA, Black KR, Tamhane A, Eltoum IA, Bryant A, Cerfolio RJ. A large single-center experience of EUS-guided FNA of the left and right adrenal glands: diagnostic utility and impact on patient management. Gastrointest Endosc. 2010;71(4):745-753. doi:10.1016/j.gie.2009.10.022
  9. Martinez M, LeBlanc J, Al-Haddad M, Sherman S, DeWitt J. Role of endoscopic ultrasound fine-needle aspiration evaluating adrenal gland enlargement or mass. World J Nephrol. 2014;3(3):92-100. doi:10.5527/wjn.v3.i3.92
  10. Novotny AG, Reynolds JP, Shah AA, et al. Fine-needle aspiration of adrenal lesions: A 20-year single institution experience with comparison of percutaneous and endoscopic ultrasound guided approaches. Diagn Cytopathol. 2019;47(10):986-992. doi:10.1002/dc.24261

Como citar este artigo

Mendieta PJO. Tumores Adrenais: Diagnóstico, Conduta e o Papel da Punção Ecoguiada. Endoscopia Terapeutica 2025 Vol II. Disponível em: https://endoscopiaterapeutica.net/pt/assuntosgerais/tumores-adrenais-diagnostico-conduta-e-o-papel-da-puncao-ecoguiada/

+ posts

• Estudos em Medicina em "Universidad Autónoma Gabriel René Moreno". Santa Cruz - Bolivia.
• Residência médica em Cirurgia Geral no "Hospital Universitario San Juan de Dios", Santa Cruz - Bolivia.
• Especialização em Endoscopia Avançada no Hospital das Clínicas da FMUSP.
• Fellow em Endoscopia Oncológica no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo.
• Mestre em Ciências em Gastroenterologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
• Doutorando em Ciências em Gastroenterologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.


Compartilhe:

Deixe seu comentário