A qualidade dos serviços de saúde pode ser medida através da comparação do desempenho de um indivíduo ou um grupo, com relação a um ideal ou uma referência1.
Os indicadores de qualidade podem ser divididos em 3 categorias:
- Estruturais (qualidade do endoscópio, acessórios disponíveis e estrutura hospitalar)
- Processos (desempenho durante o cuidado)
- Resultados (taxas comparativas como taxa de hemostasia primária ou eventos adversos)
Além disso os indicadores de qualidade podem ser avaliados em três tempos: pré, intra e pós-procedimento.
Pré-Procedimento:
- Guidelines de referência: os serviços de endoscopia devem possuir guidelines dos procedimentos endoscópicos seguindo as recomendações nacionais e internacionais2
- Indicação apropriada: discutir caso e indicação com equipe solicitante1
- Planejamento de sedação: escolha da melhor sedação visto quadro clínico, local para realização (sala de urgência, UTI ou centro cirúrgico)1
- Termo de consentimento: não essencial em casos de risco iminente ou se paciente impossibilitado de prestar o consentimento em situações de risco intermediário (não sendo encontrado o responsável legal)3
- Avaliação de risco: história clínica, exame físico e estabilização clínica2
- Documentação em prontuário1
- Antibioticoprofilaxia: fluoroquinolonas em cirróticos com HDA4; 5 e nas CPREs com risco de drenagem incompleta, transplantado hepático ou neutropênico5
- Drogas vasoativas (terlipressina, octreotide ou somatostatina) na suspeita de HDA varicosa6
- Inibidor de bomba de prótons (IBP) em pacientes com sangramento digestivo7
- Conferência pré-exame (time-out): confirmar paciente, história, exames e materiais disponíveis1
- Tempo para realização do procedimento: menos de 24H da admissão no PS2
Intra-Procedimento:
- Documentação fotográfica: >10 imagens8
- Monitorização do paciente: FC, saturação O2 e PA1
- Documentação do uso de agentes reversores (flumazenil e naloxona): evitar uso indiscriminado8
- Interrupção do procedimento devido à sedação: foi escolhida técnica adequada?
- Exame completo: EDA mínimo de 7 minutos entre introdução e retirada, colonoscopia > 6 minutos de retirada8; 9
- Biópsias em úlceras gástricas sem estigmas de sangramento: excluir neoplasias8
- Tipo e local de sangramento na descrição do laudo: facilitar a identificação da lesão em eventual reabordagem, bem como estimativa do risco8
- Utilização de terapia dupla nas úlceras pépticas: maior taxa de sucesso10
- Taxa de hemostasia primária: necessidade de radiologia intervencionista 1
- Tempo de fluoroscopia na CPRE: experiência é inversamente proporcional ao tempo de escopia11
Pós-Procedimento:
- Critérios de alta da unidade de endoscopia para leito de origem: score de Aldrete ≥ 8 (avalia consciência, atividade motora, respiração, PA e saturação de O2, variando a nota de 0 a 10)1
- Orientação pós-procedimento por escrito: dieta, medicamentos, retorno às atividades cotidianas e contato em caso de eventos adversos8
- Laudo detalhado, porém sucinto12; 13
- Aviso de resultado crítico: integração do endoscopista, patologista e médico solicitante2
- Eventos adversos: documentação e busca ativa2
- Taxa de sucesso clínico1
- Uso do IBP pós-hemorragia péptica1
- Pesquisa de H. pylori: plasma sanguíneo tem efeito bactericida podendo levar a falsos negativos na pesquisa durante a HDA. Se houver sangramento ativo realizar a pesquisa preferencialmente por anatomopatológico, porém se resultado negativo, realizar nova pesquisa em até 1 mês.14
- Programas de educação médica continuada: incentivo das instituições a realização de aulas, convenções, palestras e congressos
Em suma, uma endoscopia de urgência de qualidade é um exame em que os pacientes são submetidos a um procedimento com indicação adequada, onde diagnósticos relevantes são reconhecidos ou excluídos, com a terapêutica fornecida apropriada, minimizando os possíveis riscos em todas as etapas.
LEIA MAIS SOBRE ENDOSCOPIA DE URGÊNCIA:
- HDA: guia resumido de condutas desde admissão à alta hospitalar
- Proposta de Algoritmo de Atendimento da HDA
- Como tratar a úlcera péptica hemorrágica?
- Manejo endoscópico da Síndrome de Mallory Weiss
- Assuntos Gerais: Lesão de Dieulafoy
- Tratamento endoscópico de varizes de fundo gástrico
- Hemorragia digestiva média
- Manejo e Tratamento da Hemorragia Digestiva Baixa Aguda
- Ingestão de corpo estranho
Bibliografia
1 RIZK, M. K. et al. Quality indicators common to all GI endoscopic procedures. Gastrointest Endosc, v. 81, n. 1, p. 3-16, Jan 2015. ISSN 1097-6779. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25480102 >.
2 VALORI, R. et al. Performance measures for endoscopy services: A European Society of Gastrointestinal Endoscopy (ESGE) quality improvement initiative. United European Gastroenterol J, v. 7, n. 1, p. 21-44, Feb 2019. ISSN 2050-6406. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30788114 >.
3 GODINHO, A. M.; LANZIOTTI, L. H.; MORAIS, B. S. D. Termo de consentimento informado: a visão dos advogados e tribunais. Revista Brasileira de Anestesiologia, v. 60, p. 207-211, 2010. ISSN 0034-7094. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-70942010000200014&nrm=iso >.
4 CHAVEZ-TAPIA, N. C. et al. Meta-analysis: antibiotic prophylaxis for cirrhotic patients with upper gastrointestinal bleeding – an updated Cochrane review. Aliment Pharmacol Ther, v. 34, n. 5, p. 509-18, Sep 2011. ISSN 1365-2036. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21707680 >.
5 KHASHAB, M. A. et al. Antibiotic prophylaxis for GI endoscopy. Gastrointest Endosc, v. 81, n. 1, p. 81-9, Jan 2015. ISSN 1097-6779. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25442089 >.
6 DE FRANCHIS, R.; FACULTY, B. V. Expanding consensus in portal hypertension: Report of the Baveno VI Consensus Workshop: Stratifying risk and individualizing care for portal hypertension. J Hepatol, v. 63, n. 3, p. 743-52, Sep 2015. ISSN 1600-0641. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26047908 >.
7 SREEDHARAN, A. et al. Proton pump inhibitor treatment initiated prior to endoscopic diagnosis in upper gastrointestinal bleeding. Cochrane Database Syst Rev, n. 7, p. CD005415, Jul 2010. ISSN 1469-493X. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20614440 >.
8 PARK, W. G. et al. Quality indicators for EGD. Gastrointest Endosc, v. 81, n. 1, p. 17-30, Jan 2015. ISSN 1097-6779. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25480101 >.
9 KAMINSKI, M. F. et al. Performance measures for lower gastrointestinal endoscopy: a European Society of Gastrointestinal Endoscopy (ESGE) quality improvement initiative. United European Gastroenterol J, v. 5, n. 3, p. 309-334, Apr 2017. ISSN 2050-6406. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28507745 >.
10 BARACAT, F. et al. Endoscopic hemostasis for peptic ulcer bleeding: systematic review and meta-analyses of randomized controlled trials. Surg Endosc, v. 30, n. 6, p. 2155-68, 06 2016. ISSN 1432-2218. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26487199 >.
11 BARON, T. H. et al. Quality indicators for endoscopic retrograde cholangiopancreatography. Am J Gastroenterol, v. 101, n. 4, p. 892-7, Apr 2006. ISSN 0002-9270. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16635233 >.
12 AABAKKEN, L. et al. Standardized endoscopic reporting. J Gastroenterol Hepatol, v. 29, n. 2, p. 234-40, Feb 2014. ISSN 1440-1746. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24329727 >.
13 LIEBERMAN, D. et al. Standardized colonoscopy reporting and data system: report of the Quality Assurance Task Group of the National Colorectal Cancer Roundtable. Gastrointest Endosc, v. 65, n. 6, p. 757-66, May 2007. ISSN 0016-5107. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17466195 >.
14 COELHO, L. G. V. et al. IVTH BRAZILIAN CONSENSUS CONFERENCE ON HELICOBACTER PYLORI INFECTION. Arq Gastroenterol, v. 55, n. 2, p. 97-121, 2018 Apr-Jun 2018. ISSN 1678-4219. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30043876 >.
Endoscopista no Hospital Vila Nova Star, Hospital Nipo-Brasileiro, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Alta Excelência Diagnóstica e Clínica do Aparelho Digestivo.
Mestre em Gastroenterologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Especialização em Endoscopia Oncológica no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo – ICESP.
Residência médica em Endoscopia Gastrointestinal no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.