De acordo com a ASGE, é sabido que o mais importante medidor de qualidade da colonoscopia é a taxa de detecção de adenoma, que deve ser de 30% em homens e 20% nas mulheres. Essa detecção pode reduzir a incidência do câncer de intervalo.
O que pode ser feito então, para melhorar esta taxa? Melhor preparo, aparelhos com melhor imagem, tempo de retirada do aparelho e outros podem contrubuir. Mais recentemente, sugeriu-se que a mudança de decúbito possa auxiliar na melhora de detecção de pólipos. Para avaliar esta hipótese, realizou-se um estudo, publicado em outubro de 2015 na Gastrointestinal Endoscopy
Detalhes do estudo
Trata-se de estudo unicêntrico, “open study”, realizado de Março de 2012 a Fevereiro de 2014, em 130 pacientes.
Após a intubação cecal, cada segmento colônico (cólon ascendente, cólon transverso, cólon descendente, sigmóide e reto) foi examinado duas vezes durante a retirada do aparelho, uma em decúbido dorsal e outra em decúbito lateral esquerdo (cólon direito) ou decúbito lateral direito (cólon esquerdo). O cólon transverso foi examinado duas vezes em decúbito dorsal.
Foi utilizado de rotina 20mg de escopolamina IV após a intubação cecal.
Os pólipos identificados na retirada foram apenas removidos após a segunda retirada do aparelho.
Foi ainda comparada, numa escala de 1 a 5, a distensão colônica durante a retirada.
Objetivos :
- Obejetivo primário : Medir a taxa de detecção de pólipos por segmento (>= 1)
- Secundários : Taxa de detecção de adenoma e a distensão colônica.
Resultados:
Durante a inserção do aparelho foram detectados 23 (17,7%) pólipos, sendo 18 (13,8%) adenomas nos 130 pacientes. Esses dados foram excluídos das análises posteriores.
O número de pacientes com mais de um pólipo detectado em todo o cólon durante a retirada com decúbito lateral (direito ou esquerdo) foi maior que na retirada em decúbito dorsal (47/130 [36,2%] vs 38/130 [29,2%], OR 1,4; P = 0,04). Tal fato não ocorreu com a taxa de detecção de adenomas (39/130 [30%] vs 33/130 (25,4%), OR 1.3, P = 0,11).
Levando em consideração apenas o hemicólon direito, a taxa de detecção de pólipos e de adenomas foi maior em decúbito lateral esquerdo que em decúbito dorsal (34/130 [26,2%] vs 23/130 [17,7%], OR 1,6; P = 0,009 e 30/130 [23,1%] vs 21/130 [16,2%], OR 1,6; P = 0,025).
O exame do hemicólon esquerdo com o paciente em decúbito lateral direito não aumentou a taxa de detecção de pólipos ou de adenomas quando comparado ao decúbito dorsal (7/130 [5,4%] vs 6/130 [4,6%], OR 1,2; P = 0,99 e 4/130 [3,1] vs 4/130 [3,1], OR 1,0; P = 0,66, respectivamente).
Não houve diferença significante na proporção de pacientes com mais de 1 pólipo ou adenoma durante a primeira e a segunda retiradas no cólon transverso em decúbito dorsal (14 [10,8%] vs 16 [12,3%], OR 1,2; P = 0,69 e 12 [9,2%] vs 14 [10,8%], OR 1,2; P = 0,69).
O grau de insuflação do cólon foi maior no cólon direito quando em decúbito lateral esquerdo, assim como no cólon esquerdo quando o paciente encontrava-se em decúbito lateral direito.
Não houve correlação entre o grau de distensão colônica e o número de pólipos no cólon direito (r = 0,03; P = 0,69), no cólon transverso (r = 0,05; P = 0,47) ou no cólon direito (r = 0,05; P = 0,54).
Com base nos resultados, os autores puderam comprovar que:
- o exame do cólon direito na posição de decúbito lateral esquerdo aumentou a taxa de detecção de pólipos e adenomas quando comparado com o exame na posição supina.
- não houve vantagens em examinar duas vezes o cólon transverso
- não houve aumento da taxa de detecção de pólipos no cólon esquerdo com a mudança de decúbito.
Artigo original :
Veja também :
Artigo comentado – Vigilância dos pacientes com múltiplos pólipos coloretais (10-100)
Qual o impacto da divulgação pública do índice de qualidade da colonoscopia de cada endoscopista?
Artigo comentado – Qualidade da colonoscopia na Áustria independe da especialidade do endoscopista
9 Comentários
Qual a opinião de vocês em relação à cromoscopia de rotina no cólon direito, e se há aumento na taxa de detecção de adenomas?
Marcelo, não usamos cromoscopia de rotina. Os resultados na literatura sobre a taxa de detecção de adenoma são controversos. Acho q vale a pena se deter um pouco mais no cólon direito, fazendo uma segunda inspeção, mudando o decubito ou fazendo a retroflexão por exemplo. Obrigado pelo comentário.
Para maiores detalhes, vale a pena conferir esse post: https://old.endoscopiaterapeutica.net/pt/assuntosgerais/como-aumentar-sua-taxa-de-deteccao-de-adenomas/
Rafael, bom dia! Obrigado pela participação! Eu sempre inicio o exame em DLE, e, ao atingir a transição retossigmoide, coloco o paciente em DDH. Ao atingir o ângulo hepático novamente coloco o paciente em DLE para atingir o ceco/íleo terminal.
Respondendo ao Mestieri e ao Rafael: a maioria dos exames eu realizo em DLE e não costumo realizar mudança de decúbito, exceto quando encontro muita dificuldade no colon sigmoide (em geral uma angulação estreita).
Mastieri,meus parabéns pela exposição do tema em questão!Gostaria de perguntar a você e aos demais colegas,qual a posição habitual do paciente utilizada por vocês ao início da colonoscopia?!
Mestieri, parabéns pelo post ! Não utilizo de rotina a mudança de decúbito na avaliação dos segmentos colônicos, porém sempre que possível procuro fazer retrovisão no cólon ascendente e no reto. Já vi muitos colegas afirmarem por exemplo que não entram no ileo de rotina, pois tal paciente “não tem indicação”. Discordo desse argumento e acho que qq informação adicional que possamos obter durante o exame sempre é importante. Achei muito interessante o artigo e seus comentarios. Novamente, meus parabéns!
Mateus, obrigado pelo comentário!
Bruno, utilizo desde o início da minha prática a mudança de decúbito, quer para facilitar a inserção do colonoscópio quer para retirá-lo e proceder ao exame do cólon em si, principalmente durante o exame do cólon direito.
Apesar de alguns colegas advogarem que a mudança de decúbito aumenta o tempo do exame ou dificulta o mesmo (paciente muito sedado, por exemplo), a técnica deve ser tentada por todos, pois efetivamente melhora a visualização do cólon, como bem mostraram os autores do artigo.
Qual a sua prática diária?
Também acho esse um tema muito importante e podemos discutir futuramente sobre técnicas para aumentar a taxa de detecção de adenoma, que é o indicador mais importante de qualidade em colonoscopia.
Mestieri, você utiliza mudanças de decubito ou planeja alguma mudança de rotina após os resultados deste artigo?
Caro Mestieri, parabéns pelo post, esse tema é muito interessante. A despeito do surgimento de novas tecnologias, a mudança de decúbito do paciente permanece como uma manobra que pode ser útil tanto para detecção como para ressecção de lesões.