Paciente masculino, 36 anos, previamente hígido, com história de uso de AINEs devido a dor muscular há 7 dias. Relata também, que há dois dias fez uso de pequena quantidade (sic) de bebida alcoólica (vinho), tendo apresentado episódios de vômitos. Ao ser indagado sobre hematêmese, o mesmo nega que tenha apresentado algo que lhe chamasse atenção e refere ter vomitado apenas vinho. Deu entrada no serviço queixando-se de dor epigástrica de leve intensidade. Ao exame físico : BEG, corado, hidratado, anictérico e afebril. Abdome inocente apesar da discreta dor à palpação do epigástrio.
Qual sua hipótese?
Doutorado pelo Depto. de Gastroenterologia da Faculdade de Medicina da USP
Especialização em Motilidade Digestiva pelo Depto. de Gastroenterologia da Faculdade de Medicina da USP
Médico do Serviço de Endoscopia Digestiva do Hospital Israelita Albert Einstein
Médico do Serviço de Endoscopia Digestiva do Hospital Alemão Oswaldo Cruz
2 Comentários
Olá, Matheus. Boa pergunta. Os stents metálicos auto-expansíveis (SEMS) têm sido utilizados para tratar perfurações esofágicas. Porém, os pacientes candidatos para essa abordagem terapêutica devem estar hemodinamicamente estáveis e não podem ter perfuração não bloqueada. No caso acima, o paciente apresentava mais de 48 hrs de evolução e não havia qualquer sinal de peritonite ou mesmo repercussão hemodinâmica. Optamos pela passagem de uma endoprótese totalmente recoberta de 15 cms de extensão e 23 mm de diâmetro. O paciente realizou ainda a lavagem do mediastino por toracoscopia seguida de drenagem torácica bilateral. Foi mantido com nutrição parenteral e antibióticoterapia de largo espectro. Após 5 dias realizamos um esofagograma onde não se evidenciou extravazamento do meio de contraste, portanto indicando que a perfuração estava selada. Foi iniciado então, dieta líquida via oral. Com a melhora clínica progredimos a dieta até a sólida. A prótese foi retirada, sem intercorrências, após 6 semanas . Paciente evoluiu bem, sem sequelas.
A terapia endoscópica para a síndrome de Boerhaave não foi diretamente comparada com a cirurgia em estudos randomizados, mas estudos observacionais sugerem que uma proporção significativa de pacientes tratados com terapia endoscópica requerem reintervenção. Mesmo assim, a endoscopia vem desempenhando papel fundamental nesses pacientes.
Um estudo retrospectivo (Endoscopic stent insertion versus primary operative management for spontaneous rupture of the esophagus (Boerhaave syndrome): an international study comparing the outcome. Am Surg 2013; 79:634.), comparou os desfechos clínicos em 20 pacientes submetidos à cirurgia com 13 pacientes submetidos a endoprótese endoscópica para o tratamento da síndrome de Boerhaave. Neste estudo, não houve diferença na morbidade ou no tempo de permanência na unidade de terapia intensiva / internação hospitalar.
Renzo, você acredita que a endoscopia tem espaço no tratamento destes pacientes? Se sim, quais poderiam ser as opções?
Parabéns pelo caso. Abraço