Os procedimentos de endoscopia são realizados sob sedação venosa, salvo raras exceções, com uma série de recomendações a respeito da segurança do paciente durante a sedação (clique aqui para Sete passos para anestesia segura em procedimentos endoscópicos). E o que acontece depois do exame? Após a sedação, como avaliar objetivamente quando o paciente está realmente apto a sair da sala de exame e do consultório?
Foram desenvolvidas algumas escalas para avaliar parâmetros clínicos do paciente que permitam liberar o mesmo com segurança após anestesia, seja ela local, loco-regional, sedação ou anestesia geral.
A escala de Aldrete e Kroulik foi desenvolvida em 1970 com o objetivo de determinar condições de alta após anestesia através da avaliação de cinco parâmetros simples: atividade motora, respiração, nível de consciência, pressão arterial e coloração da pele/leito ungueal (avaliação de hipoxemia). Em 1995 os mesmos autores modificaram a escala substituindo a avaliação subjetiva de hipoxemia por dados da oximetria de pulso. Vide critérios a seguir:
- Atividade motora
Movimenta os quatro membros – 2 pontos
Movimenta dois membros – 1 ponto
Não move os membros – 0 pontos - Respiração
Capaz de respirar profundamente – 2 pontos
Dispneia / limitação à respiração – 1 ponto
Apneia – 0 pontos - Nível de consciência
Completamente acordado – 2 pontos
Desperta ao chamado – 1 ponto
Não responde – 0 pontos - Circulação – pressão arterial
Pressão arterial (PA) até 20% do nível pré-anestésico – 2 pontos
PA em 20-49% do nível pré anestésico – 1 ponto
PA em 50% nível pré anestésico – 0 pontos - Saturação de oxigênio
Mantém saturação de oxigênio (SO2) > 92% em ar ambiente – 2 pontos
Mantém SO2 >90% com oxigênio suplementar – 1 ponto
Mantém SO2 <90% com oxigênio suplementar – 0 pontos
Cada parâmetro avaliado varia de 0 a 2 pontos, totalizando uma pontuação máxima de 10 na escala, sendo considerado como critério de alta um escore de 9 ou 10. Pacientes que estão com pontuação de 8 ou menos precisam de maior monitorização e possivelmente cuidados, intervenções de acordo com a necessidade como uso de cateter de oxigênio, expansão volêmica, drogas vasopressoras, uso de antagonistas como flumazenil.
A escala é objetiva, envolvendo parâmetros facilmente mensuráveis, rápida, sem trazer gastos, sendo utilizada regularmente nas salas de recuperação anestésica para determinar critérios de alta após sedação ou anestesia geral. Embora a escala possa ser aplicada por qualquer profissional de saúde que receba treinamento, a interpretação e tomada de decisão sobre a alta do paciente é de responsabilidade do médico.
Foi criada também a Escala de Aldrete para procedimentos ambulatoriais incluindo todos os cinco parâmetros da escala modificada e adicionando outros quatro parâmetros: sangramento (aspecto curativo), deambulação, alimentação, micção espontânea. O paciente é considerado apto para alta quando atinge um escore de 18 ou mais nesta escala.
- Atividade motora
Movimenta os quatro membros – 2 pontos
Movimenta dois membros – 1 ponto
Não move os membros – 0 pontos - Respiração
Capaz de respirar profundamente – 2 pontos
Dispneia / limitação à respiração – 1 ponto
Apneia – 0 pontos - Nível de consciência
Completamente acordado – 2 pontos
Desperta ao chamado – 1 ponto
Não responde – 0 pontos - Circulação – pressão arterial
Pressão arterial (PA) até 20% do nível pré-anestésico – 2 pontos
PA em 20-49% do nível pré anestésico – 1 ponto
PA em 50% nível pré anestésico – 0 pontos - Saturação de oxigênio
Mantém saturação de oxigênio (SO2) > 92% em ar ambiente – 2 pontos
Mantém SO2 >90% com oxigênio suplementar – 1 ponto
Mantém SO2 <90% com oxigênio suplementar – 0 pontos - Curativo
Limpo e seco – 2 pontos
Molhado porém sem expandir – 1 ponto
Molhado, expandindo – 0 pontos - Deambulação
Fica em pé e anda em linha reta – 2 pontos
Tontura quando em pé – 1 ponto
Tontura em posição supina – 0 pontos - Alimentação
Apto a tomar líquidos – 2 pontos
Nauseado – 1 ponto
Vômitos – 0 pontos - Micção espontânea
É capaz de urinar – 2 pontos
Não urina mas está confortável – 1 ponto
Não urina e sente desconforto – 0 pontos
Uma outra escala também é muito utilizada para avaliar a alta do paciente é a Modified Post-Anaesthetic Discharge Scoring System (MPADSS) que se destaca por incluir a avaliação da dor nos critérios de alta.
- Sinais vitais
Frequência cardíaca e pressão arterial variando até 20% do nível pré-anestésico – 2
Frequência cardíaca e pressão arterial entre 20% e 40% do nível pré-anestésico – 1
Frequência cardíaca e pressão arterial com mais de 40% do nível pré-anestésico – 0 - Atividade
Marcha adequada, sem tonturas ou nível similar ao pré anestésico – 2
Necessita de assistência para deambular – 1
Não deambula – 0 - Náuseas e vômitos
Sem queixas/ queixas mínimas controladas com medicação oral -2
Queixa moderada tratada com medicação venosa – 1
Queixas intensas ou contínuas apesar do tratamento – 0 - Dor
Ausente ou mínima (escala visual analógica [VAS] =0-3) – 2
Moderada (VAS= 4-6) – 1
Intensa (VAS= 7-10) – 0 - Sangramento
Ausente ou mínimo – 2
Moderado (1 episódio de hematêmese ou sangramento retal) – 1
Severo (2 ou mais episódios de hematêmese ou sangramento retal) – 0
Nesta escala o paciente é considerado apto para alta quando atinge escore igual ou superior a 9 em duas medidas consecutivas.
Foi realizada uma comparação entre a escala de Aldrete modificada e a MPADSS em publicação envolvendo 120 pacientes em cada grupo, em pacientes submetidos a endoscopia ambulatorial sob sedação venosa. Houve maior percentagem de pacientes considerados recuperados dentro da primeira hora pós sedação no grupo avaliado pela escala de Aldrete (42,5% vs 25%, p<0,01) embora a taxa de pacientes com sonolência no momento da alta tenha sido maior (19,1% vs 5%, p<0,01); não houve diferença significativa na taxa de efeitos adversos nas primeiras 24h entre ambos grupos.
É importante respeitar todas as etapas para a realização de uma endoscopia segura, não esquecendo da relevância em avaliar as condições de alta do paciente, algo que se torna mais fácil com auxílio de escalas objetivas como as citadas.
Referências
- Yamaguchi D, Morisaki T, Sakata Y, Mizuta Y, Nagatsuma G, Inoue S, Shimakura A, Jubashi A, Takeuchi Y, Ikeda K, Tanaka Y, Yoshioka W, Hino N, Ario K, Tsunada S, Esaki M. Usefulness of discharge standards in outpatients undergoing sedative endoscopy: a propensity score-matched study of the modified post-anesthetic discharge scoring system and the modified Aldrete score. BMC Gastroenterol. 2022 Nov 4;22(1):445.
- Trevisani L, Cifalà V, Gilli G, Matarese V, Zelante A, Sartori S. Post-Anaesthetic Discharge Scoring System to assess patient recovery and discharge after colonoscopy. World J Gastrointest Endosc. 2013 Oct 16;5(10):502-7.
- Oliveira Filho GR. Rotinas de cuidados pós-anestésicos de anestesiologistas brasileiros [Postanesthetic routines of Brazilian anesthesiologists]. Rev Bras Anestesiol. 2003 Aug;53(4):518-34.
Como citar este artigo
Ferreira F. Você já ouviu falar sobre a Escala de Aldrete? Endoscopia Terapeutica, 2024 vol II. Disponível em: https://endoscopiaterapeutica.net/pt/uncategorized/voce-ja-ouviu-falar-sobre-a-escala-de-aldrete/
Membro Titular da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (SOBED);
Especialização em Endoscopia Digestiva na Universidade de São Paulo (USP);
Mestrado em Cirurgia na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE);
Médico endoscopista da NeoGastro (PE);
Coordenador do Serviço de Endoscopia Digestiva do Hospital Otávio de Freitas (PE)