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Diagnóstico endoscópico da Doença Celíaca

por Admin
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             A doença celíaca (DC) é uma afecção crônica, autoimune, sistêmica, deflagrada e mantida pelo glúten, em indivíduos geneticamente predispostos. Caracteriza-se por uma variável combinação de haplótipos HLA DQ2 e/ou HLA DQ8, produção de auto anticorpos e enteropatia. A inflamação persistente da mucosa do intestino delgado causa lesões identificáveis pela endoscopia digestiva alta (EDA) e pela histopatologia.

Embora sejam descritas alterações da mucosa duodenal sugestivas de DC à EDA convencional, são poucos os médicos que as conhecem. Há, portanto, necessidade de maior divulgação delas entre os endoscopistas. Além disso, o uso de corantes e magnificação de imagem não são rotineiros e pouco se divulga sua utilidade para um diagnóstico correto. Como são escassos os trabalhos sobre o assunto, acredita-se que uma classificação endoscópica detalhada das alterações poderá facilitar o entendimento e sua reprodutibilidade e padronizar os achados, seja em relação ao diagnóstico ou em relação à intensidade e extensão da doença. Sob outra acepção, uma comparação entre os aspectos endoscópicos e histopatológicos concederá ao médico uma posição mais segura da repercussão do glúten sobre a mucosa intestinal. Tais resultados são úteis, para avaliar a gravidade ao diagnóstico da DC como para o monitoramento de Dieta isenta do glúten.

A inflamação persistente da mucosa do intestino delgado na DC causa atrofia, deformando as vilosidades com extensão variável, identificadas pela endoscopia digestiva alta (EDA). Os marcadores endoscópicos clássicos configuram-se perdas das pregas de Kerkring, pregas denteadas, fissuras entre as vilosidades, aglutinações que dão o aspecto em mosaico, vasos submucosais visíveis, e micro nódulos, descritos por Brocchi et al. (1988) e Jabbari et al. (1989). Estes marcadores podem ser melhor identificados na EDA com o uso da cromoendoscopia utilizando o índigo carmim, que é instilado sobre a mucosa intestinal mesmo com aparelhos convencionais, melhorando a acurácia na identificação destes marcadores chegando em até 91% (CAMMAROTA, et al., 2009).

 

MB FIGURA 1

Figura 1. (Clique na imagem para ampliar) EDA: cromoendoscopia com índigo carmin na segunda porção do duodeno: a) diminuição das pregas de Kerkring; b) pregas denteadas; c) fissuras; d) nódulos e e) aspecto em mosaico.

 

Proposta de uma classificação baseada no aspecto duodenal em MOSAICO:

 

EDA Tipo 0: vilosidades com formas digitiformes algum foliáceo aspecto regular e contínuo correspondendo ao Tipo 0 pré infiltrativo da classificação de Marsh.

EDA Tipo I: vilosidades na maioria regulares com alguns focos de aglutinação sem formar aspecto em mosaico, correspondendo ao Tipo 1 infiltrativo da classificação de Marsh.

EDA Tipo II: Vilosidades aglutinadas formando aspecto em mosaico com vilosidades ainda visíveis, correspondendo ao Tipo 2 infiltrativo hiperplásico da classificação de Marsh.

EDA Tipo III: Ausência de vilosidades com formação em mosaico, correspondendo aos Tipos 3 e 4 pois a superfície duodenal é semelhante na endoscopia, destrutivo plano (Tipo 3) e hiperplásico atrófico (Tipo 4) da classificação de Marsh.

 

MB FIGURA 2

Figura 2. (Clique para ampliar) Comparação  endoscópica com cromoscopia e magnificação da imagem duodenal  x   histopatologia de Marsh (1992).

 

MB FIGURA 4

Figura 3. (Clique para ampliar) Classificação proposta pelo autor com imagens em luz branca, cromoscopia com índigo carmin, magnificação de imagem e correlação histológica.

 

Algoritmo proposto associando a EDA e a histopatologia de Marsh (1992) em pacientes com DC

MB FIGURA 3

(Clique na imagem para ampliar)

A classificação proposta pretende diminuir as diferenças no diagnóstico endoscópico e histopatológico da DC, auxiliando a monitoração após a dieta isenta de glúten. Além disso, pretende  divulgar entre os médicos endoscopistas, um algoritmo padronizado que estimule a avaliação duodenal mais detalhada, utilizando cromoendoscopia nos casos suspeitos e, dessa forma, diminuir o índice de pacientes portadores desta afecção não diagnosticados.

 

O autor

O Dr Mauro W Bonatto é um entusiasta da cromoendoscopia e magnificação de imagem nos pacientes com doença celíaca. Esta classificação foi apresentada como tese de Doutorado, defendida este ano (2015) na Pontifícia Universidade Católica do Paraná.

 

Referências

BROCCHI, E., CORAZZA, G. R., CALETTI, G., et al. Endoscopic demonstration of loss of duodenal folds in the diagnosis of celiac disease. New England Journal Medical. 319(12):741-4. 1988.

CAMMAROTA, G., FEDELI P., GASBARRINI A. Emerging technologies in upper gastrointestinal endoscopy and celiac disease. Nature clinical practice. Gastroenterology & Hepatology. 6:47-56. 2009.

JABBARI, M., WILD, G., GORESKY, C. A., et al. Scalloped valvulae conniventes: an endoscopic marker of celiac sprue. Gastroenterology. 95:1518-22. 1989.

MARSH, M. N. Gluten, major histocompatibility complex, and the small intestine. A molecular and immunobiologic approach to the spectrum of gluten sensitivity (‘celiac sprue’). Gastroenterology. 102:330-54. 1992.

 

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capa MB


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5 Comentários

bonatto78 01/10/2015 - 10:02 am

Alguns trabalhos sugerem biopsia do bulbo duodenal associada, mas pode confundir o patologista pois as vilosidades sao mais curtas, pode ser realizadoo mas é controvertido, pessoalmente nao vi DC somente bulbar. A preferencia na maioria dos estudos é a segunda porçao duodenal.

victor cavaretti 01/10/2015 - 8:58 am

Mauro excelente revisão!
Alguns artigos sugerem que a biópsia do bulbo duodenal é mais sensível para o diagnóstico que a segunda porção. Você concorda?
Oque você sugere de dieta aos pacientes antes da realização da endoscopia?

Ivan Orso 30/09/2015 - 5:20 pm

Mauro, parabéns pelo trabalho. Além das biópsias da segunda porção, existe alguma indicação para biopsiar o bulbo ou terceira porção duodenal?

Mauro W Bonatto 30/09/2015 - 5:03 pm

Obrigado, muitos diagnósticos fazemos por acaso em exames de rotina. O que devemos é ter um pouco de paciência em observar pequenas falhas da mucosa , que são os marcadores descritos no artigo. Na dúvida instilamos índico carmin a 0,5% e biopsiados os locais suspeitos, 4 a 6 biópsias são suficientes para avaliação mais completa. Utilizo uma grade de linhas horizontais e verticais, classifico Tipo 0 a III coloco os fragmentos em cada local, classificado os dando a porcentagem de cada graduação se houver assimetria (graus variados). Se a Alteração for contínua 4 fragmentos são suficientes. Abç

Bruno Martins 30/09/2015 - 1:14 pm

Excelente revisão Mauro! Frequentemente recebemos pedidos de endoscopia com biópsia da segunda porção duodenal em pacientes com suspeita clínica de doença celíaca, mas o aspecto endoscópico aparentemente é normal. Vale a pena a biópsia aleatória nestes casos? Como você costuma conduzir? Onde biopsiar?

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