Um dos grandes fatores que medem um serviço de endoscopia é a satisfação do paciente. E este quesito muitas vezes se refere apenas ao conforto durante a sedação. A maioria dos pacientes não vai entender se o laudo foi bem elaborado, se as fotos do exame são de qualidade, vão confiar que a higienização dos materiais e a qualidade dos aparelhos sejam as melhores, porém, o que vai determinar que este paciente retorne , ou indique o seu serviço, é a qualidade da sedação. Aprendemos, em programas de residência de qualidade, que a maioria dos pacientes não quer ver ou lembrar do momento da realização do exame. Para tal, uma boa sedação, que possa aliviar a ansiedade, proporcionar boa analgesia, se possível com amnésia anterógrada, e principalmente a hipnose, é fundamental. A pronta recuperação também é outro fator importante para o paciente, já que várias drogas podem causar sonolência durante todo o dia, ou reações de náuseas , mal estar e vômitos.
Aqui, você pode encontrar uma ótima revisão sobre os passos para uma boa sedação.
Neste contexto, tem ganhado força o uso do propofol. Uma substância hipnótica poderosa, de ação rápida e meia vida curta, que, combinado com uso de doses menores de outros sedativos (como benzodiazepínicos e opiáceos), gera uma sedação de qualidade, com poucos efeitos colaterais. Porém seu uso indiscriminado no Brasil ainda não é permitido, por orientação do Conselho Federal de Medicina, estando seu uso restrito a anestesista, ou em locais com mais de um médico durante o procedimento.
Neste estudo (“Sedation in gastrointestinal endoscopy: a prospective study comparing nonanesthesiologist-administered propofol and monitored anesthesia care”), publicado pela Endoscopy Internacional Open, em fevereiro de 2015, os autores comparam dois grupos de pacientes, um onde foi administrado propofol e outros medicamentos pelo endoscopista – GRUPO NA (na presença, mas sem intervenção, do anestesista), e outro grupo, o GRUPO A, onde a sedação era realizada pelo anestesistas. As dosagens inicias de medicação (0,5 mg/kg de propofol), dosagens subsequentes (incrementos de 10 a 20 mg a cada 2 minutos), e uso ou não de fentanil foram semelhantes nos dois grupos.
Alguns pontos foram escolhidos para análise:
- Tipo e dosagem de drogas utilizadas
- Nível de sedação
- Saturação mínima de oxigênio
- Pressão arterial média
- Duração do procedimento endoscópico
- Duração da sedação/anestesia
- Complicações
- Medidas para tratamento das complicações.
Mil pacientes foram alocados em cada grupo (podendo ter realizado endoscopia , colonoscopia ou ambos), a maioria com risco cirúrgico ASA I ou II.
Como resultados de destaque para os exames de endoscopia digestiva alta temos: maior número de pacientes que atingiram sedação profunda no GRUPO A (cerca de 85 % vs 45%), tempo de sedação e de procedimento mais curto para o GRUPO A, e maior número de episódios de agitação e “acordar durante o exame ” no GRUPO A. Não houve diferença entre os dois grupos para os demais parâmetros.
Para os exames de colonoscopia temos: duração maior do procedimento para os pacientes do GRUPO A (22 vs 17 minutos em média), e maior número de pacientes com queda de pressão (maior que 20%), agitação e “acordar durante o exame ” para o GRUPO A.
Para os procedimento de endoscopia e colonoscopia durante a mesma sedação, temos que os tempos de procedimento e de sedação foram menores para o GRUPO A.
Em todos os exames não houve diferença estatística entre os grupos para episódios de queda de saturação, e necessidade de manobras de ventilação (que foram maiores no GRUPO A).
Todos os pacientes ficaram satisfeitos com a sedação e repetiriam o exame.
Este estudo nacional, realizado em um grande hospital privado, mostra a segurança do uso de sedação com propofol. A literatura tem mostrado vários trabalhos onde a infusão de propofol, controlada por enfermeira treinada, mostrou-se segura.
Porém a sociedade americana de anestesia classifica o propofol como droga que pode levar a sedação profunda, portanto, deve ser administrada por profissional anestesista. No Brasil, resolução do CFM diz que procedimentos com sedação profunda devem ser realizados por dois médicos, sendo que um deles não estará realizando o exame e deve ser treinado em manobras de ressuscitação.
Estas duas resoluções, uma em nível mundial e outra em nível nacional, são antigas e anteriores ao novos estudos, e acabam não possibilitando que a maioria das clínicas possa ter acesso a uma sedação de maior qualidade e conforto, tanto para o paciente, como para a equipe médica.
Fica claro que novos estudos devem ser realizados, para também demonstrarem a segurança do uso do propofol por profissionais não médicos, cabendo aos conselhos estaduais e as sociedades de especialistas fiscalizarem as clínicas, com identificação daquelas que têm material humano (especialista em endoscopia), técnico (materiais de emergência, desfibriladores, drogas, materiais de via aérea e etc) e condições físicas (acesso fácil a macas, remoção por ambulâncias, serviço hospitalar de referência) para atendimento em situações de urgência.
Para pacientes de baixo risco, em procedimentos diagnósticos ou terapêuticos simples, o uso de propofol parece ser adequado e seguro. Vale lembrar que geralmente os endoscopistas tendem a usar doses menores de sedativos que os anestesistas, aumentando o perfil de segurança da medicação. Por fim, para pacientes graves, procedimentos longos, ou crianças, é indispensável a presença do anestesista.
Artigo original (open acces):
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7 Passos para Anestesia Segura em Procedimentos Endoscópicos
Artigo comentado – Sedação ou anestesia para colocação/retirada de balão ?
Doutor em Gastroenterologia pela FM-USP.
Especialista em Cirurgia do Aparelho Digestivo (HCFMUSP), Endoscopia Digestiva (SOBED) e Gastroenterologia (FBG).
Professor do curso de Medicina da Fundação Educacional do Município de Assis - FEMA.
Médico da clínica Gastrosaúde de Marília.
32 Comentários
Ótima discursão!
Estamos em Vitória-ES, exatamente discutindo esse tema.
Ao meu ver, como endoscopista digestivo sócio da SOBED, ASGE, FBG, há 32 anos, venho me interessando cada vez mais por esse tema.
Ao longo deste período, pratiquei a sedação consciente em todos os pacientes, tanto em exames diagnósticos altos e colonoscopias, como nos procedimentos intervencionistas.
Confesso que nos últimos 2 anos venho experimentando a presença do profissional Anestesista em minha clinica.
Por causa disso, costumo dizer que sai do inferno e fui para o céu, tamanha a tranquilidade q passei a ter em meus procedimentos, bem como a segurança r a satisfação do paciente!
Posso garantir isso para quem quiser..
Não se trata de nenhum trabalho publicado e sim da minha experiência própria.
Portanto, tirar o Anestesista da minha sala, somente pode ter um significado:
ECONOMIA.
Parabéns pelo blog, estamos num momento singular do nosso país , nunca antes a Saúde Pública foi tão deixada de lado , e por outro lado , a Saúde Suplementar enfrenta uma crise muito grave com alta sinistralidade das operadoras de Saúde . Causas ? Multifatoriais , mas com certeza a má Gestão permeia este cenário .
Portanto , em casa que falta comida , todos gritam e todos têm razão !
Mas devemos estar atentos às questões mais importantes da nossa profissão , trabalhar e submeter nossos pacientes ao nível mais elevado de Segurança .
Neste contexto a baliza e métrica são os documentos do CFM , eles definem o princípio , e dentro deste preceito , não devemos transgredir .
A SBA e s SOBED estão discutindo a proposta de uma nova Diretriz , estamos no início dos trabalhos , mas o sarrafo , deve ser as Normas do CFM .
Enis D Silva , Diretor de Defesa Profissional da SBA
Sou anestesiologista. Parabéns pelo Post. Gostaria de saber se existe recomendações da SOBED para sedação em ambiente ambulatorial e hospitalar sem a presença de anestesiologista. ou em quais pacientes o endoscopista necessita participação do anestesiologista. Existe alguma diretriz, protocolo ou recomendação da SOBED?
Ola Ismael, bem vindo a discussão. Gostariamos muito de uma maior participação dos anestesistas nesta discussão. As recomendações da Sobed, seguem em verdade as resosuloções do CFM, que orienta que sedação profunda deve ser realizado por outro profissional (http://sobed.org.br/wp-content/uploads/2013/11/1670.pdf) que não está realizando o exame.
A tendência é indicar a presença de anestesista nos casos de maior gravidade (idosos, ASA 3 e 4, obesos, tendência a procedimentos longos e etc), sendo que nestes casos, a escolha do local de realização do exame e tipo de sedação/anestesia a ser utilizado é de competência exclusiva do anestesista.
Está ocorrendo o comgresso brasileiro de anestesia, esperamos que esse seja um tópico de discussão !
Boa tarde!
Como a maioria dos colegas endoscopistas aqui, fui treinado não só para realizar a sedação, mas também suas complicações. Desse modo, creio que as normas precisam sim ser revistas, e, desde que bem treinado, o endoscopista tenha autorização para utilizar o propofol.
Vejo, na prática diária, que o propofol é droga SEGURA, desde que usada com conhecimento adequado e bom senso.
Ainda assim, prefiro o colega anestesiologista ao lado, para, como disse o Baretta, segurança minha e do paciente. Infelizmente isso não é possível nos locais onde trabalho. E aí, como faremos?
Parabéns pelo post de altíssima qualidade e pela discussão que ele causou!
Prefiro sempre o anestesista ao meu lado por segurança e respaldo legal. Trabalho em um hospital centro de excelência em bariátrica e não abro mão de ter eles ao meu lado e ao lado de cada paciente!!!!
Parabéns pelo post de alto nível e de alta qualidade, bem como todo o site!!!!
Parabéns Guilherme. Medicina padrão e de alto nível sempre, e sem contar que deve ser sempre respaldada legalmente!!!!
Show de bola!!!!
Boa Tarde,
Sou médico Anestesiologista especializado em Exames e Procedimentos Endoscópicos. Inicialmente quero dizer que esta discussão é muito oportuna. Afinal a Medicina Brasileira tem pacientes cada vez mais exigentes, idosos, obesos e consciente dos direitos.Deste modo, seria absolutamente natural que os Endoscopistas se resguardassem através de medidas que acrescentassem ganho de qualidade e segurança aos seus Exames e Procedimentos Endoscópicos.
E é exatamente por isso que com muita estranheza leio uma opinião científica sobre a “Desnecessidade do profissional Anestesiologista e a Redução dos Custos Comerciais das Clínicas de Endoscopias”, sugestão de título alternativo da seu artigo. Mas voltando ao conteúdo do trabalho. Não sei com qual tipo de profissional anestesiologista foi feito o trabalho, talvez por Enfermeiras Especializadas, mas os seus números são extremamente suspeitos. Eu trabalho há 15 anos realizando sedação profunda para de 50 a 60 exames endoscópicos por semana. Utilizo Fentanil 50 a 100 mcg e Propofol em dosagem generosa, cerca 150 a 300 mg por procedimento. Lhe garanto que meus pacientes não se agitam, aliás se quer se mexem durante o exame. Nenhum deles. Outrossim, acrescento que durante este meu período de prática nunca precisei intubar um único paciente. Não é só questão de saber sedar, é de prever, estudar e resolver todas as complicações.
Parabéns pelo trabalho e discussão !!!
Caro Gustavo,
Muito obrigado por você como um dos autores ter nos dado sua opinião sobre este tema.
Enriqueceu bastante a discussão.
Parabéns pelo artigo, com metodologia sólida que mostrou resultados expressivos.
Abraço.
Excelente comentário Gustavo. Fantástica discussão com argumentos lógicos e baseados em evidência. Seria muito interessante que as opiniões contrárias mantivessem esse padrão de opinião. Todos ganharíamos. Parabéns pelo site e post.
Quando o resultado da anestesia é bom… Tudo bem para todos: paciente, endoscopista e Anestesiologista. Mas já pensaram quando ocorre apneia, cianose e se avaliou superficialmente a possibilidade de uma via aérea difícil? O endoscopista com sua enfermeira atendendo esta intercorrencia… Desejo de coração que novamente um bom desfecho para esta “sedação tão segura” com propofol, num cenário bem provável.
Reescrevam os efeitos adversos do propofol, infelizmente este hipnótico não põe apenas o paciente para dormir. Reescrevam as normas de segurança para a anestesia ambulatorial e a sedação moderada.
NÃO É LEGAL o mesmo medico que manipula o endoscopio, assumir os cuidados da prescrição de um anestésico tão potente como o propofol e ao mesmo tempo ser o único responsável por manter a via aérea pérvia do paciente.
Sinto muito mas sua justificativa não procede pois, pergunto qual Anestesiologista não é familiarizado com as rotinas de exames e procedimentos em que trabalha?
Novamente pergunto qual Endoscopista é familiarizado com farmacocinética e farmacodinâmica e interação medicamentosa na mesma proporção?
Sua justificativa ao meu ponto se vista, totalmente educado, visa um objetivo apenas econômico e com menos segurança….tendo um resultado tão tendencioso que chega a desconfiança da veracidade dos fatos!!!
Caros colegas,
boa tarde. Em primeiro lugar, agradeço à equipe do site pela escolha do meu trabalho para discussão. Gostaria de comentar algumas das opiniões publicadas acima.
Em primeiro lugar, é bom deixar claro que esse trabalho não visou eliminar o anestesiologista do serviço de endoscopia. Sou um grande defensor da presença desse profissional em nossos serviços. Eles estão treinados (e habilitados) a sedarem praticamente todos os tipos de pacientes (ASA I a ASA IV). São eles que nos ajudam nos momentos mais críticos e nos casos mais difíceis. Seria perfeito se pudéssemos contar com a presença de um anestesiologista para todos os nossos procedimentos. Infelizmente, essa não é a realidade. Nem no Brasil e nem em diversas outras partes do mundo.
Ter um anestesiologista à disposição do endoscopista para todos os exames é uma situação que acarreta um custo muito elevado, muitas vezes inviabilizando a sobrevivência dos serviços de endoscopia. Assim, é fundamental definir quais pacientes realmente precisam de um acompanhamento anestesiológico e quais podem ser sedados pelo endoscopista. A classificação da ASA ajuda nessa escolha mas uma avaliação médica pré-exame é fundamental.
Em nosso estudo, todos os pacientes foram avaliados pelos endoscopistas ou pelos anestesiologistas antes de serem sedados e somente aqueles que não apresentavam comorbidades significativas (ASA I ou ASA II) entraram no estudo. Em conformidade com as normas do hospital (e do bom senso), todos os endoscopistas foram treinados em sedação, reanimação e ressuscitação. Todas as salas de exame estavam equipadas com monitores, aparelhos de anestesiologia, laringoscópios, cânulas etc. Toda a equipe envolvida (enfermeiros, técnicos de enfermagem etc) também tiveram treinamento apropriado. Atendendo às normas do CFM, dois médicos estavam presentes em todos os exames, durante todo tempo da sedação.
Os resultados mostram que, nas condições do estudo, para pacientes hígidos (ASA I e ASA II), a sedação pelo endoscopista é segura. Extrapolar esses resultados para clínicas ou profissionais não preparados seria, no mínimo, um risco.
Com relação ao infeliz comentário do colega que diz que o estudo está “furado”, gostaria de lembrar que, para ser aprovado, ele passou pela revisão de diversos pares internacionais, todos com ampla experiência em endoscopia e em trabalhos científicos. Antes de criticar um artigo, seria mais educado perguntar o que aconteceu ou buscar explicações para os dados. No grupo da sedação com anestesiologias, o nível da sedação foi mais profundo sim. Entretanto, mais pacientes despertaram durante o exame. Isso acontece por um simples fato. Por desconhecer a dinâmica do procedimento, os anestesiologistas, muitas vezes, injetam doses mais elevadas de anestésico de forma intermitente, sem perguntarem aos endoscopistas como está a situação. Isso acaba levando a níveis mais profundos de sedação. Da mesma forma, por desconhecerem se a duração do exame, acabam não mantendo uma injeção contínua da droga, deixando para injetar novamente quando os pacientes começam a se mexer. Por isso, nesse grupo, houve mais despertar durante o exame. O endoscopista, por saber quando o paciente sentirá dor ou quando o exame está mais próximo do final, consegue manter uma sedação mais homogênea.
Concordo que essa discussão está apenas começando, tanto aqui como em outros países. As resistências serão grandes mas, com mais trabalhos mostrando a segurança do uso do propofol pelos endoscopistas, o cenário pode mudar, sempre considerando a segurança e o bem estar de nossos pacientes. Quanto mais profissionais capacitados tivermos em nossos serviços de endoscopia, melhor para todos.
A polêmica de quais profissionais podem usar o Propofol nas suas intervenções já ultrapassa ao meu ver os limites dos que se acham os donos do mesmo. Se milhares de endoscopistas manipulam outras drogas sedativas e os estudos mostram que ser o Propofol seguro, porque não ser incluído nesta lista? Creio que essa reserva de mercado não cabe mais nesses tempos em que somos exigidos a ter quase que um mini hospital dentro de nossas clinicas e o preparo que temos recebido para o atendimento das emergências.
Excelente discussão. Acredito que a realização de procedimentos em endoscopia, principalmente os que envolvem terapêutica, sem dúvidas, se torna mais confortável para toda a equipe com a presença de anestesiologista. Também acho importante que se discuta sedação, já que percebo uma grande heterogeneidade no país e no mundo entre o acompanhamento ou não de anestesiologistas e o pagamento por parte dos convênios desse profissional. Procedimentos mais simples de endoscopia digestiva alta por exemplo, costumam ser realizados sem anestesia na maioria dos serviços, e há muita dificuldade na aceitação da cobrança, caso auxílio do anestesista, por parte dos convênios. O uso de novas drogas, incluindo o propofol, permite uma eficiente sedação e satisfação do paciente. Resta ampliarmos essa discussão, o que deve ou não ser feito, baseando-se principalmente em evidência. Realmente novos estudos são bem vindos nessa área. Quem tiver mais interesse no assunto, eu indicaria a procura no pubmed usando os termos “non-anesthesiologist propofol sedation”. Achei mais artigos do que imaginava. Abraço e parabéns pelo post.
O site foi elaborado para a troca de experiências entre profissionais que atuam ou tem interesse em endoscopia digestiva. Todos os nossos posts são feitos com muito estudo e sempre através de medicina baseada em evidências. E desta mesma forma conduzimos todos os comentários para que sempre exista um aprendizado de todos os que participam das discussões. Todas as opiniões são bem vindas desde que sejam embasadas nestes princípios. Serão moderados os comentários de cunho político, racistas ou de ofensas pessoais que nada acrescentam para um debate civilizado entre profissionais.
Parabéns Guilherme pelo post. Acredito que pacientes ASA 1 e 2 a sedação pode tranquilamente ser realizada por pessoal de enfermagem habilitado desde que a sala de procedimento seja equipada de acordo com as normas da vigilancia sanitária. Em nosso serviço somente realizamos o procedimento de sedação com a presença de outro colega ou do anestesiologista. Quando a sedação é realizada por outro colega não anestesiologista, não existe pagamento de honorário.
Estudo furado… No grupo A teve maior profundidade de sedação e também maior despertar durante os procedimentos?? Paradoxal!! Se vcs querem ganhar mais dinheiro diminuindo os gastos com especialistas assumam que vcs estão colocando o dinheiro a frente da segurança do pcte!! Daí qdo complica manda chamar o Anestesiologista pra resolver a negligência de vcs!!
Nos serviços onde trabalho sempre faço exames acompanhado por um anestesista. Não posso negar que dá uma tranquilidade danada, mas isso só é possível devido aos convênios pagarem os honorários do anestesista. Conheço várias outras regiões onde os convênios pagam sedação apenas para colonoscopia, impossibilitando a presença do anestesista no serviço. Por isso acho fundamental o endoscopista estar treinado para realizar a sedação e também manejar as suas complicações. A sedação realizada pelo endoscopista deve ser apenas nos pacientes de baixo risco, deixando os casos mais complicados ou com realização de terapêutica para ambiente hospitalar e acompanhado por um anestesista. Mais importante ainda, é a estrutura do serviço. Para realizar qualquer tipo de procedimento com sedação é importante estar equipado com carrinho de parada (e todas as drogas), desfibrilador, material para vias aéreas, ventilador e um serviço de remoção e hospital de retaguarda para a transferência no caso de complicações.
Devido essa exigência do CFM, muitos hospitais – inclusive que oferecem formação de endoscopistas – estão contratando anestesiologistas para o setor de endoscopia. Me preocupo se as futuras gerações de endoscopistas ficarão deficitárias no aspecto da sedação.
Gostaria de saber se nas suas clínicas os convênios estão pagando o segundo médico na sala.
Muito bom ver um trabalho nacional engrossando a discussão desse tema tão relevante… Acho válido lembrar que, associar propofol à sedação implica em utilizar doses menores dos sedativos com meia vida mais longa, minimizando o risco de ressedação. Entretanto, como já foi dito, reconhecer nossos limites é fundamental. Parabéns Guilherme!
Realmente, disse o Bruno, penso que o médico endoscopista é um profissional não anestesiologista “diferenciado” em ralação à sedação, e o reconhecimento deste fato seja talvez fundamental para futuras alterações nas normas reguladoras.
Pondero ainda que, em havendo conhecimento da cinética da droga, possuindo-se treinamento e habilitação para condutas em eventuais emergências e dispondo-se de material e medicamentos necessários para uso em tais situações, além de auxílio de enfermagem treinada, não vejo que outro fator seria limitante ao uso de Propofol pelo médico endoscopista na realização de exames diagnósticos ou terapêuticos simples em pacientes ASA I e II.
Parabéns pela escolha do artigo e pelo site! Abraços a todos!
Bem lembrado, o problema nao e so o uso ou nao de propofol ou qualquer outro sedativo, mas o preparo da equipe e do local de trabalho. Muitas vezes trabalhamos em alguns lugares e nunca checamos se la existe laringoscopio e canulas, por exemplo ! Bem vinda ao site !
Tá parecendo um discurso da Dilma. Olha que sugerir que profissionais não médicos façam uso de droga cardiodepressora, em rotinas de locais extrahospitalares foi demais… Se nem nós médicos, reconhecemos o valor do colega especialista, o que esperar de outrem? Quero passar longe dessas clínicas…
Lembro ao colega Ataulfo, que em menor ou maior grau, todos os sedativos sao cardiodepressores. A tendencia de uso do propofol por enfermeira treinada, nao vem das nossas clinicas, mas de estudos no mundo todo, mostrando a segurança do procedimento. Em nenhum momento desvalorizamos o colega especialista, apenas estamos discutindo um artigo, onde no maior hospital particular do pais, se desenvolveu um trabalho tentando avaliar uma tendencia mundial. Por fim, como consta em minha analise, o CFM orienta que no uso de propofol, dois medicos estejam na sala, e assim procedemos em nossas clinicas. Por favor, esteja convidado a conhece—las!
Excelente discussão! Entendo em parte a preocupação das entidades reguladoras, mas acho que um dos problemas é colocar todos os médicos não anestesiologistas no mesmo balaio. Obviamente o endoscopista tem um melhor entendimento da sedação do que outras especialidades e deveria ser reconhecido dessa maneira. Por outro lado, ele deve conhecer seus limites e recomendar o anestesista frente a uma situação de risco. Recomendo fortemente a realização do curso pré-congresso SAVE (Suporte Avançado em Endoscopia Digestiva) oferecido pela SOBED no dia 21/11/15 em Curitiba.
Acho que tudo passa pela visão que temos da endoscopia, como uma especialidade médica ou apenas um exame diagnóstico. Considerando a endoscopia digestiva como especialidade, temos que ter no país endoscopistas com formação para exercer esta especialidade. E isto não se trata apenas de realizar o exame e fazer um laudo. A formação do especialista em endoscopia deve ser algo muito mais amplo e complexo que envolve ensinamentos sobre legislação da especialidade, administração de serviços de endoscopia e conhecimento profundo sobre limpeza e desinfecção de aparelhos e instrumentais. Além disto deve conter treinamento para suporte a intercorrências clínicas durante os exames, não apenas de manejo das vias aéreas mas também para RCP, arritmias, etc… Deve-se ter este conhecimento não apenas para realizar mas também para contra-indicar alguns exames tendo em vista o risco anestésico de cada paciente. Por isto cada caso deve ser individualizado, e obviamente nos pacientes que tem alto risco anestésico, o procedimento deve ser feito somente sob cuidados do anestesista. A questão é que mais de 90% dos procedimentos endoscópicos são de rotina, em pacientes de baixo risco e que na presença de um outro médico treinado cuidando da sedação (como diz a legislação) tranquilamente podem ser usados os medicamentos opióides associados ao propofol. Para os endoscopistas que não possuem este treinamento para intercorrências clínicas inúmeros cursos vem sendo cada vez mais disponibilizados como o ACLS. Mas a SOBED e algumas outras instituições também vem realizando cursos como este, inclusive mais personalizado para intercorrências clinicas em procedimentos endoscópicos. Cursos com bonecos, simulações de atendimento, discussão com especialistas na área, etc… Estes treinamentos vem sendo de grande valia e devem obrigatoriamente fazer parte da formação dos endoscopistas que atuam em qualquer ambiente seja ele ambulatorial ou hospitalar.
Sua visao do especialista e a ideal Felipe. Mas o que eu vejo infelizmente nao e isso sempre. Temos dezenas de profissionais que realizam “cursinhos” de fim de semana, compram aparelhos e saem fazendo exames, sem o menor conhecimento de desonfeccao, sedaçao … E a tendencia e piorar, com a banalizaçao das escolas de medicina e das residencias medicas.
Parabéns pelo post Guilherme.
Também concordo que a sedação com propofol em pacientes ASA I ou II pode ser realizada apenas com o endoscopista auxiliado por enfermeira treinada, diferente do que recomenda os atuais guidelines.
Entretanto, seria interessante ouvir também a opinião dos colegas anestesiologistas sobre esse assunto.
Renzo, bem vindo oficialmente ao site !!! Este projeto foi realizado com o intuito de aproximar os endoscopistas que gostam de estudar, em um canal para atualização e troca de experiências. Você desde o início participou das discussões, fez sugestões ao projeto e por isto sempre acrescentou muito. Que o seu exemplo sirva para que mais endoscopistas participem efetivamente das discussões e se tornem também colaboradores oficiais do site.
Parabéns Guilherme! Ótimo artigo. Apesar da introdução do propofol para sedação durante a endoscopia ser relativamente recente, acredito ser normal sofrer resistência dos colegas que já estão habituados a usar outras drogas, como a associação clássica entre p. ex. Midazolam + Dolantina. Porém a sedação de um opioide (fentanyl) associado ao propofol, como prova o artigo, tem diversas vantagens (menor tempo de recuperação, maior satisfação dos pacientes, etc) em relação ao esquema clássico. O mais importante desse tema é q na prática vemos que essa associação é extremamente segura quando usada por endoscopistas treinados. Acredito q com a difusão do uso do propofol por médicos não anestesistas e com novos estudos mostrando taxas baixas de complicações, as diretrizes nacionais terão que rever a obrigatoriedade da presença do médico anestesista ou mesmo de dois médicos para o uso dessa droga.