Dr Mauro Bonatto comenta seu artigo publicado recentemente sobre os achados endoscópicos da Doença Celíaca e sua correlação com a histologia.
Avaliação endoscópica da severidade da Doença Celíaca e sua correlação com os aspectos histopatológicos da mucosa duodenal.
A Doença Celíaca ( DC) é uma afecção crônica autoimune sistêmica, deflagrada e mantida pelo glúten (proteína encontrada no trigo, centeio, cevada e aveia) em indivíduos geneticamente predispostos. A prevalência está estimada em 1% da população mundial. Clinicamente os sintomas típicos da DC são caracterizados por má absorção de início precoce (4-24 meses de idade) com perda de peso, diarreia e desnutrição. Já na maioria dos adultos, os sintomas gastrointestinais são inespecíficos e vagos. Apresentam-se geralmente com alteração da consistência das fezes, constipação intestinal, distensão abdominal pós prandial, cólicas, náuseas, e vômitos.
O diagnóstico sorológico é realizado através dos Anticorpos antiendomísio (EmA IgA), Antitransglutaminase (anti-tTG IgA) e também pelos Anticorpos antigliadina (IgA e IgG) que são melhores p/ crianças até dois anos de idade. A pesquisa do Antígeno de Histocompatibilidade tem alto valor preditivo negativo. Quando o HLA DQ2/DQ8 estão negativos, excluem o diagnóstico de DC com confiança de 99%. A sua positividade não confirma o diagnóstico, pois, 30% da população pode ter o antígeno positivo e não desenvolver a DC.
Diagnóstico endoscópico da Doença Celíaca
Os marcadores endoscópicos específicos para a DC são; perdas das pregas de Kerkring, pregas denteadas, fissuras entre as vilosidades, aglutinações e atrofia das vilosidades (dando o aspecto em mosaico), vasos submucosos visíveis e micro nódulos. O diagnóstico deve ser confirmado pela histopatologia utilizando a classificação de Marsh. (MARSH, 1992).
Estas alterações podem ser identificadas mesmo com aparelhos sem magnificação de imagem. A utilização da cromoscopia com índigo carmim facilita a avaliação destas alterações permitindo a realização de uma classificação endoscópica que está associada com os achados da histologia. Com isso é possível estimar a gravidade da atrofia duodenal tanto ao diagnóstico como no acompanhamento da regressão das lesões. A classificação endoscópica aqui apresentada, é de aplicação prática, pois pode ser facilmente reprodutível e traz informações sobre as alterações suspeitas da doença para realizar o diagnóstico e permite estimar a extensão da doença.
Classificação Endoscópica da DC e sua correlação com a histologia. Bonatto 2016.
Bonatto MW et al. Endoscopic evaluation of celiac disease severity and its correlation with histopathological aspects of the duodenal mucosa. DOI http://dx.doi.org/ 10.1055/s-0042-108190 Published online: 29.6.2016 Endoscopy International Open 2016; 04: E767–E777
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1 Comentário
Parabéns pelo artigo Dr Mauro. A classificação proposta tem critérios bem específicos e é de fácil utilização por qualquer endoscopista, permitindo uma boa estimativa do grau de atrofia para acompanhamento da doença celíaca. As imagens do artigo e do material suplementar também são ótimas!