Como você escreveria?
- Paciente com ressecção do cólon sigmóide. Anastomose colo-retal término-terminal ampla e sem lesões.
- Paciente com ressecção do cólon sigmoide. Anastomose colorretal terminoterminal ampla e sem lesões.
Muita gente ainda se confunde com o Novo Acordo Ortográfico brasileiro.
Este “novo” acordo é um tratado internacional firmado em 1990 com o objetivo de tentar criar uma ortografia unificada para o português, a ser usada por todos os países de língua oficial portuguesa.
No Brasil, essas mudanças ortográficas se iniciaram em 2009 (vigência ainda não obrigatória). Entre 2010 e 2012 houve adaptação completa dos livros didáticos às novas regras, e a partir de 2013 a vigência deveria ser obrigatória em todo o território nacional, mas sua obrigatoriedade foi postergada para 01/01/2016.
De fato, gramática é um assunto indigesto para a maioria das pessoas. Mas em se tratando de textos oficiais, como, por exemplo, os laudos endoscópicos, é importante utilizarmos a grafia correta, mesmo porque espera-se que a classe médica tenha um certo nível de instrução.
Neste post, tentei resumir de maneira bem simples as principais mudanças da nova ortografia, citando exemplos com palavras do nosso “medicinês”.
ACENTUAÇÃO
-
Não se usa mais o acento em ditongos abertos éi e ói das palavras paroxítonas
- sigmoide
- hemorroida
- cerebroide
- paranoico
- ideia
- coreia
- plateia
Atenção:
Essa regra é válida somente para palavras paroxítonas. Assim, continuam a ser acentuadas as palavras oxítonas e os monossílabos tônicos terminados em éis e ói(s). Exemplos: papéis, herói, heróis, dói, sóis etc.
-
Não se usa mais o acento das palavras terminadas em êem e ôo(s)
- enjoo
- abençoo
- leem
- creem
USO DO HÍFEN NOS PREFIXOS
-
Não se usa o hífen se o prefixo terminar com letra diferente daquela com que se inicia a outra palavra
- antibiótico
- microcirculação
- contralateral
- pseudopólipo
- justacárdica
- pseudodeprimido
- ultrassom
- semicircunferencial
- intratorácico
- peridiverticular
- hiperacidez
- interobservador
- subcárdico
- submucosa
- subtotal
- pancolite
- subepitelial
-
Usa-se o hífen se o prefixo terminar com a mesma letra com que se inicia a outra palavra
- intra-abdominal
- anti-inflamatório
- justa-anastomótica
- inter-racial
- super-resistente
-
SEMPRE usar hífen diante de palavra iniciada por H
- anti-higiênico
- anti-histamínico
- sobre-humano
- super-homem
* Casos particulares |
SEMPRE usar hífen com os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró: Pré-pilórico, pró-biótico, pré-história, pós-operatório, pós-polipectomia, recém-operado, recém-nascido, ex-aluno. |
Com o prefixo sub e sob, usa-se o hífen também diante de palavra iniciada por r: sub-região, sub-residente, sob-roda. |
USO DO HÍFEN COM COMPOSTOS
Particularmente, eu acho que este é o cenário com as regras mais difíceis de entender. Palavras compostas que não apresentam elementos de ligação são grafadas com hífen. Exemplos: guarda-chuva, arco-íris, boa-fé, segunda-feira, mesa-redonda, vaga-lume, joão-ninguém, porta-malas, porta-bandeira, pão-duro, bate-boca. No entanto, não usamos hífen nas palavras que perderam a noção de composição, tais como: girassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista, paraquedismo.
Na nossa prática, a maioria das palavras compostas perdeu o hífen:
- colorretal
- anteroposterior
- anatomopatológico
- terminoterminal
- transição esofagogástrica
- anastomose gastrojejunal
Existem várias outras regras, e o assunto é ainda mais complicado. As regras que colocamos aqui foram apenas as principais. Talvez, outra que valha a pena destacar é que não se usa hífen na composição de palavras com NÃO (diferentemente do inglês).
Exemplo: prótese não recoberta.
No site da Academia Brasileira de Letras, existe uma ferramenta de buscas: o VOLP (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa). Na dúvida de como escrever uma palavra, ou se ela existe ou não, basta digitá-la no campo de busca do site.
Respondendo à pergunta inicial, o correto seria:
- Paciente com ressecção do cólon sigmoide. Anastomose colorretal terminoterminal ampla e sem lesões.
Como citar este artigo:
Martins B. Nova Ortografia aplicada à Endoscopia. Endoscopia Terapêutica; 2020. Disponível em: https://endoscopiaterapeutica.net/pt/assuntosgerais/nova-ortografia-aplicada-a-endoscopia/
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Professor Livre-Docente pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Médico Endoscopista do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP)
Médico Endoscopista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz
Emerging Star pela WEO
12 Comentários
Parabéns Bruno e a todos do Endoscopia Terapêutica. E quanto a termos como: esofagogastroduodenoscopia ou gastroenteroamastomose por exemplo, como ficam? Muito obrigado.
Obrigado Augusto. Eu escreveria assim:
– Esofagogastroduodenoscopia
– Gastroenteroanastomose (se entender que é uma palavra só).
Mas dá uma boa discussão!!!
Patognomônico do BCM!!
Muito bom, chefe.
Obrigada mais uma vez!!
Bruno…já tinha procurado estudar estas novas regras ortográficas, mas com essa didática e voltada para o “medicinês” foi o melhor texto que li. Abraço
Show
Bruno, parabéns pelo excelente Post! Miuito didático e claro!
Dr Bruno, muito bom teu resumo sobre ortografia, parabéns pelo post.
Um abraço
Eliane Hortolan
Bruno, este post ficou ótimo! Super didático e abordando os termos mais utilizados na nossa prática diária. Prof Pasquale que se cuide…
Que bom que gostaram! Tema polêmico esse, kkkkk!
Em primeiro lugar: tentei simplificar as regras mais importantes mas não sou expert em português, ok?
Felipe, entendo que pró seja um prefixo. Portanto, obedece a regra dos prefixos, especificamente: SEMPRE usar hifen diante de pré, pós, pró, etc.
girassol é uma palavra composta, ou seja, junção de duas palavras formando uma terceira com um novo significado.
Abs.
Muito bom Dr.Bruno Pasquale. Algumas vezes é mais difícil escrever um laudo do que fazer o próprio exame. O laudo é o que todas as pessoas tem acesso, pois não estão acompanhando o exame ao vivo e muitas vezes é o único parâmetro de qualidade que pode ser avaliado de forma concreta. Por isto é de suma importância a padronização, organização e linguagem em qualquer laudo médico. Minha pergunta é sobre a palavra “Pró-biótico” pois costumamos ler e escrever probiótico. Mesmo começando com prefixo “Pró” não se encaixaria na regra “não usamos hífen nas palavras que perderam a noção de composição, como: girassol” e assim ficaria como “probiótico” ?
Excelente Bruno,mais uma vez!
Esse tema só poderia ser do Dr. Bruno.
Excelente post.
Grande abraço,
Diogo Moura