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Fundoplicatura gástrica: como avaliar?

por Bruno Martins
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Frequentemente, recebemos pacientes submetidos à fundoplicatura (FPL) para avaliação pós-operatória.

Apesar de parecer um exame relativamente simples, muitas vezes temos dificuldade em avaliar corretamente todas as características das fundoplicaturas, especialmente quando encontramos anormalidades ou complicações cirúrgicas.

Primeiramente, é preciso entender alguns princípios básicos da cirurgia:

  • A válvula é confeccionada com o fundo gástrico que passa posteriormente ao estômago;
  • A FPL deve envolver cerca de 2 a 3 cm do esôfago distal;
  • O ponto que segura a válvula deve “beliscar” a parede anterior do esôfago, para evitar que ela deslize para baixo;
  • Aproximação dos pilares diafragmáticos (hiatoplastia).

Aspecto endoscópico da fundoplicatura Nissen (360°)

Visão Frontal

  • TEG deve estar sob zona de pressão, ou seja, envolta pela fundoplicatura (admite-se como normal até 1 cm acima);
  • Transposição do endoscópio pela FPL ocorre com leve resistência, sem desvio do eixo e sem “degrau”.

À retrovisão (fundoplicatura Nissen – 360°)

  • Prega gástrica transversal envolvendo circunferencialmente a cárdia, justa ao aparelho e sem torções;
  • Sem torções significa: estar paralela às linhas brancas demarcatórias do endoscópio;
  • Fundoplicatura intra-abdominal;
  • Ausência de hérnia paraesofágica (hiatoplastia íntegra).

À retrovisão (fundoplicatura Toupet-Lind – 270°)

  • Prega gástrica transversal envolvendo parcialmente a cárdia;
  • Prega posterior menos robusta que a Nissen;
  • Com os movimentos respiratórios, podem ocorrer breves períodos de abertura da válvula, expondo a linha Z.
À retrovisão (fundoplicatura Toupet-Lind – 270°)
Na visão frontal, a TEG deve estar sob zona de pressão, ou seja, envolta pela fundoplicatura.
Na retrovisão, a FPL deve envolver a cárdia
Na retrovisão, a FPL deve envolver a cárdia, abraçando o aparelho em quase 360°. Avaliar se a válvula está paralela à demarcação do aparelho ou se não está torcida.
Fundoplicatura
FPL parcial envolve o aparelho em menos de 360 graus, porém em mais de 180 graus (ou estaria desgarrada). O formato da FPL é da letra grega ômega. Com base nesses conhecimentos, fica mais fácil entender as anormalidades da cirurgia.

Com base nesses conhecimentos, fica mais fácil entender as anormalidades da cirurgia

Fundoplicatura desgarrada

A prega gástrica transversal não envolve o aparelho. A prega faz uma linha reta e um ângulo de 180º na cárdia. É comum a recidiva dos sintomas do refluxo nessa situação.

Fundoplicatura Desgarrada
Fundoplicatura desgarrada. Não envolve o aparelho.

Fundoplicatura torcida

Prega gástrica (FPL) não está paralela às linhas de demarcação do endoscópio. Geralmente, isso se deve a um erro técnico no qual não houve liberação adequada do fundo gástrico. Podem ocorrer sintomas, como disfagia ou refluxo.

Fundoplicatura torcida
FPL torcida. A prega gástrica deveria estar paralela às linhas brancas de demarcação do endoscópio. Nesse caso, está correndo em um sentido crânio-caudal, ou seja, torcida.

Fundoplicatura migrada

A FPL encontra-se íntegra, porém a hiatoplastia se abriu, permitindo a migração cranial da fundoplicatura e da TEG em direção ao tórax. Muitas vezes, apesar dessa complicação, os pacientes permanecem assintomáticos.

Fundoplicatura migrada
FPL migrada. Na visão endoscópica, observa-se também uma hérnia para-hiatal.

Fundoplicatura deslizada (FPL gastrogástrica ou estômago bicompartimentado)

Essa situação é relativamente comum, mas as pessoas têm dificuldade em diagnosticar – talvez por desconhecerem o termo.

A FPL deve envolver o esôfago distal e a linha Z. Mas ela pode deslizar (descer) e ficar abraçando o próprio estômago. Na visão endoscópica frontal, observa-se a TEG 2 cm ou mais acima da zona de constrição (como uma hérnia hiatal). Na retrovisão, observa-se a fundoplicatura intra-abdominal, ou seja, ela não está migrada nem desgarrada.

Fundoplicatura deslizada
Fundoplicatura deslizada. A TEG está acima da zona de constrição.
Fundoplicatura deslizada
Fundoplicatura deslizada. A TEG está acima da zona de constrição. Nota-se câmara gástrica herniada, e à retrovisão o aspecto da fundoplicatura é normal.

Presença, ou não, de hérnia paraesofágica

A FPL pode estar íntegra, em posição intra-abdominal, não desgarrada, mas a hiatoplastia pode ter se alargado, permitindo a herniação de parte do fundo gástrico para o tórax. Notam-se pregas gástricas correndo em direção à hiatoplastia e “caindo” na cavidade torácica.

Fundoplicatura com presença de hérnia paraesofágica
Fundoplicatura intra-abdominal e não desgarrada, porém com hérnia paraesofágica.

Resumo da avaliação endoscópica

TEG x fundoplicatura

  • TEG está sob zona de pressão, ou seja, envolta pela fundoplicatura;
  • TEG está fora da zona de pressão, ou seja, acima da fundoplicatura. Se > 2 cm acima, concluímos como FPL deslizada.

Posição da fundoplicatura

  • Fundoplicatura intra-abdominal;
  • Fundoplicatura parcialmente migrada;
  • Fundoplicatura totalmente migrada.

Descrição da fundoplicatura

  • Fundoplicatura envolve completamente a cárdia;
  • Fundoplicatura envolve parcialmente a cárdia;
  • Fundoplicatura completamente desgarrada;
  • Fundoplicatura torcida.

Presença de hérnia paraesofágica

  • Presente;
  • Ausente.

Veja também

Quiz! Você conhece essas anormalidades das fundoplicaturas?

Como citar este artigo

Martins B. Fundoplicatura gástrica: como avaliar? Endoscopia Terapêutica; 2021. Disponível em: https://endoscopiaterapeutica.net/pt/assuntosgerais/fundoplicatura-gastrica-como-avaliar/

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Bruno Martins
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Professor Livre-Docente pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Médico Endoscopista do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP)
Médico Endoscopista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz
Emerging Star pela WEO


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16 Comentários

PEDRO DE CASTRO NETO
PEDRO DE CASTRO NETO 01/05/2023 - 7:49 pm

Excelente revisão, didática, objetiva, e muito esclarecedora, como todos os artigos do site
Parabéns Dr Bruno

Sergio Tamashiro 16/05/2016 - 10:07 am

Excelente material. Objetivo e esclarecedor.

Herbeth Toledo 29/11/2015 - 4:04 pm

Excelente revião e pouco discutida e aplicada em nosso meio.

Francisco Nobre 26/10/2015 - 8:27 am

Parabéns pela excelente revisão. Continuem assim.

Richard 23/10/2015 - 8:32 am

Muito bom! Tema muito frequente em nosso dia a dia, mas pouco discutido. Excelente ideia. Abraço e parabéns pelo trabalho.

Rodrigo Azevedo de Oliveira 24/08/2015 - 8:10 pm

Parabéns pela excelente revisão Bruno! Muito útil. Abraço.

Guilherme Falcão Ribeiro Ferreira 14/08/2015 - 9:51 pm

Muito boa revisão !!!

Suzanna Farias 14/08/2015 - 8:17 am

Parabéns Dr. Bruno . Ótima revisão!!!

André Tobaru 14/08/2015 - 2:52 am

Parabéns Bruno! Revisão bem didática e objetiva!

Eduardo Oppitz 14/08/2015 - 12:32 am

Excelente revisão!! Ótimo para nosso dia-a-dia!! Parabéns!!!

Vinicius correa 13/08/2015 - 9:50 pm

Otima revisao sobre fundoplicaturas!!

Carlos Eduardo Toloi 13/08/2015 - 3:08 pm

Parabens Dr. Bruno. Ótima revisão. Bom trabalho.

Rodrigo Rodrigues 13/08/2015 - 3:00 pm

Muito bom, Bruno.. Visão simplificada e didática para questões cotidianas.

Manoel. 13/08/2015 - 7:30 am

Ótima revisão !!!! Excelente !!!

Bruno Martins 12/08/2015 - 6:04 pm

Luiz, quando esta normal eu não enumero não. Apenas digo integra, ou em bom aspecto, ou como vc disse: não desgarrada e não migrada. Na descrição coloco se esta intra-abdominal, se envolve total ou parcial a cárdia e se está justa ao aparelho.
Outro ponto importante: muito cuidado em descrever valvula parcialmente desgarrada, pois não sabemos se o cirurgião optou por uma FPL parcial ou total. Prefiro concluir como fundoplicatura parcial nesses casos.

Luiz Henrique Mestieri 12/08/2015 - 4:38 pm

Ótima revisão, Bruno! Nos seus laudos, na conclusão, você enumera cada um desses itens do resumo ou apenas conclui fundoplicadura não migrada e não desgarrada, ou algo assim?

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