A detecção precoce do carcinoma espinocelular do esôfago tem evoluído significativamente com o uso de técnicas endoscópicas avançadas. Entre os achados visuais mais promissores está o chamado
“Silver Sign” ou “Metallic Silver Sign” (MSS), que representa um marcador óptico sugestivo de neoplasia esofágica.
Aqui, vamos tentar compreender melhor a origem, a aplicação e o valor diagnóstico desse sinal.
O que é o Silver Sign / Metallic Silver Sign?
O Silver Sign é uma reflexão prateada ou metálica observada em lesões esofágicas sob luz de Narrow Band Imaging (NBI), especialmente após a aplicação de solução de lugol. Esse fenômeno foi descrito por Maselli et al. (2013) como uma evolução do tradicional Pink Color Sign (PCS) — uma mudança de cor observada em áreas iodo-negativas que se tornam rosadas após alguns minutos da aplicação de lugol, indicando possível malignidade.
No entanto, o PCS pode ser sutil e difícil de identificar, especialmente em lesões planas ou em pacientes com múltiplas áreas iodo-negativas. O MSS surge como uma alternativa visual mais nítida: sob NBI, essas áreas rosadas adquirem uma aparência metálica e brilhante, facilitando a identificação da lesão.
No estudo de Maselli et al., foram analisadas 123 lesões submetidas a ressecção endoscópica (EMR-Cap ou ESD). O MSS foi observado em 98,4% das lesões cancerosas, com correlação de 100% com o PCS, com apenas duas lesões sem apresentar nenhum dos sinais.

Figura 1. A. Lesão tipo 0-IIa localizada no esôfago proximal, observada por endoscopia com luz branca. B. Na cromoendoscopia com uso da solução de lugol. C. Um minuto após a exposição à solução de lugol, a lesão adquire coloração rosa. D. Aparência metálica prateada da lesão sob imagem por NBI (Narrow Band Imaging). Adaptado de Maselli R et al. (2013) [1].
Esses achados indicam que a presença do MSS é altamente específica para carcinoma espinocelular superficial, independentemente da morfologia macroscópica ou característica histopatológica. O MSS se mostrou mais evidente que o PCS – que pode ser difícil de ser observado devido sua baixa intensidade – tornando-se uma ferramenta valiosa para endoscopistas, especialmente em ambientes clínicos com tempo limitado para observação prolongada.
Tsunoda et al. (2019), amplia a discussão ao incorporar tecnologias mais recentes como o Linked Color Imaging (LCI) e o Blue Laser Imaging (BLI). Embora o foco principal do estudo não seja o MSS, ele reforça a ideia de que a diferenciação visual entre carcinoma e neoplasia intraepitelial pode ser aprimorada com técnicas de imagem que realçam contraste e textura.
Após aplicação de Lugol, áreas de carcinoma aparecem como verde no BLI e roxo no LCI, enquanto áreas de neoplasia intraepitelial podem apresentar coloração diferente (amarelo pálido ou marrom). Essa diferenciação cromática é significativamente maior com LCI e BLI do que com luz branca convencional.

Figura 2. 1. Imagens endoscópicas de neoplasia de células escamosas do esôfago. (A–C) Antes da coloração com iodo. (A) A imagem com luz branca mostra uma lesão levemente avermelhada entre as posições de 3 e 5 horas. (B) A imagem com Linked Color Imaging revela uma lesão roxa. (C) A imagem com Blue Laser Imaging mostra uma lesão marrom. (D–F) Três minutos e 35 segundos após a coloração com iodo. (D) Toda a lesão apresenta sinal positivo de coloração rosa na imagem com luz branca. (E) A Linked Color Imaging mostra uma área roxa na maior parte da lesão principal, mas com mucosa amarelo-pálida na posição de 4 horas (seta azul clara). (F) A Blue Laser Imaging revela uma lesão verde na maior parte da lesão principal, mas há mucosa marrom na posição de 4 horas (seta azul clara). Adaptado de Tsunoda M et al. (2019) [2].
Embora o MSS não seja diretamente abordado nesse estudo, os achados corroboram a ideia de que a interação entre corantes vitais e tecnologias ópticas avançadas pode revelar padrões visuais altamente específicos, como o brilho metálico observado no MSS.
A identificação do MSS tem várias implicações práticas: melhora a acurácia diagnóstica em pacientes com múltiplas lesões ou mucosa alterada; facilita o direcionamento de biópsias, reduzindo o risco de falsos negativos; complementa o PCS, especialmente quando este é pouco evidente; pode ser integrado a sistemas de inteligência artificial para reconhecimento automático de padrões visuais; pode ser útil em protocolos de rastreamento em populações de alto risco, como pacientes com histórico de neoplasias de cabeça e pescoço, tabagismo crônico ou consumo excessivo de álcool.
Cada vez mais a tecnologia tem auxiliado no diagnóstico precoce de lesões porém, seu uso e interpretação é profissional dependente. E você, iniciará a busca por lesões esofágicas utilizando estes sinais?
Veja mais: Padrão IPCL de CEC de Esôfago – classificação da sociedade Japonesa • Endoscopia Terapeutica
Referências
- Maselli R et al. (2013). The metallic silver sign with narrow-band imaging: a new endoscopic predictor for pharyngeal and esophageal neoplasia. Gastrointest Endosc. 78(3):551–553.
- Tsunoda M et al. (2019). New Diagnostic Approach for Esophageal Squamous Cell Neoplasms Using Linked Color Imaging and Blue Laser Imaging Combined with Iodine Staining. Clin Endosc. 52(5):497–501.
Como citar este artigo
Brito HP. Metallic Silver Sign: mais um passo no auxílio para a detecção de neoplasia esofágica. Endoscopia Terapeutica 2025 Vol II. Disponível em: https://endoscopiaterapeutica.net/pt/assuntosgerais/metallic-silver-sign-mais-um-passo-no-auxilio-para-a-deteccao-de-neoplasia-esofagica/
Médico graduado pela Faculdade de Medicina da Universidade de Taubaté (2005) com residência médica em Cirurgia Geral pelo Hospital Regional do Vale do Paraíba (2007) e especialização em Endoscopia Digestiva pelos Hospitais Nove de Julho e Ipiranga. Trabalhou como cirurgião geral e socorrista pré-hospitalar, atuando hoje em Endoscopia Digestiva diagnóstica e terapêutica .