QUIZ!! Balão de Sengstaken-Blakemore

Paciente de 54 anos, com doença hepática crônica por hepatite C e abuso de álcool, realizou uma sessão de ligadura elástica de varizes esofágicas há cerca de 40 dias. Deu entrada na emergência com episódio de hematêmese franca, pálido, com pulso filiforme, PA 50x30mmHg, frequência cardíaca de 146bpm, SatO2 de 91% com suplemento de O2 (2L/min), sonolento. Optado pela colocação de balão de Sengstaken pois não houve resposta significativa no padrão hemodinâmico com as medidas de suporte realizadas.

 

 

 




QUIZ! – Impressão pulsátil no esôfago proximal

 
Veja o video a seguir para responder o quiz:

 




Hemorragia Digestiva Alta: Exame e Terapêutica Endoscópica Underwater

Paciente masculino, 82 anos, com IRC dialítica, AVC prévio em uso de clopidogrel 75mg/dia, com quadro de melena há 3 dias, acompanhado de adinamia intensa. Investigação laboratorial mostrou hemoglobina de 5.3 mg/dL, necessitando de hemotransfusão.

Realizada endoscopia digestiva alta que evidenciou sangramento ativo em duodeno distal. Foto abaixo:

Pela intensidade do sangramento ativo houve dificuldade de identificar o foco exato do sangramento. Dessa forma, optado por realizar o exame com preenchimento do órgão com água. Fotos abaixo:

Sendo então observado uma malformação vascular com sangramento ativo. Optado pela realização de injeção underwater de solução de adrenalina (1:10.000UI), com parada do sangramento. Fotos abaixo:

E em seguida realizada a colocação de 2 clipes hemostáticos:

Paciente evoluiu bem, recebendo alta após 2 dias, sem novos episódios de sangramento em acompanhamento ambulatorial de 1 mês.

 

 




O tratamento com os inibidores de bomba de prótons é seguro?

 

Não seria exagero dizer que os inibidores da bomba de prótons (IBP`s) revolucionaram a gastroenterologia a partir do início dos anos 90.

Muito mais eficientes que os antiácidos ou os antagonistas dos receptores H2, eles tornaram-se a droga de escolha no tratamento das condições relacionadas ao efeito lesivo da secreção gástrica ácida, principalmente a doença do refluxo gastro-esofágico (DRGE) e a úlcera péptica.

Em virtude disto, os “prazóis” passaram a ser utilizados em larga escala e são uma das classes de medicamentos mais prescritos ao redor do mundo (1). Contribui para este fato, o fácil acesso a tais medicamentos, sua ótima tolerância e eficiência, mesmo a longo prazo. Assim, não é incomum encontrarmos pacientes que utilizam a droga por muitos anos, de forma contínua, embora em muitos casos a indicação para isto nem seja apropriada.

Particularmente na DRGE, uma das principais indicações terapêuticas, há excesso na prescrição destes fármacos em pacientes que não necessitam deles, como por exemplo em supostas manifestações extraesofágicas da doença, sem documentação do refluxo patológico (2).

Paralelo a esta popularidade, são crescentes os relatos de efeitos adversos decorrentes do uso prolongado destes medicamentos. Acompanhamos, recentemente, relatos desta natureza na mídia leiga e redes sociais, com grande repercussão. Isto trouxe um grande impacto na rotina dos gastroenterologistas, cujos pacientes passaram a questionar a indicação dos IBP´s. Médicos de outras especialidades passaram a condenar o uso destes medicamentos.

Neste contexto, as informações são conflitantes e há dificuldades de separar o que é fato e o que é ficção.

Assim, o nosso objetivo é responder, à luz da medicina baseada em evidências, às seguintes perguntas:

  • Quais os eventos adversos decorrentes do uso dos IBP´s?
  • Qual o posicionamento das principais sociedades de especialidades médicas envolvidas?
  • Estes medicamentos podem ser utilizados com segurança para o tratamento de quais condições?

 

1. Possíveis eventos adversos relacionados aos IBP´s

Eventos com relação causal estabelecida com IBP´s
Evento Mecanismo proposto Estimativa de risco/evidência Relevância Clínica
Nefrite Intersticial aguda Reação idiossincrásica Moderado (RR  3,61) – metanálise de estudos observacionais Rara , mas enfatiza necessidade de indicação correta
Pólipos de glândulas fúndicas Hipergastrinemia OR 2,45 – metanálise Sem maior relevância clínica
Hipomagnesemia Idiossincrásica,

↓ absorção (?)

Baixo (RR< 1,5) – metanálise de estudos observacionais Risco potencial;  Dosar periodicamente;
Deficiência de ferro Hipocloridria

( ↓absorção)

Baixo (OR 2,49) – observacional Baixa; tratável e reversível
Supercrescimento bacteriano int. delgado Hipocloridria Baixo (OR 2,28) – metanálise Baixa; tratável e reversível
Deficiência de Vit B12 Hipocloridria (↓absorção) Baixo (HR 1,83) – metanálise Mínima; tratável e reversível
Colite Colagenosa indefinido (HR 4.5) Diarreia; reversível

 

Eventos com fraca associação com IBP´s 
Evento Mecanismo proposto Estimativa de risco Relevância Clínica
Fraturas Hipocloridria,

↓ absorção Cálcio

Baixo (OR 2,65) – estudos observacionais, resultados conflitantes Mínima

Evidência fraca

Doença renal crônica Não estabelecido Baixo (HR 1.5) – observacionais (caso-controle) Evidência fraca
Diarreia por Clostridium difficile Hipocloridria Baixo (RR 1.69) – metanálise Pequena, porém enfatiza indicação correta
PBE em cirróticos Alterações na microbiota Baixo (HR 1.4 a 5.0) Avaliar risco-benefício
Encefalopatia em cirróticos Alterações na microbiota, hipomagnesemia, def. Vit B12 OR 1.41 a 3.01 Avaliar risco-benefício
Câncer gástrico (5) Hipocloridria, hipergastrinemia Variável entre estudos Indeterminada (requer mais estudos)

 

Eventos não relacionados ao uso dos IBP`s
Evento Mecanismo proposto Estimativa de risco Relevância Clínica
Pneumonia Hipocloridria, comprometimento esterilidade gástrica Sem risco, metanálise de estudos prospectivos Nenhuma – evidência fraca
Eventos cardiovasculares agudos Interação com metabolismo hepático do Clopidogrel Risco não observado (HR 0.99) – trial randomizado controlado Sem evidência de associação
Demência Deposição de beta amilóide Estudos conflitantes, maioria sem associação Nenhuma, evidência muito fraca

 

2. Posicionamento das Sociedades Médicas de especialidades

  • American Gastroenterological Association (AGA): Quando a indicação dos IBP´s é apropriada, os benefícios superam os riscos (2017). O posicionamento é claro no site da sociedade, onde há ainda recomendações de uso racional destes medicamentos, baseadas na opinião de experts e em publicações relevantes.
  • Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG):Há um posicionamento da sociedade em relação ao uso crônico dos IBP´s e aumento do risco de câncer gástrico após erradicação do H pylori, apontado em estudo recente de Hong-Kong (6), considerando que os dados não são conclusivos e que a droga é segura se bem indicada, na dose mínima e pelo tempo necessário, de acordo com a indicação. No site não há um posicionamento geral, aberto ao público.
  • British Society of Gastroenterology: Posiciona-se em relação ao mesmo estudo, considerando que a associação com o câncer gástrico é plausível em certas populações, mas que o risco individual é baixo. Ainda assim, sugere uso preferencial dos antagonistas H2 nesta população (pacientes com H pylori erradicado), com orientação dos pacientes quanto aos riscos.
  • World Gastroenterlogy Organisation / Japanese Gastroenterological Association: Não localizamos posicionamento oficial das sociedades em seus respectivos sites.
  • American College of Gastroenterology (ACG): Comenta o assunto em um blog da presidência da sociedade, resumindo os riscos e fornecendo recomendações práticas, como reconhecer que algumas das associações podem ser verdadeiras e que as indicações devem ser cuidadosamente revisadas e a literatura médica acompanhada de perto.

 

 

3. Indicações para uso prolongado dos IBP´s

 

Uso apropriado Uso com benefício incerto
Cicatrização e terapia de manutenção em pacientes com esofagite erosiva graus C e D DRGE não responsiva a IBP`s
DRGE responsiva a IBP’s, que requer controle sintomático de longo prazo DRGE extraesofágica
Esôfago de Barrett, mesmo assintomático Dispepsia funcional
Esofagite eosinofílica responsiva a IBP´s Pirose funcional
Prevenção de úlceras e sangramento digestivo nos pacientes de risco, em tratamento crônico com anti-inflamatórios não hormonais/aspirina (idosos, histórico de úlceras e HDA)

 

* Pacientes com esofagite erosiva de baixo grau (graus A e B de Los Angeles) e com DRGE não erosiva (NERD): recomenda-se, quando possível, a utilização intermitente ou sob demanda dos IBPs

* Não há evidência científica que recomende uso de probióticos, aumento da ingestão de vitamina B12, cálcio ou magnésio ou uso específico de determinado inibidor de bomba para reduzir os riscos.

 

Em conclusão:

  • Ainda que baixos, os riscos do uso prolongado dos IBP´s devem ser considerados no momento da sua prescrição.
  • Recomenda-se utilizar tratamento intermitente ou sob demanda quando possível e, nos casos com indicação de uso contínuo, optar pela menor dose efetiva.
  • Destaca-se também a importância de uma adequada avaliação clínica, com exames objetivos quando indicado, a fim de se selecionar corretamente os pacientes com indicação da terapia prolongada com estas drogas.
Referências Bibliográficas:

1) LANAS A. We are using too many PPI´s, and we need to stop: a european perspective. Am J Gastroenterol 2016; 111:1085-1086.

2) KAHRILAS P et al . Emerging dilemmas in the diagnosis and management of gastroesophageal reflux disease F1000R 2017; 6: 1748

3) VAEZI M F. Complications of Proton Pump Inhibitor Therapy. Gastroenterology 2017; 153: 35–48

4)KINOSHITA Y, ISHIMURA N, ISHIHARA S. Advantages and Disadvantages of long-term proton pump inhibitor use. J neurogastroenterol Motil 2018; 24 (2): 182-196.

5) SCARPIGNATO C et al. Effective and safe proton pump inhibitor therapy in acid-related diseases – A position paper addressing benefits and potential harms of acid suppression. BMC med; 2016; 14:179

6) CHEUNG K S et al. Long-term proton pump inhibitors and risk of gastric cancer development after treatment for Helicobacter pylori: a population-based study. GUT 2018;67:28–35.

 

 




Artigos Comentados!! Classificações do esôfago de Barrett

Introdução:

Recentemente houve a disponibilização e comercialização no Brasil da terapia de ablação com radiofrequência para o esôfago de Barrett. Nesse novo cenário é interessante nos familiarizarmos com as principais classificações endoscópicas propostas na literatura para avaliação diagnóstica do Barrett.

Três sistemas de classificação foram propostas com uso do NBI (narrow band imaging) em conjunto com magnificação: classificação de Kansas, Amsterdã e Nottingham. Elas sugerem que o padrão irregular da mucosa e dos vasos são preditivos de displasia, e o padrão “sulcado / viloso” é preditivo de metaplasia intestinal especializada (MI). Em um estudo que comparou os três sistemas, a acurácia para a MI sem displasia variou entre 57% e 63%, e a acurácia para a MI com displasia foi de 75%. A concordância interobservador foi razoável (classificação de Nottingham) a moderada (classificações de Kansas e Amsterdã).

Barrett’s International NBI Group (BING):

Mais recentemente, um sistema de classificação mais simples para discriminar esôfago de Barrett neoplásico (com displasia de alto grau e adenocarcinoma) do Barrett não-neoplásico usando o NBI foi desenvolvido e validado. O Barrett’s International NBI Group (BING) usou o NBI e o near focus (GIF-HQ190; EXERA III; Olympus Inc., Tokyo, Japan) para classificar diferenciar o padrão mucoso e de vascularização em regular e irregular, conforme tabela abaixo:

 

 

Os padrões regulares da mucosa e da vascularização são preditivos do Barrett sem displasia, enquanto padrões irregulares de mucosa e/ou vascularização são preditivos de Barrett com displasia de alto grau / adenocarcinoma.

Abaixo alguns exemplos:

(A) Barrett sem displasia. Observe a presença de padrões de mucosa circular (seta sólida) dispostos de maneira ordenada e vasos sanguíneos que seguem claramente a arquitetura da mucosa (setas tracejadas). (B) Barrett sem displasia. Observe a presença de padrões de mucosa circular dispostos de maneira ordenada e vasos sanguíneos que seguem claramente a arquitetura normal da mucosa (seta sólida). (C) Barrett sem displasia. Observe a presença de padrões de mucosa circular (seta sólida) dispostos de maneira ordenada e vasos sanguíneos que seguem claramente a arquitetura das cristas mucosas (setas tracejadas). (D) Barrett sem displasia. Observe a presença de padrões de mucosa da cripta / vilosidade (seta sólida) dispostos de maneira ordenada e vasos sanguíneos dispostos de maneira regular entre as criptas mucosas (setas tracejadas). (E) Barrett sem displasia. Observe a presença de padrões de mucosa circular (seta sólida) dispostos de maneira ordenada e vasos sanguíneos que seguem a arquitetura da mucosa (setas tracejadas). (F) Barrett sem displasia. Observe a presença de padrões de mucosa circular (seta preta sólida) e criptas / vilosidades (seta vermelha) organizados de forma ordenada e vasos sanguíneos que seguem a arquitetura da cripta mucosa (setas tracejadas).

 

A) Barrett com displasia. Observe a mucosa irregular (seta preta) e padrões vasculares (seta vermelha). (B) Barrett com displasia. Observe a mucosa irregular (seta preta) e padrões vasculares (seta vermelha). Os vasos não seguem a arquitetura normal da mucosa. (C) Barrett com displasia. Observe a mucosa irregular (seta preta sólida) e os padrões vasculares (setas tracejadas). Em contraste, a seta vermelha mostra área na mucosa onde os vasos são dispostos de maneira regular, seguindo a arquitetura normal da mucosa. (D) Barrett com displasia. Observe os padrões da mucosa e vasculares irregulares (setas tracejadas). Os vasos focalmente ou difusamente distribuídos não seguem a arquitetura normal da mucosa. (E) Barrett com displasia. Observe que os padrões irregulares de mucosa e vascular (seta sólida) e nas setas tracejadas contrastam com padrão de mucosa e vascular regularmente organizado. (F) Barrett com displasia. Observe os padrões de mucosa irregular (seta sólida) e vascular (setas tracejadas).

 

Estudos de validação mostraram que a classificação BING pode predizer a presença ou ausência de displasia com alto nível de precisão (> 90%) e com alta concordância interobservador.

Referência (clique no link abaixo para acessar o artigo):

Development and Validation of a Classification System to Identify High-Grade Dysplasia and Esophageal Adenocarcinoma in Barrett’s Esophagus Using Narrow-Band Imaging. Sharma P, Bergman JJGHM, Goda K, et al. Gastroenterology 2016 Mar;150(3):591-8.

 




Quiz – lesões gástricas e duodenais

Paciente de 35 anos, evoluindo há cerca de 3 meses com queixa de náuseas, vômitos e epigastralgia. Relata perda de cerca de 15 kg nos últimos 6 meses, tendo apresentando ainda no período episódios de infecção respiratória e quadro diarréico. Durante a investigação, identificada sorologia positiva para HIV.

Submetido a endoscopia digestiva alta que evidenciou tais lesões:

 

 




QUIZ ! Lesão esofágica.

Paciente com 38 anos, em avaliação de pirose e regurgitação de longa data, realiza endoscopia, com o seguinte achado em terço distal de esôfago:

Lesão esofágica a luz branca

Lesão esofágica ao NBI.

 




QUIZ – Hipertrofia de pregas gástricas

Paciente do sexo feminino com 35 anos.  Queixa de distensão abdominal pós-prandial e eructações. Nega alteração do habito intestinal.   Fez tratamento para dispepsia sem melhora.

Nega comorbidades ou cirurgias prévias. Na história familiar,  relata que o pai apresentava bastante dor epigástrica, dificuldade para se alimentar, perdeu bastante peso e faleceu aos 39 anos de uma doença não definida.

Foi submetida a uma endoscopia com o achado abaixo:

 

Realizadas biópsias gástricas que revelaram gastrite crônica inativa com leve infiltrado linfocítico.

 




Quiz – Lesão plana de esôfago médio.

Homem, 70 anos, hipertenso, previamente hígido, foi referenciado à EDA por sintomas dispépticos de início recente. Etilista social de pequena quantidade, nunca fumou. Negava perda de peso ou disfagia. Exame físico sem anormalidades.

 

Imagem com luz branca

Na transição parede lateral direita/posterior, distando cerca de 24 cm da ADS, observa-se lesão não polipóide plana, esbranquiçada, de aspecto rugoso, formato irregular, porém bem delimitada, medindo cerca de 25mm no maior eixo.

 

Cromoscopia eletrônica com NBI

IPCL exibindo discreta dilatação, sinuosidade, calibre irregular e variação de formas.

 

Cromoscopia com Lugol

Presença de extensa área iodo-negativa em exata correspondência a lesão descrita na luz branca e na cromoscopia com NBI




Diagnóstico e tratamento endoscópico da esofagite eosinofílica e suas complicações