Ecoendoscopia na avaliação das neoplasias da vesícula biliar

Introdução

A neoplasia da vesícula biliar é geralmente diagnosticada tardiamente devido à ausência de sintomas específicos. A ecoendoscopia tem papel central na caracterização morfológica, avaliação da invasão parietal e hepática, pesquisa de linfonodos regionais e possibilidade de diagnóstico anatomopatológico por punção ecoguiada.
A proximidade anatômica, traz vantagem à ecoendoscopia em relação a ultrassonografia transabdominal e a tomografia na avaliação local detalhada.

Formas de Apresentação

As neoplasias vesiculares podem se manifestar sob duas principais formas morfológicas:

– Forma Polipoide

  • Lesão focal intraluminal, geralmente sólida, séssil ou com base ampla.
  • Pode surgir sobre pólipo adenomatoso ou displásico (adenocarcinoma in situ).
  • No EUS, os padrões suspeitos de malignidade incluem:

    • Tamanho >10 mm.
    • Margens irregulares e heterogeneidade interna.
    • Aumento da vascularização ao Doppler.
    • Perda do padrão de camadas da parede adjacente.

Pólipos <6 mm, múltiplos e hiperecogênicos costumam representar pólipos de comportamento benigno

– Forma Infiltrativa (Espessamento da Parede)

  • O tumor se apresenta como espessamento focal assimétrico, irregular e heterogêneo da parede da vesícula.
  • Pode ser diagnóstico diferencial com patologias benignas como colecistite xantogranulomatosa ou adenomiomatose, mas o EUS ajuda pela visualização das camadas da parede:

    • Preservação das camadas → processo inflamatório benigno.
    • Desorganização ou perda das camadas → invasão neoplásica.

  • A invasão hepática é sugerida por apagamento da interface hiperecogênica entre a vesícula e o fígado.
Figura 1 – Neoplasia de vesícula em visão ecoendoscópica. Imagem adaptada de Takahashi et. al. Diagnostics (Basel), 2024.

Estadiamento por EUS

Características Correlação Estadio Acurácia
Tipo A Pediculado; camada adjacente preservada Tis 100%
Tipo B Séssil / base larga; hiperecoica externa preservada T1 76%
Tipo C Séssil; hiperecoica estreitada T2 85%
Tipo D Séssil; hiperecoica desorganizada T3-4 93%

Sadamoto e colaboradores propuseram uma classificação que correlaciona os achados na ecoendoscopia com o estadio oncológico, apresentando boa acurácia nas lesões precoces e avançadas, representadas pelos tipos A e D.

Punção Ecoguiada

  • Permite diagnóstico diferencial entre neoplasia de vesícula e patologias benignas
  • Direcionamento de terapia guiada por marcadores genômicos
  • Avaliação de linfonodos acometidos / metastases hepáticas

    • Puncionar primeiramente estas lesões e na sequência o tumor primário

  • Contraindicações relativas: tumores claramente ressecáveis, devido ao risco (ainda que baixo) de disseminação peritoneal.
  • Evitar transfixar a luz da vesícula pelo risco de colecistite

Contraste Harmônico

  • Carcinomas: realce heterogêneo e irregular, com washout precoce.
  • Pólipos benignos: realce homogêneo e sustentado.
  • Aumenta a acurácia na distinção entre adenoma e carcinoma precoce, e na definição dos limites tumorais para planejamento cirúrgico.

Inteligência artificial

O uso de inteligência artificial e deep learning aplicados às imagens de EUS tem mostrado desempenho promissor para:

  • Diferenciar pólipos benignos e malignos
  • Detectar invasão da parede,
  • Estimar o estadiamento T com acurácia superior a 90% em estudos recentes

Conclusão

A ecoendoscopia representa ferramenta precisa para avaliação detalhada das neoplasias de vesícula biliar, permitindo a caracterização morfológica, vascular, estadiamento loco-regional e amostragem tecidual guiada, desempenhando papel essencial na definição da conduta.

Referências

  1. Szpakowski JL, Tucker LY. Outcomes of Gallbladder Polyps and Their Association With Gallbladder Cancer in a 20-Year Cohort. JAMA Netw Open. 2020 May 1;3(5):e205143
  2. Sadamoto et. al. Preoperative diagnosis and staging of gallbladder carcinoma by EUS. Gastrointest Endosc. 2003 Oct;58(4):536-41.
  3. Takahashi et. al. Recent Advances in Endoscopic Ultrasound for Gallbladder Disease Diagnosis.
    Diagnostics (Basel). 2024 Feb 8;14(4):374
  4. Obaid et al. Detection of Gallbladder Disease Types Using Deep Learning: An Informative Medical Method. Diagnostics (Basel). 2023 May 15;13(10):1744.

Como citar este artigo

Logiudice FP. Ecoendoscopia na avaliação das neoplasias da vesícula biliar Endoscopia Terapeutica 2025, Vol II. Disponível em: https://endoscopiaterapeutica.net/pt/assuntosgerais/ecoendoscopia-na-avaliacao-das-neoplasias-da-vesicula-biliar/