Tumores Adrenais: Diagnóstico, Conduta e o Papel da Punção Ecoguiada
Durante exame de ecoendoscopia, a imagem a seguir foi identificada na adrenal esquerda:
Diante deste achado incidental, qual seria a sua conduta?
Discussão multidisciplinar
Punção ecoguiada com FNA
Punção ecoguiada com FNB
Afinal o que é um incidentaloma adrenal?
Os tumores adrenais — também chamados de incidentalomas adrenais quando encontrados incidentalmente — são achados cada vez mais frequentes nos exames de imagem realizados por outros motivos.
Um incidentaloma adrenal é uma massa ≥1 cm detectada incidentalmente em exames de imagem sem suspeita clínica de doença adrenal. A prevalência estimada é de cerca de 2% na população geral, podendo ultrapassar 10% acima dos 80 anos.
A glândula adrenal também é um sítio comum de metástases — especialmente de tumores de pulmão, mama, rim, melanoma e trato gastrointestinal — sendo o quarto local mais frequente de disseminação metastática. Em pacientes com câncer extra-adrenal, até 75% das massas adrenais representam metástases.
A distinção entre lesões benignas e malignas é essencial, pois define a conduta: acompanhamento, cirurgia ou quimioterapia.
Avaliação inicial e triagem hormonal
Mesmo tumores funcionais podem ser clinicamente silenciosos. Assim, todo incidentaloma deve ser avaliado bioquimicamente para descartar:
Feocromocitoma: dosagem de metanefrinas plasmáticas ou urinárias;
Hiperprodução de cortisol: teste de supressão com dexametasona (1 mg);
Hiperaldosteronismo primário: em pacientes hipertensos.
A exclusão de feocromocitoma é recomendada antes de qualquer biópsia da adrenal, para prevenir a precipitação de uma possível crise hipertensiva.
Diagnóstico por imagem
A tomografia computadorizada (TC) sem contraste é o exame de primeira linha.
Lesões benignas: homogêneas, <4 cm e com atenuação ≤10 unidades Hounsfield (UH), são consideradas adenomas e não necessitam de acompanhamento adicional.
Lesões suspeitas: tamanho >4 cm, heterogeneidade, UH >10, margens irregulares ou áreas de necrose e calcificação indicam maior risco de carcinoma adrenocortical (CAC).
O risco de CAC é <2% em lesões <4 cm, 6% entre 4–6 cm e ≥25% em massas ≥6 cm.
Quando a TC é inconclusiva, podem ser utilizados ressonância magnética (RM) ou tomografia por emissão de positrões (PET) com 18F-fluor-2-desoxi-D-glicose (FDG) para caracterização adicional.
Punção ecoguiada da adrenal
A biópsia da adrenal raramente é necessária, mas pode ser decisiva em casos com histórico de malignidade extra-adrenal ou quando o diagnóstico influencia diretamente o tratamento.
A punção aspirativa/biópsia ecoguiada (EUS-FNA/FNB), vem ganhando destaque pela segurança e precisão.
Vantagens da EUS-FNA/FNB:
Segurança: taxas de complicações próximas a 0%, comparadas a até 4% na via percutânea.
Alta acurácia: sensibilidade de 86%–100% e especificidade de 97%–100% para metástases.
Acesso anatômico favorável: a adrenal esquerda é facilmente acessível pela parede gástrica posterior, sem estruturas críticas interpostas.
Impacto clínico: a confirmação de metástase pode evitar cirurgias desnecessárias e direcionar o tratamento sistêmico.
A biópsia é recomendada se três critérios forem preenchidos:
Exame de imagem (TC) duvidoso para lesão benigna
O resultado histológico pode alterar o manejo clínico
Feocromocitoma excluído
Em pacientes oncológicos, o exame é útil para confirmar metástase isolada, avaliar resposta terapêutica ou redefinir estadiamento.
Conduta e tratamento
O tratamento deve ser individualizado conforme o tipo de lesão e o perfil hormonal.
Lesões benignas e não funcionantes (<4 cm, ≤10 UH): geralmente não requerem intervenção nem seguimento prolongado.
Lesões suspeitas ou malignas: indicam adrenalectomia laparoscópica. A decisão cirúrgica deve considerar tamanho, crescimento, características radiológicas e status funcional.
Metástases adrenais confirmadas: podem ser tratadas com quimioterapia sistêmica ou cirurgia de ressecção em casos selecionados.
O manejo ideal é multidisciplinar, envolvendo endocrinologista, radiologista, cirurgião e endoscopista intervencionista.
Considerações finais
Os tumores adrenais exigem avaliação cuidadosa para evitar tanto cirurgias desnecessárias quanto atraso no diagnóstico de malignidades. A ecoendoscopia com FNA/FNB pode auxiliar no diagnóstico diferencial dos tumores adrenais. No entanto, só deve ser indicada após discusssão multidisciplinar e a suspeita de feocromociotoma deve ser excluído antes da punção.
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Ecoendoscopia na avaliação das neoplasias da vesícula biliar
Introdução
A neoplasia da vesícula biliar é geralmente diagnosticada tardiamente devido à ausência de sintomas específicos. A ecoendoscopia tem papel central na caracterização morfológica, avaliação da invasão parietal e hepática, pesquisa de linfonodos regionais e possibilidade de diagnóstico anatomopatológico por punção ecoguiada. A proximidade anatômica, traz vantagem à ecoendoscopia em relação a ultrassonografia transabdominal e a tomografia na avaliação local detalhada.
Formas de Apresentação
As neoplasias vesiculares podem se manifestar sob duas principais formas morfológicas:
Forma Polipoide
Lesão focal intraluminal, geralmente sólida, séssil ou com base ampla.
Pode surgir sobre pólipo adenomatoso ou displásico (adenocarcinoma in situ).
No EUS, os padrões suspeitos de malignidade incluem:
Tamanho >10 mm.
Margens irregulares e heterogeneidade interna.
Aumento da vascularização ao Doppler.
Perda do padrão de camadas da parede adjacente.
Obs: Pólipos <6 mm, múltiplos e hiperecogênicos costumam representar pólipos de comportamento benigno
Forma Infiltrativa (Espessamento da Parede)
O tumor se apresenta como espessamento focal assimétrico, irregular e heterogêneo da parede da vesícula.
Pode ser diagnóstico diferencial com patologias benignas como colecistite xantogranulomatosa ou adenomiomatose, mas o EUS ajuda pela visualização das camadas da parede:
Preservação das camadas → processo inflamatório benigno.
Desorganização ou perda das camadas → invasão neoplásica.
A invasão hepática é sugerida por apagamento da interface hiperecogênica entre a vesícula e o fígado.
Figura 1 – Neoplasia de vesícula em visão ecoendoscópica. Imagem adaptada de Takahashi et. al.Diagnostics (Basel), 2024.
Estadiamento por EUS
Características
Correlação Estadio
Acurácia
Tipo A
Pediculado; camada adjacente preservada
Tis
100%
Tipo B
Séssil / base larga; hiperecoica externa preservada
T1
76%
Tipo C
Séssil; hiperecoica estreitada
T2
85%
Tipo D
Séssil; hiperecoica desorganizada
T3-4
93%
Sadamoto e colaboradores propuseram uma classificação que correlaciona os achados na ecoendoscopia com o estadio oncológico, apresentando boa acurácia nas lesões precoces e avançadas, representadas pelos tipos A e D.
Punção Ecoguiada
Permite diagnóstico diferencial entre neoplasia de vesícula e patologias benignas
Direcionamento de terapia guiada por marcadores genômicos
Avaliação de linfonodos acometidos / metastases hepáticas
Puncionar primeiramente estas lesões e na sequência o tumor primário
Contraindicações relativas: tumores claramente ressecáveis, devido ao risco (ainda que baixo) de disseminação peritoneal.
Evitar transfixar a luz da vesícula pelo risco de colecistite
Contraste Harmônico
Carcinomas: realce heterogêneo e irregular, com washout precoce.
Pólipos benignos: realce homogêneo e sustentado.
Aumenta a acurácia na distinção entre adenoma e carcinoma precoce, e na definição dos limites tumorais para planejamento cirúrgico.
Inteligência artificial
O uso de inteligência artificial e deep learning aplicados às imagens de EUS tem mostrado desempenho promissor para:
Diferenciar pólipos benignos e malignos
Detectar invasão da parede,
Estimar o estadiamento T com acurácia superior a 90% em estudos recentes
Conclusão
A ecoendoscopia representa ferramenta precisa para avaliação detalhada das neoplasias de vesícula biliar, permitindo a caracterização morfológica, vascular, estadiamento loco-regional e amostragem tecidual guiada, desempenhando papel essencial na definição da conduta.
Referências
Szpakowski JL, Tucker LY. Outcomes of Gallbladder Polyps and Their Association With Gallbladder Cancer in a 20-Year Cohort.JAMA Netw Open. 2020 May 1;3(5):e205143
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Obaid et al. Detection of Gallbladder Disease Types Using Deep Learning: An Informative Medical Method.Diagnostics (Basel). 2023 May 15;13(10):1744.
Pâncreas Gorduroso/Esteatose Pancreática na Ecoendoscopia: Fatores de Risco, Correlação com TC/RNM e Implicações para o Rastreamento do Câncer de Pâncreas
Artigo “Fatty pancreas on EUS: Risk factors, correlation with CT/MRI, and implications for pancreatic cancer screening” publicado na Endoscopic Ultrasound em janeiro de 2025, cuja referência principal é: Ibrahim RM, Solanki S, Qiao W, Hwang H, Singh BS, Cazacu IM, Saftoiu A, Katz MHG, Kim MP, McAllister F, Bhutani MS. Fatty pancreas on EUS: Risk factors, correlation with CT/MRI, and implications for pancreatic cancer screening. Endosc Ultrasound. 2025 Jan-Feb;14(1):13-19. doi: 10.1097/eus.0000000000000109. Epub 2025 Mar 3. PMID: 40151596; PMCID: PMC11939939.
Introdução
A esteatose pancreática (pancreatic steatosis), pâncreas gorduroso (fatty pancreas) ou lipomatose pancreática é uma doença pouco valorizada, porém que vem ganhando notoriedade à medida que novos estudos sobre o tema demonstram sua relevância. Apresenta incidência entre 12,9 e 27,8%, e correlação com obesidade, hipertensão, dislipidemia e diabetes (1, 2).
Dois mecanismos distintos correspondem a sua fisiopatologia:
a lipossubstituição, que envolve morte de células pancreáticas, substituídas por adipócitos após múltiplas condições como fatores genéticos, fibrose, álcool, infecções virais, sobrecarga de ferro, medicações (exemplo: corticoides) e obstrução ductal crônica;
a infiltração gordurosa, cujo nome é autoexplicativo e se associa a obesidade e síndrome metabólica (nonalcoholic fatty pancreas disease – NAFPD).
Apesar de tratar-se de uma condição benigna, ela apresenta implicações clínicas muito relevantes e muitos ecoendoscopistas não estão familiarizados com os achados e com sua relevância (veja mais nesse artigo do Gastropedia: esteatose-pancreatica-onde-estamos. O objeto deste estudo é revisar o diagnóstico, fatores de risco/demografia e correlações clínicas, bem como comparar a ecoendoscopia (endoscopic ultrasound – EUS) com outros exames de imagem como tomografia computadorizada (TC) e ressonância nuclear magnética (RNM).
Métodos
Trata-se de um trabalho retrospectivo do MD Anderson Cancer Center (Universidade do Texas). Pacientes com (I) diagnóstico de esteatose pancreática no EUS e (II) TC ou RNM prévia (entre 3 e 12 meses antes do EUS) foram incluídos.
O diagnóstico no EUS se deu pela imagem pancreática hiperecoica difusa ou salteada, com borramento de seus limites e difícil caracterização do ducto pancreático principal ao invés do aspecto em “sal e pimenta” bem delimitado habitual – veja as imagens ilustrativas abaixo:
Imagens ilustrativas:
Esteatose pancreática: padrão salteadoEsteatose pancreática: pâncreas difusamente hiperecoico com perda de seus limites e não individualização do ducto pancreático principalPâncreas normal com padrão em sal e pimenta
Resultados
Um total de 91 pacientes foram incluídos (todos com esteatose pancreática no EUS), sendo 66% obesos (IMC > 30), 64% hipertensos e 33% com DM. Destes pacientes, 70 tinham exame de imagem (TC ou RNM) em até 3 meses e apenas 15 (21,4%) com o diagnóstico de esteatose. Todos pacientes tinham exame de imagem em até 12 meses do EUS, sendo 16 (17,6%) com o diagnóstico de esteatose.
Não houve diferença na comparação entre os dados dos pacientes com diagnóstico de pâncreas gorduroso no exame de imagem (RNM ou TC) e EUS vs diagnóstico apenas no EUS, sugerindo que muitos podem não ter sido reportados por falta de atenção e/ou conhecimento da esteatose pancreática. Outra hipótese para tal discrepância é a maior sensibilidade do EUS.
Discussão
Nos últimos anos, a esteatose hepática ganhou muita atenção, pois houve melhor compreensão sobre sua relação com cirrose e câncer hepático. De maneira análoga, mais trabalhos sobre a esteatose pancreática tem sido publicados.
Este e muitos outros estudos apontam a correlação entre obesidade, HAS, DM e dislipidemia com a esteatose pancreática. Apesar das comorbidades citadas poderem causar a infiltração gordurosa no pâncreas, estudos prospectivos mostraram que elas também podem ser consequência desta doença (3, 4).
O pâncreas gorduroso também se mostrou relacionado a pancreatite aguda (37,7% vs 4,7%) e crônica (5). Estudos recentes apontam para a esteatose como fator de risco para pancreatite pós-CPRE (14% x 6,2%, p=0,017), indicando a necessidade de medidas preventivas para esta complicação nos respectivos pacientes (6, 7). Tal doença também é considerada um fator de risco para fístula pancreática pós-operatória (8, 9).
Uma série de trabalhos associa esta entidade e a obesidade ao câncer pancreático e lesões pré-neoplásicas (10-16).
O padrão ouro para o diagnóstico é a biópsia pancreática, porém, por seu caráter invasivo, métodos de imagem são realizados com maior frequência. A TC e ultrassom abdominal demonstraram menor sensibilidade para detectar esteatose pancreática. A RNM é considerada como o melhor método não invasivo e alguns estudos demonstram prevalência semelhante em relação ao EUS. Por outro lado, sabe-se que o EUS apresenta melhor acurácia para o diagnóstico de lesões pequenas e, por exemplo, pancreatite crônica, de modo que poderia apresentar melhor sensibilidade para o pâncreas gorduroso. O dado do presente estudo de apenas 21,4% (3 meses) e 17,6% (12 meses) das TC e RNM apresentarem o diagnóstico estabelecido de pâncreas gorduroso no EUS, também pode apontar para uma melhor acurácia deste último. Entretanto, com base na literatura atual, ambos são métodos bons e válidos na detecção desta patologia.
Novos estudos nos auxiliarão a compreender melhor essas correlações, bem como fornecer ferramentas mais objetivas para o diagnóstico e conduta destes pacientes. Porém, considerando a literatura disponível, é de grande importância ao endoscopista e demais médicos envolvidos no cuidado destes pacientes, conhecer o assunto para fazer o diagnóstico do pâncreas gorduroso, bem como abordar, de modo preventivo, suas potenciais implicações deletérias à saúde, como DM, HAS e câncer de pâncreas.
Referências
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As lesões subepiteliais são conceitualmente definidas por lesões originadas das camadas muscular da mucosa, submucosa ou muscular própria, as quais podem ocorrer em qualquer órgão do trato gastrointestinal1. O termo lesões submucosas foi antigamente empregado para essas condições, mas não deve ser mais utilizado, pois essa antiga nomenclatura remete a injúrias restritas a camadas abaixo da submucosa2.
O diagnóstico histopatológico definitivo das lesões subepiteliais é de grande importância, pois possibilita a definição do prognóstico, o risco de degeneração neoplásica e definição de conduta entre expectante, vigilância, ressecções endoscópicas ou tratamento cirúrgico. Isso se deve ao fato de existir uma ampla variedade de diagnósticos diferenciais possíveis, cuja evolução, quadro clínico, risco de complicações e taxa de degeneração neoplásica variam consideravelmente.
Epidemiologia
Apesar das lesões subepiteliais poderem ser encontradas em qualquer órgão do trato gastrointestinal, o principal sítio de localização consiste no estômago. Além disso, as exatas taxas de incidência e prevalência dessas condições são desconhecidas devido a carência de estudos epidemiológicos de condições cujo diagnóstico na maioria dos casos é incidental, dificultando o estudo na população geral. Entretanto, alguns dados na literatura já tentaram estimar essa informação, demonstrando uma prevalência de detecção de lesões subepiteliais em 1,9% das endoscopias digestivas altas realizadas na Coreia, sendo que 64,1% foi identificada no estômago.16,19 Outros estudos estimam uma incidência de cerca de 0,36% de lesões subepiteliais diagnosticas por endoscopias digestivas altas de rotina.20-23 Com relação ao prognóstico, a maioria das lesões subepiteliais são benignas ao diagnóstico, sendo estimadas lesões malignas em menos de 15% dos casos.16,18
Quadro Clínico
A grande maioria dos casos apresenta-se assintomático, principalmente lesões inferiores a 2 cm15. Dentre os casos sintomáticos, o quadro clínico é variável conforme localização, etiologia e tamanho das lesões.
Os sintomas mais frequentes são dor abdominal e hemorragia digestiva. Entretanto, podem ocorrer raramente sintomas de suboclusão do trato gastrointestinal, sendo esse quadro mais frequentemente associado a lesões no intestino delgado.
Com relação ao tamanho das lesões, a manifestação de sintomas será variável a depender do órgão acometido. Afinal, lesões menores no esôfago podem se manifestar com disfagia e no reto com alteração de hábito intestinal. A manifestação de sintomas suboclusivos no estômago dependerá da existência de lesões maiores diante do maior volume da câmara gástrica em relação aos demais segmentos do aparelho digestivo.
Apresentações Endoscópicas e Ecoendoscópicas das Lesões Subepiteliais
As lesões subepiteliais apresentam-se à visão endoscópica como um abaulamento ou protuberância de mucosa com tamanho variável. Em geral, a mucosa sobreposta a lesão é íntegra, mas dependendo da etiologia, é possível haver enantema, erosão ou ulceração devido efeito de pressão da lesão ou, mais raramente, degeneração maligna. Outros parâmetros endoscópicos podem ser avaliados e podem permitir uma impressão diagnóstica sobre a lesão, como: coloração, superfície, mobilidade e consistência da lesão.
Algumas manobras simples ao exame endoscópico podem garantir também maior segurança para estabelecer uma impressão de diagnóstico etiológico das lesões subepiteliais, podendo em alguns casos definir conduta expectante para essas lesões. As principais manobras consistem: sinal do travesseiro ou almofada (pillow sign), sinal do rolamento (rolling sign) e sinal da tenda (tenting sign) (figuras 1, 2 e 3).
O sinal do travesseiro consiste em manipular a lesão com a pinça de biópsia, empurrando a mesma. Caso a lesão seja compressível ao toque da pinça e haja retorno a morfologia habitual da lesão após a retirada do instrumento, a lesão é sugestiva de lipoma (98% de especificidade e 40% de sensibilidade)4.
O sinal do rolamento quando presente sugere que a lesão se encontra na muscular própria ou abaixo da mesma. É realizado sob auxílio de pinça de biópsia fechada, deslizando a mesma sobre a lesão, permitindo com que a lesão seja facilmente mobilizada.16
O sinal da tenda apresenta a mesma implicância clínica do sinal do rolamento.16 Sob auxílio de pinça de biópsia, realiza-se apreensão superficial da mucosa sobrejacente a lesão, permitindo com que a mucosa e submucosa se destaquem facilmente da lesão.
Com relação à ecoendoscopia, o método permite avaliar com muita precisão as camadas e interfaces do trato gastrointestinal, sendo o melhor método de imagem para avaliar e caracterizar as lesões subepiteliais. Com uma frequência de varredura entre 5 a 12 MHz, o ultrassom endoscópico permite distinguir as paredes do TGI em 5 camadas: mucosa superficial (1ª camada ou interface fluído luminal e mucosa), mucosa profunda (2ª camada ou muscular da mucosa), submucosa (3ª camada), muscular própria (4ª camada) e serosa (5ª camada) (figura 4)15,24-26.
Imagem 1. Sinal da almofada (“pillow sign”) Fonte: Kim GH et al.16Imagem 2. Sinal do rolamento (“rolling sign”) Fonte: Kim GH et al.16Imagem 3. Sinal da tenda (“tenting sign”) Fonte: Kim GH et al.16Imagem 4. Ecoendoscopia demonstrando lesão com ecogenicidade hipoecoica, ecotextura homogênea, arredondada, limites bem definidos, contornos regulares, medindo 15 mm x 12 mm e inserida na camada muscular própria. A imagem permite demonstrar as camadas mucosa superficial, mucosa profunda, submucosa, muscular própria. Fonte: arquivos do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP/HCFMUSP).
A tabela 1 demonstra resumidamente os achados endoscópicos e ecoendoscópicos das principais lesões do trato gastrointestinal. E as imagens de 1 a 14 demonstram exemplos de casos de lesões com suas respectivas imagens endoscópicas e ecoendoscópicas.
Lesão Subepitelial
Camada de Origem
Sítios Principais
Ecoendoscopia
Endoscopia
Cisto de duplicação
1ª, 2ª, 3ª, 4ª ou extramural
– Esôfago – Mediastino
– Anecoico – Arredondado ou oval – Sem vascularização
– Normocorado ou ligeiramente translúcido – Superfície regular – Compressível à manipulação
GIST
4ª (principal) 2ª (infrequente)
– Estômato (65%) – Delgado (25%)
– Hipoecoico – Heterogêneo – Com ou sem vascularização
– Normocorado – Superfície regular, com erosão ou ulceração – Consistência endurecida
Leiomioma
2ª (principal) 4ª (infrequente)
– Esôfago
– Hipoecoica – Homogênea – Calcificações no interior
Tabela 1. Achados Endoscópicos e Ecoendoscópicos das Lesões Subepiteliais do Trato Gastrointestinal Adaptado de: ESGE1, ASGE27, ACG14, AGA11, Kim GH16
Abordagem Diagnóstica e Aquisição Tecidual
Como mencionado, a identificação de uma lesão subepitelial é na grande maioria das vezes incidental em uma endoscopia digestiva alta. Os achados endoscópicos somados a propedêutica em muitos casos não irão permitir o estabelecimento de uma conduta definitiva sem o diagnóstico histopatológico. Além disso, as biópsias convencionas de mucosa possuem um rendimento histopatológico extremamente baixo no diagnóstico de lesões subepiteliais, afinal as lesões em sua maioria são revestidas por mucosa íntegra. A realização de biópsias sobre biópsias também não apresenta rendimento significativo (55 a 65% para lesões da terceira camada e 40% para lesões da quarta camada)6,7, não sendo um método de abordagem recomendado.
A Sociedade Europeia de Endoscopia Gastrointestinal (ESGE) recomenda aquisição tecidual de lesões subtepiteliais quando: há suspeita de tumor estromal gastrointestinal (GIST), lesões superiores a 20 mm, lesões com estigmas de alto risco ou necessidade de tratamento cirúrgico ou oncológico. Em caso de lesões assintomáticas compatíveis com lipoma, varizes ou pâncreas ectópico, não há indicação de aquisição tecidual.
Os métodos que permitem aquisição tecidual consistem nos seguintes: biópsia assistida por incisão de mucosa (mucosal incision-assisted biopsy, MIAB), punções ecoendoscópicas com agulha FNA (fine needle aspiration, EUS-FNA) ou com agulha FNB(fine needle biopsy, EUS-FNB).
Em lesões superiores a 20 mm, a ESGE recomenda igualmente como primeira escolha MIAB ou EUS-FNB. Entretanto, lesões inferiores a 20 mm, a ESGE recomenda como primeira linha o MIAB, sendo a EUS-FNB segunda escolha (tabela 2). Afinal, nessas lesões, há menor rendimento diagnóstico com punções ecoguiadas diante de maior dificuldade técnica para aquisição de amostras significativas. Para uma discussão mais aprofundada sobre MIAB, confira esse outro artigo: Biópsia Assistida por Incisão da Mucosa: Quando e Como Fazer?. Com relação às agulhas FNA, estudos prospectivos e retrospectivos vêm demonstrando que FNB possui melhor aquisição tecidual em relação a agulhas FNA quando comparadas a calibres (gauges) semelhantes, apresentando perfis de segurança semelhante e com precisão diagnóstica variando entre 75 a 100%.8-11 Portanto, o III Consenso Brasileiro de Ecoendoscopia recomenda o uso de FNB em relação ao uso de FNA para o diagnóstico de lesões subepiteliais maiores de 20 mm, sendo concordante com o guideline da ESGE13.
Tamanho
Método de Escolha
LSE > 20 mm
1ª escolha: EUS-FNB ou MIAB
LSE < 20 mm
1ª escolha: MIAB 2ª escolha: EUS-FNB
Tabela 2 Recomendações da ESGE
Vigilância
A vigilância consiste no seguimento das lesões subepiteliais, podendo ser realizado por EDA e/ou ecoendoscopia a depender do tamanho da lesão. A ESGE sugere vigilância em lesões subepiteliais esofágicas e gástrica, desde que sejam assintomática e não tenham diagnóstico histopatológico definitivo. Recomenda-se realização de EDA em 3 a 6 meses como primeiro exame de vigilância, sendo seguida de EDA a cada 2 a 3 anos para lesões inferiores a 10 mm, e EDA a cada 1 a 2 anos para lesões entre 10 a 20 mm. Além disso, como alternativa a vigilância de lesões gástricas inferiores a 20 mm e sem diagnóstico definitivo, a ESGE sugere ressecção endoscópica para esses casos.
Em caso de lesões superiores a 20 mm, assintomática e que não tenham sido ressecadas, a ESGE recomenda vigilância com EDA e ecoendoscopia necessariamente, sendo o primeiro controle em 6 meses, sendo seguido de intervalos de 6 a 12 meses.
Além disso, nas seguintes situações, opta-se por conduta expectante, não sendo recomendado vigilância pela ESGE, desde que o paciente seja assintomático e o diagnóstico histopatológico seja definitivo: leiomiomas, lipomas, pâncreas ectópico, tumores de células granulares, schawannomas e tumores glômicos.
Veja Figuras sobre achados endoscópicos e suas correlações ecoendoscópicas a seguir:
Figuras 1 e 2. Imagem endoscópica em visão direta de lesão protrusa entre pequena curvatura e parede posterior de corpo gástrico proximal, revestida por mucosa com superfície regular, normocorada e íntegra. A imagem ecoendoscópica demonstra lesão com ecogenicidade hipoecoica, ecotextura homogênea, formato ovalado, sem características internas, sem vascularização ao doppler, limites precisos, contornos regulares, medindo aproximadamente 20 x 6 mm e inserida em camada muscular própria. Punções ecoguiadas foram realizadas com agulha FNB, sendo o anatomopatológico e imuno-histoquímica compatíveis com GIST gástrico. Fonte: arquivos do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP/HCFMUSP)Figuras 1 e 2. Imagem endoscópica em visão direta de lesão protrusa entre pequena curvatura e parede posterior de corpo gástrico proximal, revestida por mucosa com superfície regular, normocorada e íntegra. A imagem ecoendoscópica demonstra lesão com ecogenicidade hipoecoica, ecotextura homogênea, formato ovalado, sem características internas, sem vascularização ao doppler, limites precisos, contornos regulares, medindo aproximadamente 20 x 6 mm e inserida em camada muscular própria. Punções ecoguiadas foram realizadas com agulha FNB, sendo o anatomopatológico e imuno-histoquímica compatíveis com GIST gástrico. Fonte: arquivos do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP/HCFMUSP)Figuras 3 e 4. Imagem endoscópica em visão direta de abaulamento de parede em segunda porção duodenal distalmente à papila duodenal maior, revestida por mucosa com íntegra, de coloração amarelada e superfície regular. A ecoendoscopia demonstra lesão com ecogenicidade hiperecoica, ecotextura homogênea, formato arredondado, medindo cerca de 10 mm no maior eixo, com limites precisos, contornos regulares, medindo cerca de 10 mm no maior diâmetro e inserida em camada submucosa, sendo os achados endoscópicos e ecoendoscópicos compatíveis com lipoma.Figuras 3 e 4. Imagem endoscópica em visão direta de abaulamento de parede em segunda porção duodenal distalmente à papila duodenal maior, revestida por mucosa com íntegra, de coloração amarelada e superfície regular. A ecoendoscopia demonstra lesão com ecogenicidade hiperecoica, ecotextura homogênea, formato arredondado, medindo cerca de 10 mm no maior eixo, com limites precisos, contornos regulares, medindo cerca de 10 mm no maior diâmetro e inserida em camada submucosa, sendo os achados endoscópicos e ecoendoscópicos compatíveis com lipoma.Fig. 5. Imagem endoscópica em visão direta de lesão protrusa em parede anterior de antro gástrico proximal, revestida por mucosa normocorada, com superfície regular, sendo sugestiva de lesão subepitelial.Fig. 6. A ecoendoscopia evidencia lesão com ecogenicidade hipoecoica, ecotextura predominantemente homogênea, formato arredondado, limites precisos, bordos regulares, medindo aproximadamente 13,4 x 12 mm, sem focos hiperecoicos ou calcificações no interior e inserida na camada muscular própria. Punções ecoguiadas foram realizadas com agulha FNB, sendo anatomopatológico e imuno-histoquímica confirmando schwanomma gástrico.Fig. 7 e 8. Imagem de esofagogastroduodenoscopia demonstra lesão protrusa em papila duodenal maior revestida por mucosa enantemática e com superfície com três erosões recobertas por fibrina.Fig. 7 e 8. Imagem de esofagogastroduodenoscopia demonstra lesão protrusa em papila duodenal maior revestida por mucosa enantemática e com superfície com três erosões recobertas por fibrina.Fig. 9 e 10. Imagem à ecoendoscopia demonstra lesão com formato ovalado, ecogenicidade hipoecoica, ecotextura heterogênea, com contornos regulares, sem adenopatia adjacente, sem vascularização ao doppler, sem características internas, medindo cerca de 20 x 11 x 24 mm, inserida na camada submucosa, não havendo acometimento da muscular própria. Foram realizadas punções ecoguiadas com agulha FNA 22 gauge, sendo o anatomopatológico e imunohistoquímica compatíveis com tumor neuroendócrino de papila duodenal bem diferenciado grau 1.Fig. 9 e 10. Imagem à ecoendoscopia demonstra lesão com formato ovalado, ecogenicidade hipoecoica, ecotextura heterogênea, com contornos regulares, sem adenopatia adjacente, sem vascularização ao doppler, sem características internas, medindo cerca de 20 x 11 x 24 mm, inserida na camada submucosa, não havendo acometimento da muscular própria. Foram realizadas punções ecoguiadas com agulha FNA 22 gauge, sendo o anatomopatológico e imunohistoquímica compatíveis com tumor neuroendócrino de papila duodenal bem diferenciado grau 1.Fig. 11 e 12. Esofagogastroduodenoscopia demonstra abaulamento de parede anterior de corpo gástrico proximal, com mucosa normocorada, superfície regular com depressão central, sendo compatível com lesão subepitelialFig. 11 e 12. Esofagogastroduodenoscopia demonstra abaulamento de parede anterior de corpo gástrico proximal, com mucosa normocorada, superfície regular com depressão central, sendo compatível com lesão subepitelialFig. 13 e 14. Ecoendoscopia demonstrou formação com ecogenicidade hipoecoica, ecotextura homogênea, formato ovalado, limites bem definidos, contornos regulares, medindo aproximadamente 13 mm e inserida na camada submucosa. Lesão foi submetida a ressecção endoscópica transmural com dispositivo FTRD. A histopatologia e imunohistoquímica confirmaram TNE gástrico bem diferenciado grau 2.Fig. 13 e 14. Ecoendoscopia demonstrou formação com ecogenicidade hipoecoica, ecotextura homogênea, formato ovalado, limites bem definidos, contornos regulares, medindo aproximadamente 13 mm e inserida na camada submucosa. Lesão foi submetida a ressecção endoscópica transmural com dispositivo FTRD. A histopatologia e imunohistoquímica confirmaram TNE gástrico bem diferenciado grau 2.
Referências
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Homem, 80 anos, tabagista, com sequelas de AVE prévio e sem antecedentes cirúrgicos, vem apresentando quadro progressivo de icterícia + colúria + acolia fecal associado a anorexia e perda de peso há 45 dias.
Durante investigação constatou-se à RNM de abdome uma volumosa massa sólida em topografia de cabeça pancreática com invasão de veia mesentérica.
Posteriormente submeteu-se à Ecoendoscopia com punção da lesão que confirmou se tratar de Adecocarcinoma mal diferenciado. Em virtude do estadiamento e condições clínicas do paciente, foi definido em avaliação multidisciplinar por tratamento oncológico clínico (não cirúrgico) com drenagem da obstrução biliar maligna (OBM) através de prótese metálica autoexpansível (PMAE).
Schwannoma de cólon ascendente: Uma rara lesão diagnosticada por ecoendoscopia
Apresentação do caso:
Paciente de 73 anos, do sexo feminino, foi submetida a colonoscopia de rastreamento que evidenciou lesão elevada séssil de aspecto subepitelial, sinal da tenda positivo e do travesseiro negativo, no cólon ascendente, medindo 30 mm, recoberta por mucosa íntegra e com suspeita tomográfica de pólipo inflamatório.
Optado pela investigação adicional com ecoendoscopia para decisão terapêutica, sendo possível alcançar a lesão com ecoendoscópio setorial.
Avaliação ecográfica revelou lesão nodular hipoecoica, heterogênea, de limites bem definidos, medindo 27 x 26 mm, localizada e restrita a camada muscular própria, sem linfonodomegalias perilesionais.
Realizada punção ecoguiada utilizando agulha FNB 22 Gauge, revelando neoplasia fusocelular de baixo grau.
Exame imunohistoquímico com resultado positivo para S100 e negativo para C-KIT , DOG-1, actina e CD34.
Tais achados corroboram o diagnóstico de Schwannoma.
Paciente foi submetida a colectomia direita videolaparocópica com retirada completa da lesão e sem necessidade de fazer linfadectomia oncológica.
Discussão:
O Schwannoma é um tumor originário de células de Schwann, presente na bainha de mielina de nervos periféricos.
Essa neoplasia possui menor incidência no trato gastrointestinal acometendo o plexo mioentérico de Auerbach, nos quais a maioria dos casos reportados estão localizados no estômago e intestino delgado, acometendo raramente o cólon.
Possui maior prevalência a partir da sexta década de vida e não tem predominância de gênero.
O quadro clínico comumente é assintomático ou composto por sintomas inespecíficos como dor e desconforto abdominal, tenesmo, constipação, sangramento retal ou melena.
A descoberta geralmente é incidental por meio do rastreamento endoscópico, revelando lesão de aspecto subepitelial de formato regular e bem definido, podendo ou não ser ulcerada.
O diagnóstico definitivo é por meio de exame patológico com imunohistoquímica positiva para S100 e negativo para SMA, Desmina, CD117 e P53.
A ecoendoscopia baixa é desafiadora, mas com habilidade técnica ela pode ser realizada de forma eficaz, contribuindo para a definição diagnóstica e direcionando a escolha da técnica cirúrgica, resultando em uma abordagem menos invasiva.
Usualmente os tumores são benignos com prognóstico favorável, com raros casos de transformação maligna.
De forma geral, a ressecção cirúrgica é o tratamento de escolha para evitar a transformação maligna.
Comentários finais:
Schwannoma de cólon é uma lesão extremamente rara, sendo diagnóstico diferencial de tumor estromal gastrointestinal. A avaliação por ecoendoscopia com punção permite o diagnóstico pré-operatório, possibilitando ressecções cirúrgicas menos extensas e com menor morbidade, contribuindo com um bom prognóstico. Na maioria dos casos o diagnóstico é feito após análise histopatológica de peça cirúrgica. Se faz necessário a avaliação imunohistoquímica para diferenciação de outros tipos histológicos de tumores que acometem o cólon.
Referências
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Durante anos, a presença de vasos de grande calibre entre o ecoendoscópio e a lesão representava um obstáculo intransponível. Mas os tempos mudaram: a evolução técnica e a experiência crescente com punção transvascular guiada por EUS/EBUS (TVNA) mostram que esse caminho, antes temido, pode ser seguro e altamente eficaz, desde que bem indicado.
O que é a TVNA?
A TVNA é uma técnica de punção por agulha fina em que a agulha atravessa um vaso sanguíneo interposto (como a aorta, artéria pulmonar ou veia cava) para alcançar uma lesão torácica ou abdominal.
Objetivo: coletar tecido para análise citopatológica ou histológica
Guia: ecoendoscopia em tempo real com doppler
Público alvo: pacientes sem outra via de acesso para diagnóstico
Quando considerar?
Abaixo um fluxograma para indicar a técnica:
Evidências atuais:
Estudo multicêntrico espanhol (Garcia-Sumalla et al., 2020)
Pacientes: 49 (50 procedimentos)
Vasos transfixados: Aorta (n=19), sistema portal (n=17)
Figura: punção ecoguiada transfixando veia cava inferior com agulha 22G para investigação linfonodo suspeito. Imagem retirada de Garcia-Sumalla et al., 2020.
Meta-análise (Giri et al., 2023)
Estudos analisados: 17
Pacientes: 411
Acurácia diagnóstica: 85%
Adequação da amostra: 91,5%
Taxa de sangramento: 1,4% (todos autolimitados)
Técnica passo a passo:
Avaliação prévia com imagem (TC ou RNM)
Estudo cuidadoso com doppler
Evitar vasos com calcificação ou aneurismas
Escolher agulhas finas (FNA 25G ou 22G)
Preferir técnica com ROSE, se disponível
Após punção, monitorar área por 2 minutos com doppler
Observação clínica de 6 horas à 24 horas
Pontos-chave:
Permite diagnóstico de lesões “inacessíveis”
Evita procedimentos cirúrgicos mais invasivos
Alta acurácia quando bem indicada
Necessita de centro especializado
Contraindicado em coagulopatia ou hipertensão portal
Monitoramento rigoroso no pós-procedimento
Ainda sem estudos com FNB
Conclusão
A TVNA representa uma verdadeira virada de chave na econdoscopia diagnóstica. Ao vencer a barreira dos grandes vasos com precisão, segurança e racionalidade, ampliamos o espectro de pacientes que podem se beneficiar de diagnósticos menos invasivos e mais ágeis. É uma técnica que exige respeito, preparo e critério, mas que, nas mãos certas, torna o impossível acessível.
Referências
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A drenagem ecoguiada coledocoduodenal (EUS-BD) pode substituir a CPRE com passagem de prótese nas obstruções biliares malignas distais?
Essa é a questão que Ji Young Bang e colaboradores buscaram responder em um estudo retrospectivo, avaliando os critérios de elegibilidade e as tecnologias disponíveis atualmente. O artigo “Rate of suitable cases for primary EUS-guided biliary drainage in distal malignant biliary obstruction” de Bang JY et al., publicado online em Gut em 26 de fevereiro de 2025, apresenta informações importantes sobre as limitações da drenagem ecoguiada, sob a ótica de um grupo com vasta expertise nessa abordagem.
Resumo
Atualmente, a CPRE é considerada a principal estratégia terapêutica para as obstruções malignas distais. No entanto, complicações como pancreatite, disfunção das próteses biliares e dificuldades no acesso à papila devido à invasão tumoral limitam sua aplicabilidade. A drenagem ecoguiada coledocoduodenal, proposta como alternativa à CPRE desde o início deste século, apresenta o benefício de evitar tanto a área de invasão tumoral quanto a instrumentação do ducto pancreático, o que reduz o risco de pancreatite e disfunção das próteses biliares. Uma meta-análise de 6 estudos randomizados controlados envolvendo 570 pacientes mostrou que a abordagem ecoendoscópica oferece menor risco de pancreatite e necessidade de reinternação por complicações associadas à drenagem biliar.
Dada essas observações promissoras, a drenagem ecoguiada primária tem sido sugerida como uma alternativa terapêutica à CPRE. No entanto, o procedimento técnico, que envolve o acesso ao ducto biliar com uma agulha de 19 Gauge, exige que o ducto biliar esteja dilatado. Dois dos seis estudos da meta-análise utilizaram como critério de elegibilidade um diâmetro do hepatocolédoco superior a 12 mm, enquanto nos outros estudos, a média do diâmetro foi superior a 12 mm.
A proporção de pacientes com obstrução biliar maligna distal em que a drenagem ecoguiada é viável na prática clínica ainda não é bem conhecida. Para investigar essa questão, Bang e colaboradores analisaram dados retrospectivos de pacientes submetidos à CPRE e à drenagem ecoguiada entre janeiro de 2022 e novembro de 2024. A CPRE foi utilizada como modalidade primária, e a drenagem ecoguiada como abordagem de resgate em pacientes com falha da CPRE. Foram incluídos pacientes com mais de 18 anos e dilatação superior a 11 mm do hepatocolédoco.
Dos 3201 pacientes submetidos à CPRE durante o período do estudo, 439 foram incluídos na análise. A drenagem por CPRE foi bem-sucedida em 406 pacientes (92,5%), com uma mediana do diâmetro do hepatocolédoco de 11,5 mm (IQR 10-15 mm). Em 59 casos (14,5%), foram necessárias técnicas avançadas de canulação. Complicações ocorreram em 38 pacientes (9,4%), incluindo pancreatite em 18 casos, colangite em 11, sangramentos em 7 e duas perfurações. Todos os eventos adversos foram controlados por endoscopia, exceto um sangramento que exigiu intervenção radiológica.
Nos 33 pacientes em que a CPRE falhou, a drenagem ecoguiada foi bem-sucedida em 29 casos (87,9%). Foram realizadas 28 coledocoduodenostomias e um acesso por rendez-vous. A mediana do diâmetro do hepatocolédoco nesses casos foi de 16 mm (IQR 13-18 mm). No caso tratado com rendez-vous, o diâmetro do hepatocolédoco era de 11 mm. Nos 28 pacientes tratados com drenagem ecoguiada, a prótese axios foi utilizada em 22 casos, e próteses metálicas totalmente revestidas foram aplicadas em 6.
Dois pacientes não puderam ser tratados com drenagem ecoguiada devido a um diâmetro do hepatocolédoco inferior a 10 mm, enquanto outros dois apresentaram insucesso técnico devido ao disparo inadequado da flange distal das próteses. Todos esses casos foram tratados com drenagem percutânea.
Durante o período do estudo, observou-se que os pacientes tratados com CPRE apresentaram uma mediana do diâmetro do hepatocolédoco significativamente menor (11,5 mm, IQR 10-15 mm) em comparação aos tratados com drenagem ecoguiada de resgate (16 mm, IQR 13-18 mm; p<0,001). Notavelmente, 44,9% dos pacientes (197 dos 439) apresentaram diâmetro inferior a 12 mm, o que os tornou inelegíveis para a drenagem ecoguiada.
Bang e cols. concluem que embora este estudo reforce a drenagem ecoguiada como uma excelente opção de resgate após falha da CPRE no tratamento da obstrução biliar maligna distal, ele também revela que uma proporção significativa de pacientes (44,9%) não seria elegível para a coledocoduodenostomia por ecoendoscopia. A CPRE continua sendo a primeira escolha para drenagem biliar em casos de obstrução biliar maligna distal, com uma taxa de sucesso superior a 95% nas mãos de especialistas, quando a papila duodenal é acessível. A drenagem ecoguiada é uma alternativa eficaz quando há dilatação do ducto biliar, mas a presença de uma dilatação mínima de 12 mm é crítica para o sucesso da abordagem, especialmente no uso da prótese LAMS. Portanto, dado o atual cenário técnico e tecnológico, não é realista substituir a CPRE pela drenagem coledocoduodenal ecoguiada, uma vez que essa abordagem só é viável para 60% dos pacientes, ou seja, aqueles com dilatação superior a 11 mm. Em comparação, a CPRE oferece um sucesso superior a 99% na drenagem biliar de pacientes com estenose maligna distal.
Comentários:
Apesar de metanálises recentes, como as de Gapakumar e colaboradores e Khoury e colaboradores, apontarem que a drenagem ecoguiada coledocoduodenal apresenta vantagens, como menor índice de pancreatite, maior tempo de patência com menor disfunção da prótese biliar e menor tempo de procedimento, sugerindo sua utilização como abordagem primária, Bang e colaboradores, em sua análise retrospectiva, destacam as limitações do método. Eles reforçam a necessidade de uma dilatação maior que 11 mm para que a drenagem ecoguiada seja bem-sucedida.
Assim, podemos concluir que, no cenário atual, a drenagem ecoguiada coledocoduodenal é uma opção terapêutica eficaz na falha da drenagem por CPRE, especialmente quando o acesso à papila não é viável por endoscopia e há dilatação superior a 11 mm do hepatocolédoco.
Bang JY, Faraj Agha M, Hawes R, Varadarajulu S. Rate of suitable cases for primary EUS-guided biliary drainage in distal malignant biliary obstruction. Gut. 2025 Feb 26:gutjnl-2025-334979. doi: 10.1136/gutjnl-2025-334979. Epub ahead of print. PMID: 40011036.
Gopakumar H, Singh RR, Revanur V, Kandula R, Puli SR. Endoscopic Ultrasound-Guided vs Endoscopic Retrograde Cholangiopancreatography-Guided Biliary Drainage as Primary Approach to Malignant Distal Biliary Obstruction: A Systematic Review and Meta-Analysis of Randomized Controlled Trials. Am J Gastroenterol. 2024 Aug 1;119(8):1607-1615. doi: 10.14309/ajg.0000000000002736. Epub 2024 Feb 29. PMID: 38421018.
Khoury T, Sbeit W, Fumex F, Marasco G, Eusebi LH, Fusaroli P, Chan SM, Shahin A, Basheer M, Gincul R, Leblanc S, Teoh AYB, Jacques J, Lisotti A, Napoléon B. Endoscopic ultrasound- versus ERCP-guided primary drainage of inoperable malignant distal biliary obstruction: systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. Endoscopy. 2024 Dec;56(12):955-963. doi: 10.1055/a-2340-0697. Epub 2024 Jun 6. PMID: 38843824.
Paciente de 48 anos, hígida e sem comorbidades, foi diagnosticada com lesão sólida pancreática em investigação de dispepsia dor abdominal em cólicas em hipocôndrio direito após refeições, com realização de exames prévios de ultrassom de abdome total e tomografia de abdome. Foi então encaminhada para realização de ecoendoscopia para avaliação e biópsia da lesão. Com os seguintes achados:
Vesícula biliar normodistendida, com paredes finas, exibindo imagem hiperecóica e móvel, formadora de sombra acústica posterior, medindo cerca de 12 mm no maior eixo, compatível com cálculo (Foto 1);
Imagem com ecotextura hipoecóica, homogênea, arredondada, de aproximadamente 11,6 x 10,2 mm, com contornos regulares, limites precisos, sem comunicação com ducto pancreático principal ou acometimento dos vasos perilesionais, localizada em colo pancreático (Fotos 2 e 3).
Figura 1 – Colelitíase
Figura 2 – Lesão sólida em colo pancreático Figura 3 – Lesão sólida em colo pancreático
Foram realizadas punções ecoguiadas para obtenção de material para análise anatomopatológica (Foto 4).
Figura 4 – Punção de lesão pancreática
O resultado do anatomopatológico evidenciou os seguintes achados:
Anatomopatológico: Avaliação histológica revela tumor neuroendócrino bem diferenciado. Amostra apresenta placas sólidas compostas por células atípicas relativamente homogêneas, em densidade celular elevada e estroma escasso. Células atípicas apresentam citoplasma eosinofílico e núcleo arredondado, com cromatina finamente granular. Necrose tumoral não identificada. Figuras mitóticas indistintas.
Imuno-histoquímica (marcadores na figura 5): Quadro morfológico e perfil de imuno-expressão compatíveis com TUMOR NEUROENDÓCRINO BEM DIFERENCIADO GRAU 1 (NET G1).
Figura 5 – Resultado imuno-histoquímica
CPRE e Ecoendoscopia no tratamento da pancreatite aguda recorrente pediátrica e pancreatite crônica
Ampliando a discussão sobre CPRE em pacientes pediátricos, esse post discutirá o artigo publicado por Joshi D, Shafi T, Al-Farsi U, et al., publicado no Journal of Clinical Medicine em 2024.
Introdução
A pancreatite crônica (PC) e a Pancreatite Aguda Recorrente (PAR) na população pediátrica são tipicamente causadas por variantes anatômicas (por exemplo, pâncreas divisum), malformações coledococianas, mutações genéticas no regulador da condutância transmembrana da fibrose cística (CFTR), no gene da Protease Serina tipo 1 (PRSS1), no inibidor de protease de serina tipo Kazal 1 (SPINK1), na quimotripsina C (CTRC) e nos genes da carboxipeptidase A1 (CPA1), bem como infecções, causas autoimunes e traumas. A incidência estimada de PC na população ocidental varia entre 0,5 e 2 a cada 100.000 crianças por ano. Embora rara em crianças, é frequentemente associada com sintomas debilitantes, atraso no crescimento, desenvolvimento prejudicado, aumento dos custos com saúde e uma baixa qualidade de vida.
Métodos
Este trabalho é uma Coorte Retrospectiva, unicêntrica, com dados coletados no King’s College Hospital, no Reino Unido, entre janeiro de 2008 e dezembro de 2022. Foram incluídos pacientes pediátricos (<18 anos) que realizaram CPRE e/ou Ecoendoscopia para PC ou PAR.
Nos casos de CPRE, um duodenoscópio pediátrico era utilizado em crianças menores que 1 ano. Quando maiores que um ano, um duodenoscópio adulto era escolhido. Quanto à ecoendoscopia, foi utilizado um ecoendoscópio com transdutor linear ou radial em pacientes maiores que 1 ano. Nos menores que 1 ano, um ultrassom endobrônquico foi utilizado.
Eventos adversos periprocedimento foram registrados e classificados de acordo com as orientações da Sociedade Americana de Endoscopia Gastrointestinal (ASGE). Durante o período de acompanhamento, os pacientes eram geralmente avaliados a cada 3 a 6 meses em uma clínica de pancreatite pediátrica. Quaisquer procedimentos endoscópicos adicionais, cirurgias ou outras intervenções—incluindo alterações nos medicamentos analgésicos—também foram registrados.
Resultados
Ao longo dos 16 anos do estudo, 562 crianças realizaram um procedimento de CPRE (n = 486) ou Ecoendoscopia (n = 76). Um total de 111 pacientes (20%) foi diagnosticado com PC e 25 pacientes foram diagnosticados com PAR. Todos os indivíduos realizaram exames de imagem pré-procedimento (ultrassom, tomografia computadorizada e/ou ressonância magnética) para confirmar a presença de PC ou PAR e para definir o melhor método endoscópico a ser utilizado.
O sintoma mais frequente foi dor abdominal (93%). Insuficiência exócrina pancreática esteve presente em 76% dos indivíduos. A maioria dos pacientes era do sexo feminino (55%), e a idade mediana da coorte foi de 11 anos (intervalo de 1 a 18 anos).
As etiologias mais comuns da PC foram genéticas (20%), anormalidades anatômicas (22%), autoimunes (12%), cálculos biliares (7%) e criptogênica (28%). Entre os casos de pancreatite hereditária, as variantes nos genes PRSS1 e SPINK1 foram as mais prevalentes (74% dos indivíduos). As anormalidades anatômicas incluíram pâncreas divisum (n = 15), má junção pancreático-biliar (n = 10) e pâncreas anular (n = 5).
CPRE
Um total de 222 CPREs foram realizadas em 98 indivíduos com PC/PAR. Os alvos terapêuticos incluíram: estenose do ducto pancreático principal (DPP) com dilatação a montante (45%); cálculos sintomáticos no DPP associados a uma estenose (65%) ou sem estenose associada (20%); e estenose associada do ducto biliar comum inferior (5%). As estenoses do DPP foram mais frequentemente observadas na cabeça do pâncreas (70%).
A canulação bem-sucedida do ducto pancreático foi alcançado em 98% dos pacientes. Todos os pacientes realizaram uma esfincterotomia pancreática seguida de dilatação com balão (4 mm). Em 80% dos casos, foi utilizado o balão extrator, seguida da inserção de um único stent plástico na CPRE inicial em 60% dos casos.
Dos pacientes submetidos ao CPRE para PAR, 88% tiveram a colocação de stent (todos plásticos). A resolução da estenose foi mais comumente observada com stents metálicos totalmente cobertos em comparação com stents plásticos isolados (75% vs. 51%, p = 0,001). A duração média de um stent metálico foi de 3,1 meses (intervalo de 1 a 5 meses). Pacientes tratados com um stent metálico (30%) versus um único stent plástico (50%) ou múltiplos stents plásticos (10%) necessitaram significativamente menos procedimentos subsequentes para resolver a estenose (1,1 ± 0,82 vs. 2,85 ± 0,9 vs. 1,40 ± 0,82, p < 0,001).
Após a resolução da estenose do DPP, desde 2019, um stent biodegradável Archimedes foi colocado em 80% dos casos. Isso evitou a necessidade de remoção do stent do DPP durante uma futura gastroscopia.
Para o tratamento de cálculos pancreáticos, a utilização do balão extrator foi a terapêutica mais comum, com uma taxa de sucesso de 94%. No geral, o sucesso no clareamento do DPP foi de 81%, com uma mediana de 2 procedimentos para sua resolução completa.
Não ocorreram mortes durante o procedimento de CPRE. A taxa de complicação foi de 3,6%, sendo a mais comum a pancreatite pós-CPRE (n = 4), migração interna do stent do ducto pancreático (n = 1), sangramento (n = 1), perfuração (n = 1) e dessaturação (n = 1), todas classificadas como leves ou moderadas.
Após uma mediana de follow-up de 24 meses, observou-se uma melhora na dor abdominal de 76% dos pacientes submetidos à CPRE. A CPRE com inserção de stent plástico para PAR resultou em uma redução nas internações hospitalares (2,5 vs. 1,25, p = 0,04). O IMC médio também apresentou melhora (15,5 ± 1,41 vs. 12,9 ± 1,16 kg/m², p = 0,001). Não foram disponibilizados dados acerca do controle glicêmico, e 3% dos pacientes necessitaram de cirurgia pancreática para controle dos sintomas.
Ecoendoscopia
Um total de 54 procedimentos de ecoendoscopia foram realizados em 48 pacientes. A indicação terapêutica mais comum foi drenagem de uma coleção líquida pancreática (65%). A indicação diagnóstica mais frequente foi a avaliação de uma massa pancreática ou linfadenopatia adjacente (20%), seguida pela avaliação de um cisto pancreático (15%).
A biópsia com agulha fina (FNB) revelou características de fibrose crônica em cinco pacientes, inflamação compatível com doença relacionada a IgG4 em dois pacientes e alterações inflamatórias inespecíficas em quatro pacientes.
No grupo de pacientes com coleção líquida pancreática, sete pacientes foram submetidos a uma tentativa de drenagem utilizando um stent plástico de Tennenbaum. Em quatro pacientes (56%), o stent foi colocado com sucesso. Nos outros três casos, não foi possível posicionar o stent, sendo realizada, em vez disso, uma aspiração por agulha fina (FNA). A partir de 2017, os stents metálicos autoexpansíveis com aposição luminal (LAMSs) passaram a estar disponíveis e foram preferencialmente utilizados para drenagem de coleções com ou sem necrose. Nos 25 pacientes que realizaram cistogastrostomia guiada por Ecoendoscopia com LAMS, o stent foi colocado com sucesso em todos os casos.
A maioria das massas pancreáticas estava localizada na cabeça do pâncreas (64%), com o restante observado no corpo do pâncreas. Em 88% das biópsias (todas realizadas com FNB), foi obtida uma amostra de tecido adequada para permitir uma avaliação histológica precisa.
A taxa de sucesso da Ecoendoscopia foi de 89%. Complicações pós-procedimento foram observadas em dois casos (4%), incluindo sepse (n = 1) e pancreatite (n = 1). Estas complicações foram classificadas como leve, sem necessidade de procedimentos adicionais.
Discussão
Já consolidado em pacientes adultos, o uso da CPRE e da ecoendoscopia em pacientes pediátricos vem se mostrando atrativo. No entanto, alguns cuidados amplamente utilizados em adultos, como o uso de AINE via retal, não foram amplamente utilizados em pacientes pediátricos neste estudo.
Foi demonstrado, neste estudo, a eficácia do uso de stents plásticos e metálicos, com uma taxa de resolução de estenose superior observada com os últimos. Observou-se também, uma melhora na dor abdominal em mais de dois terços dos pacientes submetidos à CPRE, uma redução nas internações hospitalares em pacientes com PAR e uma melhora no IMC. Além disso, não foram demonstrados eventos adversos após a endoscopia.
Além do seu uso para PC, existem outras indicações para o uso da Ecoendoscopia e da CPRE em pacientes pediátricos, incluindo o manejo de doenças biliares com estenose, biópsia hepática guiada por EUS, colangioscopia e pancreatoscopia, embolização guiada por EUS de varizes gástricas e medição da pressão portal. Esses procedimentos são, em teoria, possíveis em pacientes pediátricos e podem ser utilizados se considerados apropriados.
O advento da nova tecnologia de stents biodegradáveis pode ter seu uso difundido, principalmente em pacientes pediátricos. Disponível em 2019, o stent Archimedes foi adotado como o stent preferido para uso profilático em casos adultos e pediátricos. Na presente coorte, o stent Archimedes de degradação rápida foi utilizado no CPRE de seguimento após a resolução da estenose do DPP. O seu principal benefício é poupar o paciente de um novo procedimento, o qual, em pacientes pediátricos, é realizado frequentemente sob anestesia geral.
Em resumo, este estudo demonstra a segurança, eficácia e os benefícios a longo prazo da aplicação de CPRE e Ecoendoscopia em crianças com PC e PAR, como parte de uma abordagem multidisciplinar.
Comentários
Apesar dos procedimentos biliopancreáticos endoscópicos não serem frequentes na faixa etária pediátrica, há indicações precisas tanto para o diagnóstico quanto no tratamento. A Sociedade Japonesa de Endoscopia Pediátrica contabilizou 238 CPREs entre os anos de 2000 e 2004, onde, no mesmo período, foram realizadas 5059 endoscopias digestivas alta.
De acordo com a Sociedade Europeia de Endoscopia Gastrointestinal e a Sociedade Europeia de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica, a CPRE e a ecoendoscopia estão indicadas nos seguintes casos:
Síndrome Colestática neonatal, onde os exames de imagem não são suficientes para definir o diagnóstico, a fim de evitar cirurgias desnecessárias;
Em crianças maiores que 1 ano de idade com quadro de colestase, não definido por exame de imagem; nos casos de suspeita de cistos de colédoco, colangite esclerosante primária e anomalias anatômicas da junção biliopancreática; na avaliação de pacientes com crises de pancreatite aguda recorrentes (PAR) e em crianças com pancreatite crônica (PC).
Quando indicada, a CPRE apresenta uma sensibilidade de 86% e uma especificidade de 94% para o diagnóstico de atresia das vias biliares. No âmbito terapêutico, os procedimentos mais frequentemente realizados incluem a papilotomia endoscópica com remoção de cálculos biliares e pancreáticos, a inserção de próteses plásticas nas vias biliares e pancreáticas, além da remoção de parasitas da via biliar, como Ascaris lumbricoides e Fasciola hepatica.
A CPRE e a ecoendoscopia devem ser realizadas sob anestesia geral em todas as crianças com até 12 anos de idade, enquanto a sedação profunda é uma alternativa viável para adolescentes. Em relação à segurança do paciente, a proteção radiológica deve ser intensificada para áreas sensíveis como gônadas, tireoide, mama e retina nesta faixa etária. Para a prevenção de pancreatite aguda pós-CPRE, o uso de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) é recomendado apenas para crianças com idade superior a 14 anos.
Mesmo nos dias atuais, há uma limitação significativa devido à falta de equipamentos específicos para a realização da CPRE e da ecoendoscopia em crianças menores de 1 ano ou com peso inferior a 10 kg, já que a fabricação de aparelhos pediátricos foi descontinuada. Em crianças com peso superior a 10 kg submetidas à CPRE, o duodenoscópio terapêutico adulto pode ser utilizado. Para os casos em que a ecoendoscopia é indicada, o ecoendoscópio adulto pode ser empregado em crianças com mais de 15 kg, enquanto o ultrassom endobrônquico (EBUS) é uma opção viável para crianças abaixo desse peso. As Tabelas 1 e 2 apresentam os duodenoscópios atualmente comercializados no mundo, enquanto a Tabela 3 sugere a seleção desses aparelhos de acordo com o peso e a idade. Os modelos de ecoendoscópios disponíveis estão nas Tabelas 4 e 5, sendo que a Tabela 6 apresenta a seleção desses dispositivos com base na idade e no peso.
Fabricante
Modelo
Diâmetro externo da extremidade distal (mm)
Comprimento de trabalho (mm)
Diâmetro interno do canal (mm)
Olympus
TJF-160F/160VF
13,2
1240
4,2
TJF-Q180V
13,7
1240
4,2
JF-260V
12,6
1240
3,7
TJF-260V
13,5
1240
4,2
TJF-Q190V/Q290V
13,5
1249
4,2
FUJIFILM
ED-580T
13,1
1250
4,2
ED-580XT
13,1
1250
4,2
PENTAX
ED32-i10
12,5
1250
3,2
ED34-i10T2
13,6
1250
4,2
Tabela 1. Duodenoscópios padrão para adultos.
Fabricante
Modelo
Diâmetro externo da extremidade distal (mm)
Comprimento de trabalho (mm)
Diâmetro interno do canal (mm)
Olympus
PJF
8,8
1130
2,0
PJF-7.5
8,0
1030
2,0
PJF-240
8,0
1230
2,0
Tabela 2. Duodenoscópios finos para neonatos, lactentes e crianças (produtos descontinuados).
Endoscópio
Idade
Peso
Duodenoscópios finos
<1–2 anos
<10 kg
Duodenoscópios padrão
>1–2 anos
>10 kg
Tabela 3. Seleção de endoscópios com base na idade e no peso.
Fabricante
Modelo
Diâmetro Distal (mm)
Canal Interno (mm)
Transdutor / Ângulo
Olympus
GF-UC160P-OL5
14,2
2,8
Convexo / 150°
GF-UCT160-OL5
14,6
3,7
Convexo / 150°
GF-UE260-AL5
13,8
2,2
Radial / 360°
GF-UCT180/260
14,6
3,7
Convexo / 180°
TGF-UC180J/260J
14,6
3,7
Convexo / 90°
GF-UE190/290
13,4
2,2
Radial / 360°
FUJIFILM
EG-530UL2
14,2
2,2
Linear
EG-580UR
11,4
2,8
Radial / 360°
EG-580UT
13,9
3,8
Convexo / 150°
PENTAX
EG34-J10U
12,9
2,8
Convexo / 150°
EG36-J10UR
10,4
10,4
10,4
EG38-J10UT
14,3
4,0
Convexo / 150°
Tabela 4. Ecoendoscópios padrão (EUS) para adultos.
Fabricante
Modelo
Diâmetro Distal (mm)
Canal Interno (mm)
Transdutor / Ângulo
Olympus
BF-UC160F
6,9
2,0
Convexo / 80°
BF-UC180F/260FW
6,9
2,2
Convexo / 60°
BF-UC190F/290F
6,6
2,2
Convexo / 65°
FUJIFILM
EB-530US
6,7
2,0
Convexo / 65°
PENTAX
EB-1970UK
7,4
2,0
Convexo / 75°
EB19-J10U
7,3
2,2
Convexo / 75°
Tabela 5. Broncoendoscópios (EBUS).
Endoscópio
Idade
Peso
Broncoendoscópios (EBUS)
<3–4 anos
<15 kg
Ecoendoscópio padrão
>3–4 anos
>15 kg
Tabela 6. Seleção de endoscópios com base na idade e no peso
Radan Keil e colaboradores realizaram uma análise retrospectiva de uma série de casos envolvendo 626 pacientes pediátricos submetidos a 856 CPREs ao longo de um período de 18 anos. Em crianças com menos de 1 ano ou peso inferior a 12 kg, foram utilizados duodenoscópios de 7,5 mm com canal de trabalho de 2 mm, sendo a principal dificuldade o uso limitado de acessórios disponíveis para este tipo de aparelho. Para crianças entre 1 e 3 anos, foram empregados duodenoscópios diagnósticos com diâmetro de 11 mm e canal de trabalho de 3,2 mm. A partir dos 3 anos de idade, foi possível utilizar duodenoscópios terapêuticos com 13,5 mm de diâmetro e canal de trabalho de 4,2 mm.
As principais indicações para a realização da CPRE neste estudo foram a avaliação de casos de obstrução biliar e pancreatite crônica em todas as faixas etárias. A posição pronada foi a preferida para a realização do procedimento. O índice global de sucesso foi de 94,6%, enquanto o maior índice de insucesso (7,8%) ocorreu no grupo de pacientes com menos de 1 ano de idade, embora não tenha havido diferença estatisticamente significativa entre as diferentes faixas etárias.
A CPRE com finalidade terapêutica foi realizada em 58,8% dos procedimentos, dos quais 13% foram destinados ao tratamento de condições pancreáticas e 10,2% envolveram crianças com menos de 1 ano de idade. Entre as 23 CPREs realizadas em pacientes dessa faixa etária, apenas uma papilotomia foi realizada, e 20 stents de 5 Fr foram introduzidos na via biliar. Nessa faixa etária, houve apenas um caso de perfuração, sem relatos de pancreatite. A incidência global de pancreatite foi de 1,6%.
Sendo assim, tanto a CPRE quanto a ecoendoscopia podem ser considerados procedimentos seguros na faixa etária pediátrica, incluindo crianças com peso inferior a 10 kg. O principal desafio, no entanto, permanece sendo a disponibilidade de equipamentos e acessórios adequados no mercado.
Referências
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Como citar este artigo
Ide E. e Dall’Agnol MK. Endoscopic Retrograde Cholangio-Pancreatography and Endoscopic Ultrasound in the Management of Paediatric Acute Recurrent Pancreatitis and Chronic Pancreatitis. Endoscopia Terapeutica. 2025 vol. I. Disponível em: https://endoscopiaterapeutica.net/pt/uncategorized/endoscopic-retrograde-cholangio-pancreatography-and-endoscopic-ultrasound-in-the-management-of-paediatric-acute-recurrent-pancreatitis-and-chronic-pancreatitis/