As biópsias realizadas evidenciaram infiltrado eosinofílico de 28 eos/CGA, o que juntamente ao sintoma de disfunção esofágica (disfagia) e aos achados endoscópicos (sulcos longitudinais – “furrows” e exsudato esbranquiçado – “white spots”), fecharam o diagnóstico de Esofagite Eosinofílica (EEo).

Em 2018 esta entidade sofreu importantes atualizações em seus critérios diagnósticos (AGREE Conference), alguns deles abordados neste Quiz.

1) Vários estudos descrevendo a apresentação clínica de sintomas na EEo mostram claramente um padrão diferente entre adultos e crianças. Nos adultos, disfagia (70-80%) e impactação alimentar (33-54%) constituem os sintomas mais comuns. Outros sintomas associados são azia, regurgitação, desconforto retroesternal e dor torácica induzida pelo exercício. Sendo assim, a apresentação como urgência endoscópica por impactação de corpo estranho (bolo alimentar) é considerada frequente nesta doença, devendo sempre ser lembrada mediante história clínica-epidemiológica compatível.

2) O Eosinophilic Esophagitis Endoscopic Reference Score(EREFS), sistema de classificação dos achados endoscópicos da EEo, é validado e inclui importantes características esofágicas (anéis, sulcos, exsudatos e edema) desta doença, além de outras adicionais, como redução do calibre esofágico, esôfago felino, estenose e esôfago em papel crepom. Uma meta-análise dos achados endoscópicos da EEo, incluindo mais de 100 publicações, compreendendo um total de 4678 pacientes e 2742 controles, revelou que a sensibilidade, a especificidade e o valor preditivo desses achados isoladamente são insuficientes para o diagnóstico. Além disso, a aparência endoscópica do esôfago pode ser normal em 10% a 25% dos pacientes com EEo, o que motiva a realização das biópsias de forma sistemática em TODOS os casos suspeitos, independente de anormalidades presentes.

3)Como as alterações inflamatórias na EEo são frequentemente variáveis e podem não estar presentes em todas as biópsias, recomenda-se ao menos que 6 (seis) biópsias sejam obtidas, no mínimo em dois locais diferentes no esôfago, geralmente nos terços distal e proximal do órgão. A sensibilidade diagnóstica aumenta com o número de fragmentos colhidos e é maximizada após a realização de seis biópsias. Como critério diagnóstico histológico, é exigido infiltrado eosinofílico maior ou igual a 15 eos/CGA. As amostras de biópsia gástrica e duodenal devem ser obtidas conforme indicado clinicamente por sintomas, devido a achados endoscópicos nestes órgãos ou alto índice de suspeita de um processo mucoso patológico. Embora as biópsias gástricas e duodenais, na ausência de sintomas ou anormalidades endoscópicas, tenham um baixo rendimento na identificação de outros distúrbios gastrointestinais eosinofílicos, são obtidas rotineiramente na endoscopia pediátrica, conforme recomendações da especialidade.

4) A dilatação endoscópica na EEo é considerada um procedimento seguro.Em uma meta-análise recente, foram incluídos 845 adultos e crianças com EEo, nas quais foram realizadas 1820 dilatações esofágicas; dilatações endoscópicas obtiveram melhora clínica em 95% dos pacientes, com taxas muito baixas (<1%) de complicações maiores. A dilatação deve ser realizada gradualmente, usando a “regra dos 3”, sem passar mais de 3 dilatadores (com aumentos de 2mm de diâmetro) por sessão, caso seja encontrada resistência moderada ou grave. Deve ser realizada com frequência, perfazendo várias sessões a cada 2 a 3 semanas, dependendo dos sintomas e do diâmetro inicial do lúmen esofágico, a fim de diminuir o risco de complicações como dor retroesternal ou perfuração esofágica. Não há diferenças quanto ao tipo de dispositivo utilizado (sondas termoplásticas ou balão).

5) Evidências substanciais documentaram que os IBP’s reduzem a eosinofilia esofágica em crianças, adolescentes e adultos, com vários mecanismos que explicam o efeito no tratamento na EEo, o que motivou a atualização do algoritmo diagnóstico, com a remoção do requisito de teste do IBP. Tais drogas são melhor classificadas como um tratamento para eosinofilia esofágica devido à EEo do que como critério de diagnóstico, o que afetou a forma como a doença passou a ser diagnosticada.

Referências Bibliográficas

Evan S. Dellon, Chris A. Liacouras, Javier Molina-Infante, Glenn T. Furuta et al. Updated International Consensus Diagnostic Criteria for Eosinophilic Esophagitis: Proceedings of the AGREE Conference. Gastroenterology 2018;155:1022–1033.

Andrés Gómez-Aldana, Mario Jaramillo-Santos, Andrés Delgado, Carlos Jaramillo, Adán Lúquez-Mindiola. Eosinophilic esophagitis: Current concepts in diagnosis and treatment. World J Gastroenterol 2019 August 28; 25(32): 4598-4613.

Lucendo et al. Guidelines on eosinophilic esophagitis: evidence-based statements and recommendations for diagnosis and management in children and adults. United European Gastroenterology Journal 2017, Vol. 5(3) 335–358.

Moawad FJ, Molina-Infante J, Lucendo AJ, Cantrell SE, Tmanova L, Douglas KM. Systematic review with meta-analysis: endoscopic dilation is highly effective and safe in children and adults with eosinophilic oesophagitis. Aliment Pharmacol Ther 2017; 46: 96-105.

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Diante da história clínica e achados endoscópicos, qual a alternativa CORRETA acerca desta doença?