Classificação de Hill

Objetivo

Avaliar endoscopicamente a competência da junção esofagogástrica por meio da observação da prega valvar gastroesofágica, classificando-a em graus que se correlacionam com o risco de doença do refluxo gastroesofágico (DRGE).

Critérios

A aparência da válvula ao retroflexo do endoscópio é graduada de I a IV:

  • Grau I: prega mucosa proeminente ao longo da pequena curvatura, firmemente adaptadas ao endoscópio.
  • Grau II: prega presente, mas com abertura intermitente durante a respiração, fechando rapidamente.
  • Grau III: prega pouco definida, fechamento incompleto ao redor do endoscópio; geralmente associada à hérnia hiatal.
  • Grau IV: ausência de prega; junção permanece aberta com visualização do epitélio escamoso; hérnia hiatal quase sempre presente.

Aplicação clínica

Predição de doença e necessidade de tratamento

  • Estudo de coorte (922 pacientes, 6 anos de seguimento, 2023):

    • Hill III–IV → fortemente associados a esofagite e necessidade de prescrição de uso de inibidores de bomba de próton ao longo do seguimento.
    • Hill IV → maior associação com esôfago de Barrett.
    • Hill II–III → maior frequência de esofagite quando comparados ao Grau I.
    • Observou-se que, à medida que o grau aumenta, cresce também a prevalência de sintomas de refluxo (pirose).

Implicações terapêuticas (ASGE)

  • Hill I–II → podem ser submetidos a procedimentos endoscópicos de correção de refluxo.
  • Hill III–IV → geralmente indicam necessidade de tratamento cirúrgico, dado o envolvimento anatômico do hiato e a insuficiência de terapias exclusivamente endoscópicas.

Importância na prática endoscópica

classificação de Hill fornece um marcador objetivo da barreira mecânica antirrefluxo na transição esofagogástrica, é recomendada por guidelines internacionais e ,quando incorporadas à avaliação endoscópica de pacientes com suspeita de DRGE, podem auxiliar tanto o seguimento clínico quanto a estratégia terapêutica (endoscópica vs cirúrgica).

Referência

Hill LD, Kozarek RA, Kraemer SJM, Aye RW, Mercer CD, Low DE, Pope CE II. The gastroesophageal flap valve: in vitro and in vivo observations. Gastrointest Endosc. 1996;44(5):541-547. doi:10.1016/S0016-5107(96)70006-8

Cheong JH, Kim GH, Lee BE, et al. Endoscopic grading of gastroesophageal flap valve helps predict proton pump inhibitor response in patients with gastroesophageal reflux disease. Scand J Gastroenterol. 2011 Jul;46(7-8):789-96. doi: 10.3109/00365521.2011.579154. Epub 2011 May 26. PMID: 21615222.

ASGE Standards of Practice Committee; Desai M, Ruan W, Thosani NC, Amaris M, Scott JS, Saeed A, Abu Dayyeh B, Canto MI, Abidi W, Alipour O, Amateau SK, Cosgrove N, Elhanafi SE, Forbes N, Kohli DR, Kwon RS, Fujii-Lau LL, Machicado JD, Marya NB, Ngamruengphong S, Pawa S, Sheth SG, Thiruvengadam NR, Qumseya BJ; ASGE Standards of Practice Committee Chair. American Society for Gastrointestinal Endoscopy guideline on the diagnosis and management of GERD: summary and recommendations. Gastrointest Endosc. 2025 Feb;101(2):267-284. doi: 10.1016/j.gie.2024.10.008. Epub 2024 Dec 17. PMID: 39692638.

Veja mais: Você sabe avaliar o hiato diafragmático?




Sistema OLGIM (Operative Link on Gastric Intestinal Metaplasia Staging)

A classificação OLGIM é uma extensão do sistema OLGA (Operative Link on Gastritis Assessment) e substitui o parâmetro principal da OLGA, a gastrite atrófica, pelo achado de metaplasia intestinal (MI).

A inclusão da MI como marcador na classificação OLGIM melhora a reprodutibilidade e, consequentemente, amplia a capacidade de avaliação do risco de câncer gástrico em pacientes com lesões gástricas pré-malignas.

Referência:

Capelle LG, de Vries AC, Haringsma J, et al. The staging of gastritis with the OLGA system by using intestinal metaplasia as an accurate alternative for atrophic gastritis. Gastrointest Endosc. 2010;71(7):1150-1158. doi:10.1016/j.gie.2009.12.046




Sistema OLGA (Operative Link on Gastritis Assessment)

Objetivo

A gastrite atrófica é um achado frequente de exames endoscópicos, sendo um dos fatores de risco para o desenvolvimento de câncer gástrico.  Para identificar e estratificar grupos de risco foi criada uma classificação denominada OLGA (Operative Link of Gastritis Assesment), baseada na localização das biópsias e achados histológicos avaliando de forma objetiva o grau de atrofia.  A classificação é reprodutível, de fácil execução, permitindo selecionar o grupo de pacientes de maior risco que devem ter seguimento mais rígido, mantendo a custo-efetividade do rastreamento. 

Critérios

  • Baseia-se em biópsias de acordo com o sistema de Sydney (mínimo 5 fragmentos: 2 antro, 1 incisura, 2 corpo).

A atrofia (com ou sem metaplasia) é graduada em cada topografia (antro e corpo) em escala de 0 a 3 (ausente, leve, moderada, grave).

OLGA – Score de Atrofia Corpo – Sem atrofia (0) Corpo – Atrofia leve (1) Corpo – Atrofia moderada (2) Corpo – Atrofia severa (3)
Antro – Sem atrofia (0) Estágio 0 Estágio I Estágio II Estágio II
Antro – Atrofia leve (1) Estágio I Estágio I Estágio II Estágio III
Antro – Atrofia moderada (2) Estágio II Estágio II Estágio III Estágio IV
Antro – Atrofia severa (3) Estágio III Estágio III Estágio IV Estágio IV

A combinação dos escores do antro + corpo resulta no estágio OLGA (0–IV):

  • Estágios 0–II → risco baixo de câncer gástrico.
  • Estágios III–IV → risco alto, candidatos à vigilância endoscópica.

Aplicação

  • Estágios iniciais (0–II) → acompanhamento padrão, sem necessidade de vigilância endoscópica intensiva.
  • Estágio avançado (III–IV) → candidatos à vigilância periódica (intervalos de 3 anos- MAPS-ESGE).

Referências

Rugge M, Genta RM. Staging and grading of chronic gastritis. Hum Pathol. 2005 Mar;36(3):228-33. doi: 10.1016/j.humpath.2004.12.008. PMID: 15791566.

Rugge M, Meggio A, Pennelli G, et al. Gastritis staging in clinical practice: the OLGA staging system. Gut. 2007;56(5):631–636. doi:10.1136/gut.2006.106666




Borrmann – Câncer gástrico avançado

Classificação de Borrmann – Câncer gástrico avançado

A apresentação macroscópica do câncer gástrico avançado é bastante variável.

A classificação de Borrmann, descrita em 1926 é a mais utilizada entre os endoscopistas.

Classificação de Borrmann. Fonte: Sabiston Textbook of Surgery 21st edition

 

Borrmann I
Lesão polipóide ou vegetante, bem delimitada.

 

 

Borrmann II
Lesão ulcerada, bem delimitada, de bordas elevadas.

 

 

Borrmann III
Lesão ulcerada, infiltrativa em parte ou em todas as suas bordas, limites mal definidos

 

 

Borrmann IV
Lesão difusamente infiltrativa. Linite plastica

 

Cumpre lembrar que em 2002, o consenso de Paris manteve essa mesma divisão da classificação macroscópica proposta por Borrmann e adicionou o tipo O para denotar as lesões precoces, e o tipo 5 para denotar as lesões inclassificáveis. Portanto, não existe tipo 5 de Borrmann. Esse é um termo usado pela JGCA (Japanese Gastric Cancer Association) e pelo consenso de Paris.  Segue trecho do consenso de Paris:

“The Japanese Gastric Cancer Association (JGCA) also added a type 5 for unclassifiable advanced tumors. The complete modification for gastric tumors becomes:

  • type 0 – superficial polypoid, flat/depressed, or excavated tumors
  • type 1 – polypoid carcinomas, usually attached on a wide base
  • type 2 – ulcerated carcinomas with sharply demarcated and raised margins
  • type 3 – ulcerated, infiltrating carcinomas without definite limits
  • type 4 – nonulcerated, diffusely infiltrating carcinomas
  • type 5 – unclassifiable advanced carcinomas”

 




Câncer gástrico precoce – classificação japonesa

Câncer gástrico precoce

Classificação da Sociedade Japonesa de Endoscopia Digestiva

 

I – Polipóide

1

IIa – Superficial elevado
IIb – Superficial plano
IIc – Superficial deprimido

2

 

III – Ulcerado

3

 

Tipos Mistos

4

5

6

7

– O tipo IIa é definido quando a altura da lesão for menor ou igual a duas vezes a mucosa normal

– Na descrição dos tipos mistos o primeiro numeral romano indica o tipo predominante




Classificação de Sakita

A classificação de Sakita visa fornecer uma sistemática para descrever e categorizar as úlceras gástricas com base em suas características endoscópicas e nas diferentes fases do ciclo evolutivo da úlcera. Isso permite uma comunicação mais precisa e consistente entre os médicos e pesquisadores, facilitando a compreensão das características clínicas das úlceras e o desenvolvimento de estratégias de tratamento adequadas.

São descritas três fases principais (A, H e S) e os números 1 e 2 de acordo com a etapa evolutiva.

Classificação de Sakita

  • A1 (Active): A lesão geralmente tem bordas planas e nítidas, fundo com fibrina e por vezes restos necróticos.
  • A2 (Active): As bordas tornam-se bem definidas, às vezes elevadas, tomando forma mais nítida, fundo com fibrina espessa e clara.
  • H1 (Healing): A fibrina torna-se mais tênue, inicia-se discreta convergência de pregas, com hiperemia marginal.
  • H2 (Healing): Notam-se ilhas de tecido de regeneração, com convergência nítida de pregas e intensa hiperemia marginal.
  • S1 (Scar): Inicia-se a formação de uma cicatriz vermelha com reação inflamatória adjacente residual.
  • S2 (Scar): resolução do quadro com formação de cicatriz branca, com retração adjacente variável.

É importante mencionar que a classificação de Sakita é mais confiável na caracterização de lesões agudas e pode ser limitada em casos de recidivas, devido a sequelas prévias, como convergência de pregas, pseudodivertículos e retração cicatricial, o que pode alterar a morfologia e o estadiamento da úlcera.

Referência:

Sakita T, Oguro Y, Takasu S, Fukutomi H, Miwa T. Observations on the healing of ulcerations in early gastric cancer. The life cycle of the malignant ulcer. Gastroenterology. 1971;60(5):835–9.




Gastrites – Sistema Sidney

Objetivo

  • Propor uma classificação padronizada e reprodutível da gastrite.
  • Combinar topografia (antro, corpo, incisura), morfologia (infiltrado inflamatório, atrofia, metaplasia) e etiologia (H. pylori, autoimune, drogas, etc.) em um único esquema.
  • Melhorar a comunicação entre patologistas e gastroenterologistas e permitir a padronização dos diagnósticos.

Critérios endoscópicos

TOPOGRAFIA CATEGORIA GRAU DE INTENSIDADE
 
Pangastrite Enantematosa Leve
Gastrite do antro Erosiva plana Moderada
Gastrite do corpo Erosiva elevada Severa
  Atrófica  
  Hemorrágica  
  Refluxo  
  Pregas mucosas hiperplásicas  

Termos descritivos:

  • Edema
  • Enantema
  • Friabilidade
  • Exsudato
  • Erosão plana
  • Erosão elevada
  • Nodosidade
  • Hiperplasia de pregas mucosas
  • Atrofia das pregas mucosas
  • Visibilidade do padrão vascular

Aplicação Clínica

  • Permite diagnóstico padronizado e detalhado, útil tanto na prática clínica quanto em estudos multicêntricos.
  • Fundamenta a estratificação de risco para lesões pré-malignas (atrofia, metaplasia intestinal).
  • É a base para o sistema OLGA (2007) e OLGIM (2010), que acrescentam valor prognóstico.

Referência

Dixon MF, Genta RM, Yardley JH, Correa P; and the participants in the Houston International Workshop on the Histopathology of Gastritis. Classification and grading of gastritis: the updated Sydney System.
Am J Surg Pathol. 1996;20(10):1161–1181. doi:10.1097/00000478-199610000-00001




Classificação endoscópica das varizes gástricas – Sarin

Objetivo

A classificação de Sarin foi criada para padronizar a descrição endoscópica das varizes gástricas em pacientes com hipertensão portal. O foco é correlacionar a localização anatômica com o risco de sangramento e prognóstico, facilitando condutas terapêuticas e comparações entre estudos.

Critérios

A classificação divide as varizes gástricas em dois grupos principais:

1. Varizes esofagogástricas (GOV) – continuação das varizes esofágicas que se estendem para o estômago:

  • GOV1: prolongam-se para a pequena curvatura (até 2 – 5 cm abaixo da junção esofagogástrica).
  • GOV2: prolongam-se para o fundo gástrico (habitualmente varizes grandes, tortuosas, nodulares).

2. Varizes gástricas isoladas (IGV) – não estão associadas a varizes esofágicas:

  • IGV1: localizadas no fundo gástrico, distantes da junção esofagogástrica (também chamadas fundal varices).
  • IGV2: varizes ectópicas, em outras regiões do estômago (corpo, antro, piloro) ou até no duodeno.

Risco de sangramento:

  • GOV1: menos graves; muitas desaparecem após tratamento das varizes esofágicas.
  • GOV2: alta taxa de sangramento (~55%), com mortalidade elevada.
  • IGV1: altíssimo risco de sangramento (≈78%).
  • IGV2: geralmente secundárias; sangram raramente (≈9%).

Aplicação Clínica:

  • A classificação é usada até hoje em guidelines (Baveno, AASLD, ESGE) para descrever varizes gástricas.
  • Permite estratificação de risco: GOV2 e IGV1 são os subtipos com maior risco.
  • Define condutas:
    • GOV1: manejadas de forma similar a varizes esofágicas.
    • GOV2 e IGV1: requerem tratamento específico (cianoacrilato, TIPS).

Referências:

Sarin SK, Kumar A. Gastric varices: profile, classification, and management. Am J Gastroenterol. 1989;84(:1244-9.

Sarin SK, Lahoti D, Saxena SP, Murthy NS, Makwana UK. Prevalence, classification and natural history of gastric varices: a long-term follow-up study in 568 portal hypertension patients. Hepatology. 1992;16:1343-9.




Classificação de Forrest

Objetivo

A Classificação Forrest, descrita inicialmente por J.A. Forrest et al. em 1974 no The Lancet, é um sistema de classificação amplamente utilizado para sangramento gastrointestinal alto relacionado a úlceras. O objetivo principal desta classificação é facilitar a comunicação efetiva entre endoscopistas, fornecendo uma descrição padronizada do sangramento de úlceras. Com o tempo, também se tornou uma ferramenta valiosa para prever o risco de sangramento, ressangramento e mortalidade em pacientes.

Critérios

O sistema de classificação categoriza úlceras sangrantes em diferentes tipos com base nos achados endoscópicos. Essas categorias ajudam a avaliar a gravidade e prever o curso clínico do sangramento. A classificação inclui as seguintes categorias:

Sangramento Classificação de Forrest Aparência Endoscópica Taxa de Re-sangramento Recomendação de Tratamento endoscópico
Ativo IA Sangramento em “jato” 90% Tratar
Ativo IB Sangramento em “babação” 10-20% Tratar
Recente IIA Vaso visível sem sangramento ativo 50% Tratar
Recente IIB Coágulo aderido 25-30% Considerar tratamento
Recente IIC Base de úlcera com resíduo de hematina 7-10% Não tratar
Sem sangramento III Úlcera de base limpa 3-5% Não tratar

Aplicação Clínica

  • Alto risco (Forrest Ia – IIb): indicação de terapia endoscópica imediata (injeção, coagulação térmica ou clipagem), além de IBP em alta dose.
  • Baixo risco (Forrest IIc/III): manejo conservador com IBP e dieta; alta precoce pode ser considerada.
  • É amplamente utilizada em guidelines internacionais (ASGE, ESGE, ACG) para orientar conduta em hemorragia digestiva alta.

Referência:

Forrest JA, Finlayson ND, Shearman DJ. Endoscopy in gastrointestinal bleeding. Lancet. 1974 Aug 17;2(7877):394-7. doi: 10.1016/s0140-6736(74)91770-x. PMID: 4136718.