Classificação da Integridade da Junção Esofagogástrica (EGJ) – American Foregut Society

Objetivo

A junção esofagogástrica (EGJ) representa a principal barreira antirrefluxo, formada pela interação do esfíncter esofagiano inferior e das estruturas diafragmáticas. Alterações anatômicas, especialmente a hérnia hiatal, impactam diretamente no desenvolvimento e na gravidade da doença do refluxo gastroesofágico (DRGE).
Com o objetivo de padronizar a descrição endoscópica e radiológica dessas alterações, a American Foregut Society (AFS) publicou uma proposta de classificação objetiva da integridade da EGJ.

Critérios

A classificação estratifica a integridade da EGJ em quatro graus, com deterioração progressiva da anatomia:

  • Grau 1 – EGJ íntegra, sem evidência de hérnia hiatal ou ruptura crural.
  • Grau 2 – Pequeno desarranjo anatômico, como discreta separação entre esfíncter e crura diafragmática.
  • Grau 3 – Hérnia hiatal evidente, com comprometimento parcial da barreira antirrefluxo.
  • Grau 4 – Disrupção estrutural importante, incluindo hérnias volumosas ou falha crural acentuada.

Aplicação

  • Padronização de relatórios: fornece linguagem comum entre endoscopistas, radiologistas e cirurgiões.
  • Estratificação de risco: relaciona o grau de alteração anatômica com sintomas clínicos e falha da barreira antirrefluxo.
  • Planejamento terapêutico: auxilia na indicação de fundoplicatura, técnicas endoscópicas ou seguimento clínico.
  • Ensino e pesquisa: promove uniformidade em estudos comparativos e em treinamentos de endoscopia e cirurgia do esôfago.

Classificação AFS da Integridade da EGJ é uma ferramenta prática que aproxima a descrição endoscópica da realidade clínica e cirúrgica, permitindo maior uniformidade na comunicação entre especialistas e melhor direcionamento terapêutico para pacientes com DRGE e hérnia hiatal.

Referência

Nguyen NT, Thosani NC, Canto MI, et al. The American Foregut Society White Paper on the Endoscopic Classification of Esophagogastric Junction Integrity. Foregut. 2022;2(4):339-348. doi:10.1177/26345161221126961




Classificação BING (Barrett’s International NBI Group)

Objetivo

A Classificação BING foi desenvolvida com o propósito de identificar displasia de alto grau e adenocarcinoma esofágico em pacientes com esôfago de Barrett, utilizando a tecnologia de Narrow-Band Imaging (NBI).

O sistema surgiu como uma resposta às limitações da endoscopia com luz branca e da biópsia aleatória pelo protocolo de Seattle, oferecendo uma ferramenta simples, validada e de aplicação prática, que aumenta a acurácia diagnóstica e pode reduzir a necessidade de múltiplas biópsias.

Critérios

A Classificação BING baseia-se na análise dos padrões da mucosa e dos vasos:

Mucosa:

  • Regular: padrão circular, estriado/viloso ou tubular.
  • Irregular: padrão ausente ou desorganizado.

Vasos:

  • Regulares: seguem a arquitetura da mucosa, com disposição ordenada e ramificação normal.
  • Irregulares: não acompanham a arquitetura mucosa, focalmente ou difusamente.

Padrões regulares → indicam epitélio não displásico (NDBE).

Padrões irregulares → sugerem displasia/câncer (HGD/EAC).

Validação clínica:

  • Acurácia global: 85%
  • Sensibilidade: 80%
  • Especificidade: 88%

Aplicação

A Classificação BING representa um avanço prático na vigilância endoscópica do esôfago de Barrett. Permite distinguir áreas não displásicas, candidatas a seguimento, de áreas sugestivas de displasia ou câncer, que necessitam de biópsia direcionada ou ressecção endoscópica. Favorece a detecção precoce de neoplasia, reduzindo as limitações associadas a biópsias aleatórias.

Referência:

Sharma P, Bergman JJGHM, Goda K, Kato M, Messmann H, Alsop BR, et al. Development and Validation of a Classification System to Identify High-Grade Dysplasia and Esophageal Adenocarcinoma in Barrett s Esophagus Using Narrow-Band Imaging. Gastroenterology. 2016;150(3):591 598. doi:10.1053/j.gastro.2015.11.037




Esofagite Eosinofílica – EREFS

Objetivo

EREFS é um sistema para classificar a gravidade da esofagite eosinofílica através da quantificação de cinco achados endoscópicos (Edema – E; Furrows – F; Rings – R; Exsudate – E; Stricture – S), atribuindo uma pontuação a cada um deles. A proposta surgiu da necessidade de uniformizar a nomenclatura e permitir melhor comunicação entre especialistas, comparabilidade entre estudos e avaliação mais objetiva da atividade da doença durante diagnóstico e tratamento.

Critérios

Aplicação

  • Permite descrição padronizada e graduada das alterações endoscópicas na EoE.
  • Favorece diagnóstico diferencial e monitoramento da resposta terapêutica (ex.: esteroides tópicos).
  • Pode ser utilizada como endpoint objetivo em estudos clínicos, semelhante à Classificação de Los Angeles para DRGE.
  • Destaca-se como ferramenta útil para uniformizar linguagem entre endoscopistas em diferentes centros.

Referência

Hirano I, Moy N, Heckman MG, Thomas CS, Gonsalves N, Achem SR. Endoscopic assessment of the oesophageal features of eosinophilic oesophagitis: validation of a novel classification and grading system. Gut. 2013;62(4):489 495. doi:10.1136/gutjnl-2011-301817.




Padrão IPCL de CEC de Esôfago – classificação da sociedade Japonesa

Predição da profundidade de invasão do CEC esofágico superficial (invasão limitada à submucosa, independentemente do acometimento linfonodal) é fundamental para determinar a estratégia terapêutica (cirúrgica vs endoscópica), uma vez que quanto maior a profundidade de invasão, maior o risco de metástases linfonodais1.

Inoue e colaboradores, em 2015, propuseram uma classificação baseada na avaliação dos padrões dos capilares intrapapilares (IPCLs) através da endoscopia com magnificação e NBI 2,3. Clique aqui para ver essa classificação.

Essa classificação, entretanto, devido à multiplicidade de critérios envolvidos, foi considerada confusa pela grande maioria dos endoscopistas japoneses, limitando sua aplicação em larga escala. Por este motivo, a Japan Esophageal Society (JES) desenvolveu uma classificação simplificada para a magnificação endoscópica no diagnóstico do CEC esofágico superficial.

 

Tipo A: IPCL normal, ou microvasos anormais sem irregularidade severa.
Tipo B: Microvasos anormais com irregularidade severa ou vasos dilatados.
  • Tipo B1: Vasos tipo B com formação de loop. Os vasos B1 normalmente aparecem como microvasos no formato de vírgula.
  • Tipo B2: Vasos tipo B sem a formação de loop, que se apresentam esticados, alongados. Os vasos B2 frequentemente apresentam um arranjo com múltiplas camadas ou um padrão irregular em brotamento.
  • Tipo B3: Vasos muito dilatados, que apresentam calibre 3 vezes maior que os vasos B2. Geralmente apresentam cor verde.

FONTE: Oyama T, Inoue H, Arima M, et al. Esophagus. 2017;14(2):105-112

Tipo B1 => invasão restrita ao epitélio (M1) ou lâmina própria (M2), com acurácia de 91%;

Tipo B2 => invasão restrita à muscular da mucosa (M3) ou submucosa supercial (SM1), com acurácia de 93%;

Tipo B3 => invasão submucosa maciça (> SM2), com acurácia de 95%;

PADRÃO IPCL TIPO A. FONTE: Oyama T, Inoue H, Arima M, et al. Esophagus. 2017;14(2):105-112.

PADRÃO IPCL TIPO B1. FONTE: Oyama T, Inoue H, Arima M, et al. Esophagus. 2017;14(2):105-112.

PADRÃO IPCL TIPO B2. FONTE: Oyama T, Inoue H, Arima M, et al. Esophagus. 2017;14(2):105-112.

PADRÃO IPCL TIPO B3. FONTE: Oyama T, Inoue H, Arima M, et al. Esophagus. 2017;14(2):105-112.

Critérios Auxiliares

Como critérios auxiliares, são avaliadas as áreas avasculares (AVAs), que são subclassificadas de acordo com seu diâmetro em:

  • AVA-small: < 0.5mm;
  • AVA-middle: > 0.5mm e < 3mm;
  • AVA-large: > 3mm.

 

Qualquer tipo de AVA, circundada por vasos tipo B1 são sugestivas de CEC M1 ou M2. AVA-middle e AVA-large circundadas por vasos tipo B2 e B3 são sugestivas de CEC M3 ou SM1 e invasão submucosa maciça (> SM2) respectivamente.

ÁREAS AVASCULARES. FONTE: Oyama T, Inoue H, Arima M, et al. Esophagus. 2017;14(2):105-112.

 

Outro critério auxiliar avaliado é o padrão de vasos reticular (Tipo R), que são definidos como microvasos de padrão plexiforme.  Esse padrão é frequentemente encontrado no CEC invasivo ou em neoplasias malignas epiteliais não CEC, como carcinoma adenoescamoso, carcinoma basiloide e carcinoma de células endócrinas).

PADRÃO DE VASOS RETICULAR. FONTE: Oyama T, Inoue H, Arima M, et al. Esophagus. 2017;14(2):105-112.

Referências

  1. Oyama T, Inoue H, Arima M, et al. Prediction of the invasion depth of superficial squamous cell carcinoma based on microvessel morphology: magnifying endoscopic classification of the Japan Esophageal Society. Esophagus. 2017;14(2):105-112. doi:10.1007/s10388-016-0527-7.
  2. Inoue H, Kaga M, Ikeda H, et al. Magnification endoscopy in esophageal squamous cell carcinoma: a review of the intrapapillary capillary loop classification. Ann Gastroenterol. 28(1):41-48. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25608626.
  3. Sato H, Inoue H, Ikeda H, et al. Utility of intrapapillary capillary loops seen on magnifying narrow-band imaging in estimating invasive depth of esophageal squamous cell carcinoma. Endoscopy. 2015;47(2):122-128. doi:10.1055/s-0034-1390858.
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Como citar esse artigo:

Okazaki O. Padrão IPCL de CEC de Esôfago – classificação da sociedade Japonesa. Endoscopia Terapêutica; 2018. Disponível em: https://endoscopiaterapeutica.net/pt/classificacao/ipcl-esofago-classificacao-japonesa




Classificação de Praga – Esôfago de Barrett

Sharma e colaboradores (2006), com o objetivo de auxiliar no reconhecimento endoscópico e na classificação da extensão do esôfago de Barrett (EB), desenvolveram o Sistema de Classificação de Praga. Esse sistema consiste do uso de duas letras (C e M) com o respectivo algarismo associado conforme descrito abaixo:

  • A letra C equivale à extensão máxima circunferencial do epitélio colunar
  • A letra M equivale à extensão máxima do epitélio colunar em forma de linguetas.

Exemplos: Praga C2M3; Praga C1M4; Praga C6M6

Consiste em um método de classificação rápido e fácil, mas para sua realização é importante saber localizar exatamente a transição esofagogástrica

Exemplo: 

Esôfago de Barrett circunferencial por 5 cm de extensão. Extensão máxima do Barrett de 7 cm. Portanto Praga C5M7

Esôfago de Barrett não circunferencial. Extensão máxima de 1 cm. Portanto Praga C0M1




Varizes esofágicas – Sociedade Japonesa de Pesquisa em Hipertensão Portal

Objetivo

Padronizar a descrição endoscópica das varizes esofágicas e identificar fatores de risco para sangramento, permitindo estratificação de risco e indicação mais precisa de tratamento profilático.

Critérios

A classificação inclui as seguintes categorias:

1 – Cor 
a) Branca (Cw)- varizes brancas ou com a mesma cor da mucosa;
b) Azul (Cb) –  varizes azuladas, acinzentadas ou arroxeadas.

2 – Sinal da cor vermelha
a) Mucosa em vergão vermelho (red wale marking – RWM): vênulas dilatadas, orientadas com aspecto de marcas de açoite;
b) Manchas em cor de cereja (cherry red spot – CRS): manchas avermelhadas, arredondadas com cerca de 2 mm;
c) Mancha hematocística (hematocystic spot – HCS): pequenas projeções arredondadas de cor vermelha ou arroxeadas com cerca de 4 mm de diâmetro e semelhantes a uma bolha de sangue, geralmente solitária em cordão tortuoso e de grosso calibre;
d) Rubor difuso (diffuse redness – DR): áreas avermelhadas difusas, sem elevações ou depressões.

3 – Forma
a) Forma 1 (F1): varizes retas;
b) Forma 2 (F2): tortuosas, calibre pouco aumentado (menor que 1/3 da luz);
c) Forma 3 (F3): tortuosas, de grosso calibre (maior que 1/3 da luz).

4 – Localização
a) Locus superior (Ls): acima da bifurcação traqueal;
b) Locus medial (Lm): na área da bifurcação traqueal;
c) Locus inferior (Li): terço distal de esôfago.

5 – Esofagite
a) Presente (E+);
b) Ausente (E-).

6 – Locus gástrico (Lg) – prolongamento
a) Ausente (Lg-);
b) Cárdia (Lgc);
c) Fundo (Lgf).

Exemplo (pouco utilizado dessa forma em nossa prática diária):
Varizes esofágicas azuladas, com sinal da cor vermelha presente (cherry red spot e red wale marking) e em grande número, de grosso calibre, a partir de terço proximal, sem esofagite e com varizes gástricas em cárdia: CbRc+(CRS+++ RWM+++)F3LsE-Lgc+ 

Aplicação Clínica

  • Permite estratificação de risco de sangramento varicoso.
  • Orienta decisão sobre profilaxia primária (ex.: ligadura elástica, betabloqueadores).

Referência

Beppu K, Inokuchi K, Koyanagi N, Nakayama S, Sakata H, Kitano S, Kobayashi M. Prediction of variceal hemorrhage by esophageal endoscopy. Gastrointest Endosc. 1981;27(4):213 218. doi:10.1016/S0016-5107(81)72959-0

 

 

 

 

 

 




Neoplasia superficial de esôfago – Classificação Japonesa

 

Em 1993 a Sociedade Japonesa para Doenças Esofágicas criou a classificação abaixo :

 

Neoplasia superficial do esôfago compreende a lesão cujo aspecto morfológico sugere acometimento das camadas mucosa e submucosa, sem infiltração da muscular própria, independentemente se há ou não comprometimento linfonodal. No Japão convencionou-se denominar as lesões superficiais de tipo 0, em referência à classificação de Borrmann para tumores gástricos avançados. Como visto na tabela acima existem três subtipos de lesões superficiais: protuso (tipo 0-I), plano (tipo 0-II) e deprimido (tipo 0-III).




Siewert – lesões neoplásicas da junção esofagogástrica

 

A classificação de Siewert é utilizada em adenocarcinomas da junção esofagogástrica.

É de grande utilidade para guiar a conduta cirúrgica (esofagectomia subtotal versus gastrectomia total com esofagectomia distal)




Padrão de alças capilares intrapapilares (IPCLs) avaliadas através do NBI

 

Essa classificação baseia-se nos capilares intrapapilares da mucosa sob a luz do Narrow Band Imaging (NBI) e sua avaliação pode predizer a presença de neoplasia.

 

Essa classificação, entretanto, devido à multiplicidade de critérios envolvidos, foi considerada confusa pela grande maioria dos endoscopistas japoneses, limitando sua aplicação em larga escala. Por este motivo, a Japan Esophageal Society (JES) desenvolveu uma classificação simplificada para a magnificação endoscópica no diagnóstico do CEC esofágico superficial. Para ver detalhes dessa nova classificação clique aqui.




Esofagite por cândida – Wilcox

 

A classificação de Wilcox avalia o grau de acometimento do esôfago pela infecção por cândida. Foi criada por WILCOX; SCHWARTZ em1996.

I

II

                                           IV