Hemorragia Digestiva Alta de Tumor Metastático em Estômago

Hemorragia digestiva alta de origem tumoral é um verdadeiro desafio para o endoscopista.

Não há conduta estabelecida nesta situação e os poucos trabalhos abordando o tema apresentam casuística pequena, com índices de ressangramento variando bastante (17-80%).

O caso apresentado neste vídeo demonstra a aplicação do plasma de argônio em paciente com HDA oriunda de metástase de tumor de células claras de rim para o estômago. Foi utilizado FORCED APC com potencia de 70W e fluxo de 2L/min obtendo com aspecto hemostático final.

Em estudo realizado no ICESP durante um período de 9 meses, 25 pacientes com sangramento de origem tumoral foram tratados com APC. Hemostasia inicial foi obtida em 68,7% dos casos e o ressangramento em 30 dias foi de 33%. Destaque para a alta taxa de mortalidade em 30 dias (20,8%).

Não existe conduta de consenso nessas situações. Estudos na literatura descrevem séries de casos utilizando APC, laser, termocoagulação com heater probe, injeção de álcool e até cianoacrilato. Nenhuma terapia provou superioridade. Não fazer terapia endoscópica também é uma opção. Mais recentemente o uso de Hemospray® tem sido descrito em casos de sangramento de tumores, no entanto, estudos comparativos ainda não foram realizados comprovando sua verdadeira eficácia.

1. Heller SJ, Tokar JL, Nguyen MT, Haluszka O, Weinberg DS (2010) Management of bleeding GI tumors. Gastrointest Endosc 72:817–24. doi: 10.1016/j.gie.2010.06.051




Tratamento endoscópico do divertículo de Zenker

Paciente masculino, 76 anos com quadro de disfagia alta para alimentos sólidos e pastosos, progressiva, há cerca de 1 ano. Acompanhada de halitose, tosse seca, salivação excessiva, regurgitação e emagrecimento de 10 kg no período. A realização do esofagograma e da endoscopia digestiva alta diagnosticaram Divertículo de Zenker, com septo medindo cerca de 2,0 cm. A investigação complementar descartou neoplasia do TGI e de outros sítios, sendo indicada a diverticulotomia endoscópica.

O procedimento foi realizado com o endoscópio flexível padrão, e auxílio do diverticuloscópio flexível. Para o corte do septo utilizamos o Flush Knife com corrente de corte pura de 30W, com início da incisão no topo do septo e progressão distal e verticalmente até a dissecção de cerca de dois terços do septo. Ao final colocado 2 clipes metálicos na base da área cortada, e passada a sonda de alimentação por visão endoscópica. Paciente recebeu antibioticoterapia profilática com Ceftriaxone, e progressão a cada 2 a 3 dias do jejum até dieta sólida, com alta na primeira semana de internação sem intercorrências. O paciente retornou após 1 mês em consulta ambulatorial assintomático.

O divertículo de Zenker mesmo pequeno pode ser muito sintomático. O uso do diverticuloscópio flexível possibilita a exposição adequada do septo e a estabilização do aparelho de endoscopia para a realização da diverticulotomia. E a colocação de 1 a 3 clipes metálicos de rotina após a diverticulotomia tem sido uma técnica utilizada em alguns centros de endoscopia europeus, e pode estar associada com a prevenção de perfuração após o procedimento.¹

 

Bibliografia

  1. Huberty V, El Bacha S, Blero D, Le Moine O, Hassid S, Devière J. Endoscopic treatment for Zenker’s diverticulum: long-term results (with video). Gastrointest Endosc. 2013; 77(5): 701-7.



Lesões subepiteliais gástricas

Paciente do sexo feminino de 66 anos, em investigação de quadro dispéptico sem sintomas de alarme há cerca de 2 meses, realizou endoscopia digestiva alta que suspeitou de 04 lesões subepiteliais (LSE) gástricas. Em complementação de investigação de tais lesões solicitou-se realização de ecoendoscopia.

A primeira lesão detectada encontrava-se em antro gástrico e a ecoendoscopia demonstrava ser uma lesão de camada submucosa, hiperecóica, compatível com lipoma.

Caso 01-04-15 EUS 1

A segunda lesão detectada encontrava-se também em antro gástrico de grande curvatura, distalmente a lesão anteriormente citada e já a endoscopia convencional demonstrava ser discretamente amarelada podendo sugerir lesão lipomatosa. A ecoendoscopia observou-se outra lesão de camada submucosa, hiperecóica, também compatível com lipoma.

Caso 01-04-15 EUS 2

A terceira lesão detectada consistia de um abaulamento entre fundo e corpo gástrico de parede anterior para grande curvatura, com mucosa de aspecto normal que a ecoendoscopia revelou ser na verdade uma compressão vascular.

Caso 01-04-15 EUS 3

A quarta lesão observada localizava-se em fundo gástrico, e a ecoendoscopia demonstrava ser uma lesão hipoecóica originária da camada muscular própria, medindo cerca de 7mm que pode corresponder entre as principais hipotéses a leiomioma ou tumor estromal (GIST). Diante de tal lesão, se definiu pelo seguimento clínico-endoscópico da paciente com novo exame de endoscopia convencional em 6 meses para avaliação do potencial crescimento da lesão.

Caso 01-04-15 EUS 4

Discussão:

Esse é um caso clínico ilustrativo que demonstra em um mesmo paciente algumas dos principais diagnósticos diferenciais envolvendo LSE gástricas.

Na grande maioria dos casos as lesões subepiteliais são um achado incidental em exames de endoscopia ou outros exames de imagem e o paciente apresenta-se assintomático.

Embora a endoscopia possa ajudar a diferenciar lesões originadas do epitélio das lesões subepiteliais, a sua capacidade de caracterizar completamente essas lesões com base somente no exame luminal é limitada, incluindo o baixo rendimento das biópsias endoscópicas da mucosa sobrejacente. Nesse cenário o uso adicional de exames de imagem na investigação se mostra importante. Entre eles a ecoendoscopia (EUS) tem grande valor devido a capacidade de associar a avaliação endoscópica, ecográfica e mesmo a capacidade de obter material histológico no mesmo procedimento com o uso de punção por agulha fina.

A ecoendoscopia pode diferenciar de forma confiável lesões intramurais de compressão extrínseca. Quando da avaliação de lesão intramural, pode se determinar o tamanho exato da mesma, sua camada de origem, bem como características morfológicas.

Entre as principais características avaliadas, as lesões podem ser homogêneos ou heterogêneos, hiperecóicas, hipoecóicas ou anecóicas. Massas anecóicas podem ser melhor avaliadas com Doppler para verificar a presença de fluxo de sangue.

Tabela 1. Principais lesões subepiteliais do trato digestivo

Caso 01-04-15 Tabela

 

 

 

 

 

 

Algorítmo sugerido na avaliação e acompanhamento das lesões subepiteliais do trato gastrointestinal.

Caso 01-04-15 Algoritmo

Literatura sugerida:

  1. Hwang JH, Rulyak SD, Kimmey MB. American Gastroenterological Association Institute technical review on the management of gastric subepithelial masses. Gastroenterology 2006;130:2217- 2228.
  2. Hoda KM, Rodriguez SA, Faigel DO. EUS-guided sampling of suspected GI stromal tumors. Gastrointest Endosc 2009;69:1218-1223.
  3. Hwang JH, Saunders MD, Rulyak SJ, Shaw S, Nietsch H, Kimmey MB. A prospective study comparing endoscopy and EUS in the evaluation of GI subepithelial masses. Gastrointest Endosc 2005;62:202-208.

 




Opção de Tratamento Endoscópico de Fístulas do Trato Gastrointestinal

O tratamento com sucesso das fístulas gastrointestinais ainda é um desafio para o endoscopista.  Uma técnica muito utilizada é a aplicação de clipes. Porém, muitas vezes a fibrose adjacente ao orifício fistuloso ou um orifício fistuloso muito  grande impedem um fechamento adequado.  A aplicação de clipes nas bordas do orifício e coaptação com a utilização de um endoloop utilizando os clipes como âncora pode ser uma opção interessante nestas situações.
 




Colite por Clostridium difficile simulando doença inflamatória Intestinal

Paciente do sexo feminino, 60 anos, apresentou em setembro de 2013, dores abdominais recorrentes, com diarreia sem produtos patológicos, associado distensão abdominal e flatulência excessiva. Teste respiratório com lactulose positivo para Supercrescimento Bacteriano do Intestino Delgado. Realizado tratamento com ciprofloxacina com melhora dos sintomas.

Em janeiro de 2014 houve retorno dos sintomas anteriores, sendo realizado novo ciclo de ciprofloxacina associado a probiótico com boa resposta. Após a suspensão do antibiótico evolui com piora do quadro de diarreia com presença de muco e queda do estado geral.

Colonoscopia

Realizou colonoscopia que demostrou as imagens abaixo:

 

Fez uso de mesalazina por suspeita de Doença Inflamatória Intestinal. Mesmo assim teve piora do quadro, surgindo com pequenos episódios de hematoquezia. Como não houve melhora do quadro com mesalazina foi suspeitado de infecção por clostridium. Realizada nova colonoscopia evidenciando pancolite com atividade intensa no cólon esquerdo, com presença de erosões e úlceras rasas, friabilidade da mucosa e focos de fibrina aderidas a mucosa.

colite pseudomembranosa

Apesar do especto na colonoscopia não ser tão típico da colite pseudomembranosa, a pesquisa fecal da toxina A e B para clostridium foram positivas. A paciente foi tratada com metronidazol (400mg 8/8hs por 28 dias) com boa resposta clínica. Colonoscopia de controle ao final do tratamento evidenciou resposta completa do quadro.

 

Discussão:

Clostridium difficile é uma bactéria anaeróbica gram-positiva, formadora de esporos, que se encontra amplamente no meio ambiente responsável por diarreia infecciosa e colite pseudomembranosa com significativa morbimortalidade.

A exposição prévia a antibioticoterapia é considerada um fator maior para o desenvolvimento da doença. A presença de comorbidades, como por exemplo, doenças neoplásicas (principalmente hematológicas), distúrbios gastrointestinais e estados de imunossupressão, são fatores de risco para a infecção adquirida na comunidade (67% dos casos). Importante destacar que nem sempre os fatores considerados como de risco estão associados ao desenvolvimento da doença. Foi comprovado que metade dos casos de infecção adquirida na comunidade não tinha exposição prévia a terapêutica antibiótica no mês anterior e cerca de 1/3 dos casos não tinha exposição hospitalar recente.

A colite por Clostridium difficile deve ser suspeitada em pacientes com quadro diarreia crônica mesmo em pacientes ambulatoriais e que não possuem os fatores de risco clássicos como internação hospitalar ou uso de antibióticos previamente.   Em pacientes com diarréia crônica e suspeita de Doença Inflamatória intestinal deve-se investigar colite por Clostridium difficile como diagnóstico diferencial

Em cerca de 10% dos pacientes não é possível fazer a diferenciação entre colite e uma doença inflamatória intestinal, sendo esses classificados como colite indeterminada.

Fatores de risco para diferenciar Colite por C. difficile de Doença Inflamatória Intestinal:

  • Mulheres tem o dobro de chance quando comparadas com os homens
  • Primavera e verão tem maior incidência de infecção por clostridium
  • Internação prévia por um intervalo de 3 a 12 meses (29% dos casos)
  • Uso de antimicrobiano durante 3 meses anteriores aos sintomas (68 % dos casos)

 

Bibliografia

Kristin E. Burke and J. Thomas Lamont. Clostridium difficile infection: a worldide disease. Ut Liver. Jan 2014; 8(1): 1-6.232

Kazanowski, S. Smolarek, F. Kinnarney, and Z. Grzebieniak. Clostridium difficile: epidemiology, diagnostic and therapeutic possibilities – a systematic review. Tech Coloproctol. 2014; 18: 223-232.

Odze RD. Pathology of indeterminate colitis. J Clin Gastroenterol. 2004 May-Jun;38(5 Suppl 1):S36-40.2009

A. Adalja, MD. C. Difficile in the Community Setting. November 23, 2009.

M. Xavier. Clostridium Difficile: Uma infecção emergente na comunidade. Mestrado Integrado em Medicina. Faculdade de Medicina. Universidade de Porto.