Tumor neuroendócrino retal bem diferenciado: o impacto do tamanho do tumor sobre a história natural e resultados terapêuticos

Em estudo retrospectivo publicado em julho de 2014 na revista Gastrointestinal Endoscopy os autores avaliaram o prognóstico e a sobrevida de tumores neuroendócrinos bem diferenciados de reto em relação ao tamanho da lesão em sua apresentação inicial.

Dos 87 pacientes avaliados, 66 apresentavam tumores menores que 10mm, 6 apresentavam tumores entre 11-19mm e 15 apresentavam tumores maiores que 20mm. Destes 87 pacientes, 75 foram tratados conforme seu estadiamento clínico, com ressecção local endoscópica ou cirúrgica.

Ao diagnóstico inicial, dos 87 pacientes, 17 pacientes já apresentavam metástases, 2 (3%) do grupo com tumor menor que 10mm, 4 (66%) do grupo com tumores entre 11-19mm e 11 (73%) do grupo com tumores maiores que 20mm.

Os 70 pacientes que não apresentavam metástases ao diagnóstico foram tratados conforme seu estadiamento. Destes 70 pacientes, 55 (79%) foram seguidos por um período de até 78 meses, sendo que 6 apresentaram metástases neste período.

O estudo sugere que lesões maiores que 10mm possuem agressividade semelhante das lesões maiores que 20mm e por isto deve ser vistas e tratadas de forma forma mais agressiva.

A crítica ao estudo foi sua realização reprospectiva, a ausência de marcadores imuno-histoquímicos no estadiamento de todos os casos, estimativa subjetiva do tamanho do tumor, uma conduta de tratamento não uniforme variando entre as técnicas endoscópicas e cirúrgicas aplicadas e a não padronização dos exames (Tomografia, Ressonância magnética ou Ecoendoscopia) para o estadiamento e seguimento após intervenção local.

 

Referência:  Gleeson FC, Levy MJ, Dozois EJ, Larson DW, Wong Kee Song LM, Boardman LA. Endoscopically identified well-differentiated rectal carcinoid tumors:impact of tumor size on the natural history and outcomes. Gastrointest Endosc. 2014 Jul;80(1):144-51. doi: 10.1016/j.gie.2013.11.031. Epub 2014 Jan 23.

Link para o artigo original: http://www.giejournal.org/article/S0016-5107(13)02627-8/abstract




Comparação do uso de pinça de coagulação versus coagulação com plasma de argônio no tratamento da úlcera péptica hemorrágica – RCT

úlcera e apc

A hemorragia digestiva alta (HDA)  é uma patologia frequente na prática clínica e associada a uma significativa taxa de mortalidade.  A úlcera péptica é a causa mais frequente de HDA, sendo responsável por até 50% dos casos.

O  tratamento endoscópico é a terapia de escolha.  Entre as técnicas endoscópicas dispomos  da  injeção de substâncias , coagulação térmica ou elétrica e dispositivos de hemostasia mecânica.

A utilização de clipes ou terapia térmica de forma  isolada ou em combinação com técnicas de injeção são superiores à injeção isolada na prevenção da recorrência do sangramento, porém,  não há diferença aparente  entre o uso de clipes e terapias térmicas.

A coagulação com  plasma de argônio (APC)  é uma técnica bastante utilizada.   Vários estudos demonstram que os resultados com a utilização do APC são similares às outras técnicas de coagulação térmica em relação às taxas de hemostasia e  ressangramento.

A utilização de pinça de coagulação (forceps coagulation)  surgiu como mais uma alternativa para o manejo das úlceras hemorrágicas. A hemostasia utilizando pinça de coagulação  com bisturi elétrico em modo soft coagulation é utilizada há bastante tempo no manejo de sangramentos durantes as dissecções endoscópicas da submucosa (ESD),  mas recentemente a sua utilização em úlceras hemorrágicas tem  demonstrado bons resultados.

Este estudo  randomizado e controlado realizado na Kyung Hee University, Seoul, Korea comparou  o sucesso na hemostasia inicial, taxas de ressangramento e mortalidade em pacientes com úlcera péptica  hemorrágica tratados com injeção de adrenalina + APC (APC)   e injeção de adrenalina + pinça de coagulação (FC).

Foram avaliados 75 pacientes no grupo APC e 76 pacientes no gurpo FC. A hemostasia inicial foi obtida em 72 pacientes (96%)  e 73 (96%) respectivamente.  Nos casos em que não se obteve hemostasia com o método inicial um segundo método (clipe ou outra terapia térmica) foi aplicado, obtendo hemostasia endoscópica inicial em todos os pacientes.

A presença de ressangramento nos primeiros  7 dias foi observada em 4 pacientes (4%) no grupo APC e  5 (6,6%) no grupo FC (p=0,719). Ressangramento nos primeiros  30 dias foi observado em 5 pacientes  (6,7%) e 7 pacientes (9,2%) no grupo APC e FC respectivamente (p 0,563).   A taxa de mortalidade também não apresentou diferença entre os grupos( 2,7% APC e 2,6% FC).

A terapia com APC pode ser utlizada com segurança no controle da hemorragia por úlceras pépticas. É uma técnica de coagulação sem contato e tem a vantagem de poder ser utilizada em posições tangenciais, particularmente nas úlceras na pequena curvatura da parede posterior, onde a aplicação de clipes pode ser difícil.

A pinça de coagulação já tem sido usado com frequência no Japão para o tratamento de úlceras hemorrágicas. A vantagem da utilização deste método  inclui a facilidade na utilização, possibilidade de pegar diretamente o vaso sangrante e direcionar a coagulação para uma área bem delimitada.  Além disso a coagulação com pinça é realizada sem carbonizar o tecido adjacente  devido ao uso de “soft coagulation” que  faz com que a voltagem se mantenha sempre abaixo de 200 v.

Este estudo demonstrou que as duas opções são bastante efetivas e  não há diferenças na taxas de hemostasia, ressangramento e mortalidade entre as 2 técnicas.

Bibliografia

Jung-Wook Kim, Jae Young Jang, Chang Kyun Lee, Jae-Jun Shim, YoungWoon Chang. Comparison of hemostatic forceps with soft coagulation versus argon plasma coagulation for bleeding peptic ulcer – a randomized trial. DOI http://dx.doi.org/10.1055/s-0034-1391565  Published online:2015  Endoscopy

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